Tudo bem, tô me sentindo cafonão.
Podia fazer um autodeboche com o título
desta página mas não funcionaria, estou certo. É ensebado demais mesmo para um
prisioneiro da irreverência feito eu e mesmo para uma autoironia. (Tem hífen?
Não importa. Gosto de autoironia sem hífen.)
Mas, pombas, não posso prosseguir
postando minhas mazelas pessoais neste blogue – as quais procuro disfaçar
alinhando no formato de versos pra ver se engano alguém e ninguém estabeleça
vínculos com minha biografia que são tão fáceis de estabelecer –, sem dar
umas deixas para que meus quase 3 leitores pelo menos desconfiem do que estou
falando.
Daí, pois, este roteiro. Mais ou menos
igual àquele do Macunaíma. (Aliás, melhor que o próprio.)
Então quando um dos meus quase 3
leitores acabar de ler uma das minhas neurastenias em forma de poema e se der
conta de que seus olhos estão arregalados de perplexidade e sua boca tiver os
cantos entortados para baixo em sinal de assombro (quisera eu do mais puro
prazer estético), basta abrir esta página para que a lógica habitual de seu
mundo volte a predominar e a angústia que causa meu irracionalismo se dissipe
em poucos segundos.
Aí vai.
Parece que abandonei um poema na
metade.
(Metade é só pra arredondar a
conta. Sei lá onde abandonei o poema. Pela enésima, nem sei se poema é.)
Me lembro bem: comecei relativamente
inspirado.
Me sentia numa padaria parisience repleta de
confeitinhos: a cada palavra uma dúzia de alternativas e possibilidades.
Lembro, ainda, de que me ocorreu uma
pergunta "Que é que penso e escrevo tanto, afinal?"
(Que naquele momento achei fantástica e
merecedora de outros mil poemas. Sou um apaixonado pelas dúvidas.)
"Ainda tenho a velha capacidade de
ser sincero quando escrevo", me alegrei.
(A cada dia que passa em minha vida vou
duvidando mais e mais da minha própria sinceridade. Às vezes flagro minha
autoenganação com tanta agudeza, que me dá gana de me castigar com uns
autotabefes.)
Lembro então de ter pensado,
"Agora vou mencionar meus amigos virtuais e assinalar que os quase 3 são
mulheres".
Depois só lembro que botei no último
volume o In fernem Land com o Jonas Hoffmann (você quis dizer Kauffmann) e tudo perdeu o
sentido.
Daí em diante não me lembro de mais nada.
Só o que tem sentido vale a pena ser
lembrado. (Você quis dizer exatamente o contrário, caráleo!)
Hoje abri meu blogue e, pra variar, fiquei puto.
Mais um poemeto perdido.
Detesto perder poemas.
Inda mais quando parecem tão
promissores feito o último.
Pois são momentos quase sagrados em que
cai a guarda que sempre mantenho contra mim mesmo.
E logro algum insight.
Insight é bom, claro. Acende uma
chamazinha na negra noite que cada um de nós tem aqui dentro.
(Mas só para alguns eleitos; a maioria
sequer se dá conta; ou prefere dar um soprão na chamazinha para que esta não
lhe encha o saco.)
Insight também é ruim.
Pois que vicia.
(De novo, somente aos viciáveis; os que
não querem enxergar nada provavelmente estão bem na escuridão; você acredita
que existam cegos incônscios da própria cegueira? Eu, sim.)
Bem, acho que dei de cara com mais uma
definição do que é escrever.
Digo, o que é escrever para mim.
É, entre outras coisas, exercitar e
exercer.
(Deixemos esses dois verbos transitivos
sem seus objetos. Nem tudo nesta vida precisa ser completo ou completado,
entendido ou terminado.)
É, entre outras coisas, escrever a esmo
até você acertar sem querer, atinando.
É, entre outras coisas, ser aquilo que
você sempre quis ser mas nunca se deixou.
Parece que abandonei o poema na metade.
Parece que abandonei a metade do poema.
Parece que me me abandonei pela metade.
Exercitar e exercer. Exercitar e exercer. Certamente é uma das definições que mais me agradam.
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