Diz-me: que queres saber de mim e
dir-te-ei incontinênti e com o máximo de honestidade que posso.
Posso mesmo assim continuar te dizendo o
que penso de ti?
Do jeito que falaste, em tom de advertência,
me senti terrivelmente indiscreto, estarei passando dos limites?
Me desculpa, é que me atrapalho com essas
noções de autocontrole. Cedo ou tarde acabo chutando o balde. E a barraca. Espero
que no teu caso isso venha a ocorrer o mais tarde possível.
Tenho escrito um monte de coisas sobre
ti, para consumo próprio. Se preferires, posso prosseguir caladinho no meu
canto te estudando sem te causar importunos com os achados das minhas pesquisas sobre a minha nova
flor.
Ah menina, sou tão viciado em fantasias,
caminhões, trens, navios abarrotados delas, vivo em delírio quase constante,
quando não fantasio me dá um vazio que me suga do avesso.
Por conseguinte, queria te alertar, outra
vez: não me leva a sério demais.
Não, não que eu vá te dizer mentiras.
Isso já te alertei. Mas é que meu humor varia
mais que relatório de sismógrafo na Indonésia em dia de tsunami. Quando eu
disser bobagem além do razoável, promete que farás de conta que estás diante do
versinho mais encantador que jamais viste na tua curta vidinha de fada? Não
deve ser tão difícil, imagino, pra alguém tão gozosa.
Estás curiosa a meu respeito? Ai que
lindinha.
Então serás a primeira ninfa que jamais
se interessou por este carrancudo barbudo com cara de mau e alma negra.
Estou tão acostumado a gerar aversão nos
outros. Mas isso na certa já percebeste desde meu primeiro parágrafo. Há
décadas desisti de parecer minimamente cativante. (Promete: vais fazer uma
forcinha pra que este "relacionamento" prospere pelo menos mais um
dia? Me frustro tanto quando afugento com meus maus modos, minha patetice,
minha verborragia abestalhada alguém que me tenha arrebatado.
Para fins de contabilidade amorosa, posso
já adiantar algumas informações a meu respeito:
índice de carisma: zero absoluto.
Grau de pessimismo: mil.
Teor de toupeirice: máximo.
Jeito pra viver, sobreviver, amar, ser
amado: nihil.
Mas por ti sou, juro, capaz de mudar. Te
disse que sou capaz de tudo, não disse? Sou sim.
Tinhas razão, a diferença entre o veneno
e o remédio está na dose.
Inocula em mim todo teu veneno. E então me
dá uma gota do teu antídoto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário