Uma das coisas que me deixam encasquetado
é citação de poetão.
Desde meus 10 aninhos me amarro no barbão
do Walt Whitman. Papai era tão glabro quanto Roland Barthes segundos antes de
virar carne moída sob as rodas daquele furgão de lavanderia. Deliro
testemunhando um françois alienado de suas teorias estapafúrdias enquanto é
massacrado pela verdade do mundo.
Eu mesmo um dia serei atropelado, estou
certo. Não por um carro de combate vendido pelo Putin ao zé dirceu no grande
levante das massas contra a inteligência e a sensatez mas prosaicamente por um
Jeep coreano desgovernado sob as patas de unhas pintadas duma mãe com pressa de
deixar a pirralha mimadinha na escola onde professores mambembes ensinam crianças
alheias como levar no rabo fazendo de conta estão bebericando champanhe ao lado
do príncipe Carlos numa barca deslizando suavemente pelo Sena neste mais longo
dia do verão parisiense.
Será mesmo verdade que vocês hoje aí fora
são mais de 7 bilhões de bípedes dizendo exatamente a mesma coisa em múltiplos
idiomas enquanto teclam os mesmos botões e recostam no mesmo sofá enquanto
tentam sufocar a mesma repulsa e aspiram pelo mesmo destino?
Custa-me saber.
Como todos vocês sabem, sou um frustrado,
neurótico, priápico, agnóstico e com a perna esquerda ligeiramente mais
comprida que a outra, como todo escritor que se preze.
Desde a mais precoce idade sonho em
abafar nos salões literários da minha terra, quando minha terra ainda tinha
salões literários. Hoje me conformo em sonhar em abafar neste blog pelo menos.
Venho escrevendo por aqui há exatamente seis
anos e ninguém e sua vizinha dá a mínima.
Assombrado com a falta de feedback, matutei
uns 2 segundos e concluí que foi porque nenhum de vocês entendeu a jogada.
Então explico: minha intenção era fazer piadinhas com, por exemplo, essa mania
do google em nos corrigir quando digitamos um termo de busca e não obtemos
nenhum hit. Como também sabem, o google tem esse horrendo costume de achar que
fazemos todos parte dum colossal rebanho humano de jegues. Ao que parece não
passa na cabeça do Larry que pode haver no meio da manada um ou outro indivíduo,
dotado da respectiva carga de pessoalidade, características únicas,
idiossincrasias e escova de dente cor-de-rosa.
Como já expliquei em dezenas de postagens,
meu maior sonho é me tornar um escritor bem-sucedido e paparicado nas
comunidades virtuais, quem sabe até virar uma referência da literatura universal
atual. Sei que vocês debocharão, fazendo aquele gesto típico de desmunhecar
derrisoriamente. Mas, em que pese que sim, haverão de admitir que se trata duma
pretensão legítima. Afinal nós escritores vivemos botando banca de sabidos,
eruditos, criadores e o cacete mas o que buscamos no duro é que nos olhem com
admiração e até mesmo uns laivos de inveja. Eu pessoalmente gostaria muito de
sair incógnito pelas ruas aqui no meu bairro só pra 5 minutos depois ter um
bando de fãs me perseguindo, estendendo bloquinhos de coleção de autógrafos em
minha direção e suplicando um segundo deste meu penetrante olhar de gavião
ensandecido.
Agora, imagine-se cuma Contigo nas mãos,
a fotonovela (lembra?) se chama A preferida
do padre que nasceu um século antes da internet.
Imagine ainda que minha vodka está no fim
mas não tanto.
E, Gott, imagine que nossas vidinhas não
têm nada a ver com que nossos cerebrozinhos imaginam.
Sou um constante adolescente
Suplicando que os adultos e o mundo que
os adultos manejam
Me deixem entrar pelo menos alguns
minutos (pois alguns minutos seriam suficientes) e então a fugacidade que
planejei para mim e minhas coisas (minha vidinha inclusa) me bastaria.
Como todo intelectual digno do nome, Gore
Vidal extravasava dos clichês em que os mais estúpidos e menos inconformados em
geral se escondem para não pensar com verdadeira independência. O esporte
preferido de GV era enfurecer direitistas e esquerdistas, doidivanas e reaças,
héteros e ateus (sic) ao bel prazer, sem passar telegrama nem recibo. Um
sujeito como GV aparece neste planeta só a cada meio século, para sorte dos
diversos matizes de patrulheiros. Não temos um GV no Brasil desde... desde o
século 16, acho.
