Enquanto dobro a esquina

Quando a ORKUT surgiu (ah, como surgiu), fui um dos que se esbaldaram com as infinitas possibilidades de personalidades múltiplas apócrifas safadas alienadoras. Criava várias personas por dia, as fazia o mais concretas possíveis — plausíveis aos olhos de qualquer cristão. Criava, criava tanto, que os NÃO CRIADORES DE PERSONAS me encafifavam. Porra! me espantava, veja, É TÃO FÁCIL! SEJA QUEM VOCÊ SEMPRE QUIS SER! E, de minha humilde parte, sempre quis tanta gente... Então fiquei meio que em choque ao constatar que a maioria não quer ser senão quem é. Delirava imaginando a farra que Fernando Pessoa certamente aprontaria. Mil eus sem orkut, imagine COM! Pero, poor me, Pessoa é tããããão passageiro, não é mesmo? Não, longe de mim levantar um dedo contra o genial bebedor de clarete. Mas digamos que Pessoa seja um estado de espírito juvenil. Tal como Clarice Lispector, Mario Quintana e centenas de outros grandes poetas que morreram na praia do narcisismo. Que sei eu? Bem, sei que Shakespeare, Ibsen, Mann, Tchékov e que tais foram direto ao ponto, i.e, as relações sociais, que é o que interessa pra quem não pretende morar numa casa de botão até o fim da vida. Hoje posso me dizer um senhor relativamente calmo, hehehe. (Puta merda, sou diabólico.) A brincadeira perdeu a graça. 

Enquanto arregaço as mangas

Maria foi com as outras
João se uniu aos demais
José ficou indeciso
Ah, que delícia de solidão

Enquanto repouso

No escuro da noite
marcho marcho marcho marcho
Sob o sol do meio-dia
marcho marcho marcho marcho
Enquanto rumo para os teus braços
Me liberto da tua sombra
Anseio por teu beijo
Temo pelos fios que teu sangue
irá traçar nas superfícies para
que se absorva pela areia e
um dia retorne à nossa fonte
marcho marcho marcho marcho
marcho marcho marcho marcho
marcho marcho marcho marcho


Poetas e outros bichos da nossa fauna


Porque hoje é sábado (ai porco maledeto), vamos brindar nossos queridos quase três leitores cuma receita caseira dos tempos em que ainda se escreviam receitas a bico de pena.
Toda receita inicia com a lista de ingredientes, não é mesmo?
Esta, não. Não requer lista. Apenas sensibilidade. Se for à flor da pele, dê graças aos deuses gregos.
Primeiro parêntese, de muitos.
O ingrediente sensibilidade serve para qualquer que seja a maceração que você decida conjuminar. (Não, o sentido preciso das palavras não entra. Na próxima, talvez.)
Você pode usá-la para fins diversos e haja diversidade nesta nossa unívoca vida. Só tome o especial cuidado de não a expor a um daqueles tigres que os cassinos de Las Vegas costumam usar em seus shows.
Primeiro parêntese único.
Ontem à noite ouvi dizer que já estão fabricando tigres domesticados para criação em apartamentos. Me parece que você pode estendê-los na sala pouco antes da chegada das visitas.
MODO DE PREPARO
Sente-se. Recoste-se. Olhe a cara deles. Não, não precisa cuidado (desde que esteja usando o ingrediente supracitado corretamente).
Num instante você verá que não, eles não têm todos a mesma cara.
Pois não, não são contadores, balconistas, despachantes, engenheiros, vendedores, astrólogos, pedicures nem médicos.
Esses, sim, têm todos a mesma cara.
Não, sei, você precisa desesperadamente de mais detalhes, duma explicação para o fato de a humanidade ter se enfurnado no Facebook e em outras tocas congêneres à espera do fim.
E o fim deles será ultrajante, creia.
Poetas, sejam Bilac ou Pessoa, Plath ou Lowell, Castro Alves ou Peter Filkins, poetas não têm cara de nada. Quer uma explicação? Poetas são seres que, uns cedo, outros não, decidiram ser o que são, entende? Mesmo aqueles que dizem não saber o que são. E olhe que são tantos.
Você olha e vê uma chama, oh maledeta porca. Que não bruxuleia em olhos nascidos para a sedução rasteira dos carentes dos sensos grotescos.
Você está vendo que este confeiteiro não é nada confiável. Portanto, experimente esta receita por sua conta e risco.

