Pré-consciência da nossa fragilidade

Em entrevista para a Paris Review, James Salter diz que precisava de solidão total para escrever. Se permitia fazer anotações e sinopses em trens e bancos de parques, mas na hora da composição geral não deixava por menos que solidão absoluta. E completa: “De preferência, com a casa vazia”.
Que inveja. Presumo que a casa vazia incluísse, além da solidão completa, silêncio imperial que propiciasse serenidade e uma distância segura de ruídos que pudessem interferir em sua percepção do mundo.
Vizinhos. Para que servem vizinhos?
Acho que sei a resposta. Para impedir que alcance a solidão imensa a que aspiro.
Aquele sentimento de solidão que devo ter atingido apenas duas ou três vezes em minha vida, aquele sentimento de solidão em que me deixei tomar pela soberba de pensar que era afetivamente autônomo e não precisava de absolutamente ninguém, sequer um pontinho indistinto longíquo no horizonte.

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