Vejo daqui de dentro e de baixo do que me
restou de órfão emotivo a sôfrega corrida dos expositores de currículos por
estamparem em suas paredes caiadas de restos de latas de tinta látex as
infaustas glórias que seus papai e mamãe sonharam para eles durante aquele
sofrido coito no, como gostam de optar os clichês de Holliwood, banco traseiro
do Buick e que, pra nós aqui abaixo da democraia do Chávez, se dá quando muito
encima da pilha de caixas de cervejas no fundo do buteco imundo nas cercanias
da V. Madalena.
Estou chegando à bebedeira e deliberando
por permanecer por aqui mesmo. A grande questão que nos recusamos a encarar é
se tudo não passa duma grande perda de tempo. Sem falar nessa mania de tomar banho
todo santo dia como se fôramos baiacus. Daonde virá essa necessidade de contato
com os elementos? Faz 5 milhões de anos que deixamos a vida aquática. Ai que
falta de ar. Não seria mais aconselhável ficar numa poltrona bem seca, nas mãos
um livreco igualmente seco, ruminando o gosto amargo destes dias e noites que
não passam? Pelo jeito só consigo arrancar de vocês alguma info digna de
registro quando dou umas estocadinhas no meio do nervo letárgico. Não vão
reclamar depois.
Estou escutando Angel do Hendrix. Auge.
Spurt.
Deus, onde estás que não me escutas?
Preciso duma epifania.
Vejam. Fazer literatice não é tão foda
afinal. A há à farta por aí em blogs de pessoas sérias e compenetradas das
miçangas da vida.
Esta preguiça me mata.
Merda, por que as mulheres têm de ser tão
pragmáticas? Só pensam em procriar.
Umas pessoas havia de cujas almas apenas
uma porta de imbuia e dois metros me apartavam. Quão longa, intransponível era
essa distância. Hoje sei que posso fingir que não e sim. Tinha em algum lugar
algum conceito de completude vazia que me bastava. Não era fingimento, veja.
Passei a fingir anos depois quando aceitei a hegemonia do mundo. Foram longos
anos. No início pensava que sairia ileso. Hoje nem imagino quantos monstruosos
danos tive de aceitar na negociação.
Me disseram que psicólogos e psicólogas
pesquisam o google antes de aceitar marcar a entrevista inicial com um
potencial paciente / cliente, sei lá.
Deu pra sacar?
Se você andou aprontando além do aceitável
por aí, pode pendurar as chuteiras.
De minha parte, eu não seria aceito nem
no Charcot, na via Anchieta onde já fiz tratamento, como sabem os que leem atentamente
meus escritinhos.
Anyway, não corro tal perigo. Já tive
provas cabais de que não há terapia na literatura humanista que dê conta do meu
ser.
Eu sou foda. Os internos zanzando pelo
pátio do Charcot são foda.
Amanhã, se não estiver derrubado como
estou hoje, tentarei lhes contar por que é que a literatura não cabe em
pequenos blogs formigando de crianças que sonham em escrever o grande romance
do século 21 num banco do McDonalds.
Já fui acusado de sofrer os efeitos do
tempo dezenas de vezes. O mais patético: por gente que se arma de ares literários
com seus narizinhos empinados querendo posar de gostosões.
Obviamente os mentecaptos jamais leram
uma linha sequer de quem quer que seja que tenha algo a dizer sobre a natureza
humana na literatura mundial. De certo jamais leram Shakespeare. A obra do
Bill, eivada de centenas de personagens anciãos, daria nesses energúmenos
torcedura de nariz.
Imagine um Rubem Fonseca que, por um
sonho de inverno, viesse postar num desses fórus entupidos de teens. Seria
escorraçado pelos intolerantes menores de idade que não fazem a mínima ideia das maiores
injunções da vida e, inocentes, se pensam capazes de impor a ditadura da
juventude sobre todos os seres.
