Devorar-se não é para os saciados
Requer um apetite fantasioso que não está
na glândula salivar
Veneno protéico que não está nas frutas,
nos peixes, nas aves, na água ou no ar
Requer a sede incalculável dum oceano
Atlântico com todos seus navios e todos seus náufragos e cada uma de suas ondas
A substância do planeta, a oleosidade dos
poços de petróleo, a espuma dos copos de cerveja gelada e da urina quente que a
terra absorve
Que aquele que se devora se disponha a
tornar-se seu próprio predador
Requer a volúpia que do autocorpo reste
só os autoossos e da autoboca só os autodentes (que também não hão de sobrar,
se o autopredador for sincero)
Mas há algo que aquele que se devora não
pode ter:
Memória