Então imagine cada um dos maiores
escritores da humanidade e a idade em que morreram e imagine, ao lado de cada
um deles, um bostinha adolescente lhe ensinando que suas datas de validade já
eram.
Por essa e muitas outras adolescentes
cheios de empáfia me dão nos nervos. Não toleram que um sujeito como eu possa se
expor da forma inconsequente como me exponho. Provavelmente eu os assuste.
Pois, porra, que sentido há em fazer literatura
e opinar sobre a literatura e sobre os homens e mulheres que a fazem sem
assumir sua pessoalidade?
Pois, em meio à fulanização proporcionada
pela internet, a individualidade hoje em dia vale ouro.
Judiciário coisa e tal, identidade
pública na rede, risco de se envolver em quiproquós, risco de afetar o
currículo e a carreira, perigo de manchar a reputação, quem sabe daqui uns anos
levantam lá o teu prontuário, você se portou “inadequadamente”, frio na
barrigona que começa a intumescer de cerva, a fuzarca internáutica afinal não
vale tanto a pena assim, não é? Melhor voltar para a minha moita, hehehe....
Sempre que vejo um escritor ou poeta
pedindo opiniões alheias me ocorrem As
cartas trocadas entre Rilke e o jovem poeta Kappus. Esgoto o que penso a
respeito em De anjos, ratos e outras pragas.
N'As
cartas você encontrará tudo de que precisa para escrever.
Ou melhor, não encontrará nada.
Como escritor/poeta, você tem de conformar
com sua solidão. E desistir das milhões de convenções sociais que brotam ao seu
redor a cada segundo. Senão, deixará de ser você e passará a ser todos.
Não seja todos.
Não seja eles.
Seja você.
Não é moleza ser você.
São oito bilhões de fulanos, sicranos e
beltranos lá fora contra um só você. A briga é desigual. Você não terá chance
se não se assumir como um ser especial e único, sem molde, averso à linha de
montagem, disposto ao próximo passo apenas se o caminho for seu e de mais
ninguém.
Escritores e poetas são antípodas de
carimbadores constantemente afoitos para distribuir suas etiquetas, regras e
normas.
Não vou dizer que é preciso ter coragem.
É preciso ter coragem.
Eu, particularmente, estou ainda vivo
porque não a tive.
Lamento cada dia desde então.
Se você se acha predestinado a virar uma
estrela com brilho próprio e não apenas reflexo do Sol, talvez um dia precise
se incendiar.
Sei, machos bocejantes dão sono em suas
fêmeas. You had it coming.
As mulheres tão precisadas dum paulão em
suas vidinhas insossas.
Quem não?
Eis um dos segredos dela, vida.
Certa feita, 13 aninhos, fiquei
esperando.
E ali na fila pude enxergar sua tecitura.
E silenciei, até pra mim mesmo — era vida
demais para um ser irresoluto de querer viver.
Quer que te agradeça? Obrigado. Mudou
alguma coisa?
As partículas que me compõem são só
minhas e a elas devo minha atualização.
Spit.
Por que meu uísque é tão perfumado?
Acho que acabei de compreender a alma
russa.
Se vomitar durante a madrugada, ofertarei
meu vômito a vocês.
Pego aleatoriamente um livro da obra
completa de Borges em minha estante e abro aleatoriamente numa página qualquer
e leio aleatoriamente um parágrafo e me assombro e me professo pela enésima vez
agradecido e reconhecido da existência de homens como Borges que nos elevam um
tico que seja da mediocridade e não é um sociólogo numa entrevista em que deixa
demonstrado que a palavra não é seu forte que vai abalar 1 mm que seja o que
aprendi até hoje sobre homens pequenos e grandes homens.
Estou procurando alguém capaz de discutir
criação literária e artística cum mínimo de competência que não seja inapto
para ir além de citações previsíveis dos medalhões do mundo ou das piadinhas
sórdidas ou do protocolar confortável.
Vou dar uma dica, gasto grande parte do
meu tempo atacando as pobres ovelhinhas indefesas eternamente a proteger suas
bucetinhas virgens dos monstruosos cacetões que rondam a noite lá fora à
procura dum cabacinho inermemente doentio, acordem antes que seja tarde, já é
tarde, será tão difícil de enxergar? vomitando minha verve aqui pruns covardes acossados
atrás da porta da calhorda da Elis e do vivaldino do Chico escritor parisiense,
ontem à noite mamãe voltou do além pra me puxar a orelha, nenê! (me chamava de
nenê a carcamana, sei, tá explicado, caralho, que exaustão dos vermes nascidos
para apascentar galinhas, paixão paixão paixão me redima me abduza toque o
acorde inicial da minha vida estou a ninar quantos surdos existem neste
planeta? eis a conta incalculável.
Boa escrita, cúspite! que significa isso?
não se deseja isso nem mesmo a quem se pretende escritor. Little Rose, quando casada
com Philip Roth, ao sair para a feira onde ia comprar as castanhas de caju de
que Roth é aficionado ainda hoje, nunca dizia “Phil, boa escritura!” (pois é
assim que se deveria dizer isso se isso pudesse ser dito a qualquer escritor
que fosse, quer fosse pretenso ou já realizado), pois Little Rose sabia que
correria o risco de levar uma maquinada de escrever no meio da fuça (Roth escrevia
e sempre escreveu com máquina de escrever antes de se aposentar, são pitorescos
esses geniozinhos literários). Você desejar a um escritor — e quando digo
escritor me refiro a um bom escritor — o que quer que seja — seja um prosaico “bom
passeio”, ou um cafonérrimo “boa escritura” — é desconhecer de cabo a rabo do
oiapoque à marilena chauí what writing is all about.
Parafraseando Clemanceau e seu “a guerra é séria demais para ser
deixada aos militares”
Parafraseando Delfim e seu “a economia é
séria demais para ser deixada aos economistas”
Parafraseando Nietzsche e seu “a música
de Wagner é séria demais para ser apresentada no casseta e planeta”
Devo dizer que sou sério demais para ter
sido criado por uma mulher como mamãe.
Não visitem meu blog literário porra
nenhuma.
Não quero, nunca quis, a proximidade de
apaixonadinhos vocacionados para edulcorar a aspereza do meu mundo, de libélulas
prostitutas sempre prontas a eletrizar o cadaverismo de seus papais e mamães
diante do aparelho de TV na noite de sábado torcendo para que o cemitério de
domingo nunca se consume e todas essas nossas experiências não tenham passado
dum pesadelo do qual acordaremos quando morrermos, que lixo este universo em
que nasci.
Pra mim a razão sempre foi, desde meus tempos
de 40 cm de altura, que nossas famílias são mais ou menos especiais. Ia alegar
outro fundamento mas acho melhor deixar pra depois. Não vejo lá estreita
ligação entre uma família e outra. Nesta primeira etapa da investigação devemos
nos ater aos elementos internos 3 pontinhos.
Puta que pariu, tem noite parece que minha
genialidade não tem fronteiras, dá até medo. Fico pensando, aonde é que vai
parar meu dieu? Pode não ter fim. Não sou um tipo de ser humano lá muito
autoexploratório como soem ser os grandes artistas. Já passei por momentos
particularmente terríveis em que tive a clara impressão de que me seria
impossível retornar. Não, nada a ver com Nietzsche e seu ponto (único) do não
retorno. O próprio Frederico não retornou. Chegou ao cúmulo de ter nojo de
Wagner, pra mim prova incontestável da sua não retornabilidade. Hélas, tudo é
questão de coragem, acho. A maioria dos bovinos pelos rebanhos no mundo no
máximo ousa comprar um carrão arretado ou ler um pensadorzão porque ler pensadorzão é chique e amaina os ataques
agudos à consciência de que somos um bando de animais selvagens querendo comer
o rabo do próximo e da próxima e dar o nosso próprio à próxima ou ao distante. Tudo
é uma grande merda.
Nunca abanaram o rabo pra mim.
Sou um frustrado.
Sabia que “alguém” eliminou o ruído
produzido pelas engrenagens do mundo quando engrenam? Ou desengrenam?
Craaaakkk (será predestinação?)
Imagina o preço de tal intervenção?
Essa bosta está prestes a implodir.
Meu demônio angelical me visitou ontem à
noite e quis saber, onde desejas passar o instante da implosão?
Quer dizer que ainda não aconteceu? I
asked back.
A onomatopeia da desengrenagem do mundo é
dad daddy, eu sou vertical, disse Sylvia Plath quando lhe perguntei se queria
me levar consigo.
Conversa fiada. Depois da novela A
tempestade vem o programa Bonanza (lembra? Little Joe, Ross, Robert).
Minha benóvola Xuquita bateu as asas que
não tinha e nunca teve e voou. Teria sido assim e teria sido tão simples se a
partida tivesse ocorrido dentro do planejado. Mas sou uma anta e nada nunca haverá
de sair conforme o planejado. Pois sou um imbecil abilolado eternamente às
voltas com os entes etéreos que me habitam e CULPA! CULPA! CULPA! não previ o
que estava ali acontecendo na minha própria fuça. Minha santa Xuquita começou a
botar os intestinos para fora e, eternamente aloprado, me limitei a olhar e
liguei, liguei e liguei e não encontrei o miserável do meu vet e recorri à
internet e localizei uma fariseia que procrastinou o sofrimento da minha amada por
um loonnngo dia em que me prostrei abestalhado a testemunhar sua dor. Não posso
acreditar que aconteceu mais uma vez, não quero ter um entezinho destes ever
more, bah, que patético aqui choramingando pra desconhecidos esfomeado de
compaixão, suplicando aos inexistentes deuses que pelo menos uma vez me
permitam a graça da crença, jesus, não é assim, meu querido, mantenhamos a
compostura das aparências, minha Xuca se ergue no meu céu batendo as asas que
lhe dei e fôdasse, tá certo agora? que vidinha de vermes é esta que vamos
levando, cuspe!
Sou o demônio filho da puta sob 60º graus
de febre sifilítica e efeito de 482 garrafas de uísque de terceira que escreveu
isto: Um escritor sem assunto na
esperança de que um dia alguém cum mínimo de sensibilidade literária e
indiferente ao aprendizado de suas professorinhas mortas de intactabilidade dos
cabaços de ouro do papai, que mundo asqueroso esse dos diletantezinhos líricos
horrorizadinhos com a falibilidade desta bosta de raça, seus indolentes sob o
luz fedida deste sol doentio, fôdanse todos e a cabeleleira da tia alzira.
Sabe, um dia fui apaixonado por uma
menina chamada Marina.
Não lembro direito minha idade. (Note o
tom altivo e vagabundo do New Criticism.)
Puta merda, não me lembro nem da Marina.
Não vá cair da cadeira de tanto rir. É
foda, eu sei. Porém também sinto saudade do beijo que nunca lhe dei. Pobre
Nelson, a branquinha não caiu bem na carreira dele.
Lá se vão mais de 50 anos e então não
tinha a mais ínfima desconfiança de que estaria aqui na internet, quase 11 da
noite, a rememorar a vaga e oblíqua figura de Marina.
Oblíqua? Não, não conjeturava então que
tais tipos de adjetivos pudessem vir boiando na crista da enxurrada que acabou
de varrer a rua aqui em frente.
Ma, quero lhe dizer que estou aqui, que
não mudei, sou ainda eu mesmo e não, não aprendi ainda a lição dos sentidos da
vida que a nossa fessora quis me ensinar.
Já imaginou quantos paus d’água se afogaram
enxurradas afora antes do advento da internet?
Tô tentando ouvir Bach mas tudo que
consigo é Hendrix. Quero fazer parte duma Cruzada, empunhar um daqueles
espadões de 30 kg que os brutos brandiam diante dos pescocinhos dos mulças.
Quero me alistar na Luftwaffe, pilotar um Tiger de 40 toneladas rumo ao Institulo
Lula.
Me poupe.
U know, eu não saberia mais viver sem este
meu púlpito digital. Amiúde vejo-me assarapantado a pentear os fartos, hirsutos
fios de cabelo da minha imaginação pensando, porra, como é que sobrevivi quase
50 anos sem a divina dádiva dos blogs?
Antes da internet eu sabia que o mundo
era infestado de patetas masoquistas, mas só a internet pôde me presentear com
tão vastas evidências. Vai ter idiota assim em Júpiter.
É por essas e outras que às vezes até me
arrependo de rogar mais celeridade ao encontro com a dona Ceifadeira.
Quem diria, sou um espancador nato e não
sabia.
Não entendo poeta que não bebe, não
entendo poeta que chegue aos 80, entendo que ele não tenha feito poesia sobre o
filho esquizofrênico morto há tempos; acho que estou começando a entender a
poesia e a terei dominado no último instante, deitado (espero que não no
hospital, espero que não recoberto por lençol macio recendendo a vida, pronto pra
viagem), e pedirei que todos (todos? nem nessa hora serei sincero? não há nem
haverá mais ninguém ao meu lado e
estarei conformado, talvez satisfeito, que me basto) se retirem para que eu e
ELA possamos conversar a sós; ELA terá mil coisas a me contar, mas e eu? é
provável que esteja então terrivelmente tímido como sempre fui, zeloso que
estranhos desconfiem dos meus assuntos, possam puxar algum ponto dum fiozinho
de que não me tenha dado conta; e falaria de que afinal? que é que se fala numa
hora dessas a alguém desses? então saberei e evitarei ser frívolo como sempre
sou e conhecerei o sossego que tantos e tantas me mostraram existir e nunca fui
capaz de comprovar por mim mesmo e não estarei mais sozinho.
Você aí com esse narigão torcido olhando
agora pra tela pensando what the fuck, será que deus não deixou nenhuma migalha
pra mim?
A casta superior anda uma tristeza, nem
na época do Adolf a coisa tava tão braba. Até recentemente a gente ainda podia
descolar umas moedinhas perdidas nas proximidades da catraca do busão, do
guichê do metrô, esses locais onde o vulgo costuma deixar o suor de seu
trabalho em troca das misérias que nasceu pra engolir em suas vidinhas de
lombriguinhas otimistas e assanhadas.
São 5 e caceta da matina e eis-me aqui
com estes meus dedinhos irriquietos a restrugir mais um textículo eivado de
engabelo e intrujice que assim que você acordar pra ler aí pelas 10 já terá se
magnificado numa sonata insinuante que na certa enfeitiçará seu tio Nestor e os
fantasmas que vicejam em sua consciência.
Fica decretado que este pedacinho do
inferno digital se prestar-se-á como depósito de pensamentos grandes e
profundos e forrobodós mentais que qualquer mané a se deixar apanhar pela rede
nas madrugadas equivocadas movido pelas turbulências de seu travesso
coraçãozinho tal como este desorientado guarda semovente metafísico que ora vos
estarrece de pompa e beleza poderá servir-se deste nosso abrasível rincão esgotífero
para elucubrar as mais antalógicas sacadas sobre os gênios que pululam neste
planeta ou já se foram ralo adentro.
Humanidade, cagada divina
Sirvam-se, senhoras e senhoritas
Registro mais recente: noite passada, por
volta da dez e trinta, confesso que entrei neste blog para deixar mais um
registro desta minha infeliz existência mas me abstive, pelo que dou graças por
ter-me desencontrado em meu labirinto.
Já que ninguém se interessou e nem sua
manicure entendeu minha piada sobre o ménage entre Lya Luft, Mia Couto e Andrea
Matarazzo, com suaves participações e figurações de Cássia Kiss e Deborah Kerr,
serei obrigado a contar um recente episódio que sofri envolvendo o
pseudoescritor Luiz Inácio de Loyola Brandão certa feita quando ele foi
convidado a servir de paraninfo (notem como evitei “convidado para paraninfo” e
vejam como é que se escreve) em Américo Braziliense, terra natal de mamãe mas
não é isso que vim testemunhar nesta ocasião e sim que acabei de chegar dum
passeio com minha notável Zezeí, maldito amálgama de dobermann com chiuaua,
quando me dei conta sem querer que o entregador de carne estava entregando num
prédio aqui da vizinhança e o entregador de água estava entregando num outro
prédio aqui da vizinhança e o entregador de pizza não estava entregando em
nenhum prédio aqui da vizinhança porque são apenas 10 da matina e aparentemente
ninguém aqui da vizinhança come pizza a esta altura da manhã e o entregador de
correspondências estava entregando e o entregador de coca-cola e o entregador
de gás e o entregador de jornal e o entregador de farinha e o entregador de
panfletinhos do novo buteco que abriu ali na esquina quando me dei conta sem
querer que entre tantos entregadores faltava o entregador.