Entregando os pontos



Estou tentando decidir se entro no Facebook (sem adjetivações, em respeito aos meus vários colegas de blog que já entraram. Mas que vontade de adjetivar...)

Me orgulho de ser um dos três ou quatro espécimes da raça que ainda não cederam à tentação.

Como parte do processo de tomada de decisão (que, espero, não leve mais de, digamos, seis meses), fui xeretar alguns “dados”, como dizem os especialistas hoje em dia.

Achei um sítio (prefiro o termo lusitano ao nosso desmilinguido “site”, importado sem carteira de vacinação diretamente do inglês; em geral não implico muito com anglicismos; e, obviamente, seria perda de tempo e de juízo pretender preservar a Última Flor do Lácio virgem e pura; sempre usei “sítio” no lugar do termo original, até que um dia um cliente me perguntou, num email qualquer, se me referia a fazenda ou que tal), bem, antes de me perder em explicações supérfluas, dizia que achei um sítio que dá o “update” estatístico diário da famigerada rede de “relacionamento”, ugh.

Os dados, hoje, (só os mais, em meu entendimento, interessantes), eram os seguintes:

- Número total de usuários (utentes, no dizer dos lusos): 1,11 bilhão.

- Usuários ativos diariamente: 665 milhões.

- Número total dos que usam através de celulares: 751 milhões.

Ufa.

Outro dia escrevi uma postagem relativamente longa soltando os pets no dito cujo, em que dizia, entre mil reverbérios, que o FB é um moedor de individualidades. Este é um dos comentários mais softs. No fim achei meio pesado demais e resolvi botar o galho dentro, como se dizia no Rio no meado da década de sessenta do século passado.

Mas, enquanto me decido se entrego ou não minha preciosíssima individualidade ao Grande Moedor Hiper Ultra Digital, vou-me distraindo cum artigo escrito há uns dois anos pelo meu fero colega Antonio Gonçalves Filho no Estadão.

Gonçalves Filho, antes de espezinhar o FB, entra de sola na internet, que chama de “saco de gatos cheio de ratazanas autodestrutivas, loucas para serem devoradas.” Como estão vendo, GF é dos meus.
Para ele, os jovens que participam do FB sofrem de “ingenuidade narcísica”. Zuckerberg, o criador do Moedor, é um “gato maluco que vai devorar esses ratos, caídos na cilada virtual de uma rede que cria usuários dependentes.”

GF menciona como, durante a invenção do FB, Zuckerberg expôs “a namorada que o rejeitou ao lado de outra garota e promove o concurso 'quem é a mais quente', forçando a interatividade dos colegas e reduzindo suas vítimas à condição de vacas leiteiras.”

E finaliza:

“Tudo vira jogo nesse ambiente virtual de monomaníacos, que desperdiçam o tempo em conversas fúteis, desprezam a ética e são assaltados por uma psicose social que os leva a ver o 'outro' como uma abstração. Estaremos diante de uma mutação antropológica? É provável. A internet virou o tabernáculo eletrônico de jovens que se confessam e punem uns aos outros ao expor rostos e almas no altar do Facebook, onde reina Lady Gaga, dona do perfil mais seguido nesse horrendo culto.”

Bem, é muito provável que aquele grupo de três ou quatro espécimes da raça que ainda não cederam à tentação de entrar no Moedor de Individualidades vá ter reduzido seu headcount em um. Sim, acho que vou acabar cedendo.

Outro dia meu amigo Scarlata deixou um comentário em meu blog me perguntando se estou no FB. Quero crer que não tenha batido o olho na minha apresentação, onde digo textualmente “Não estou no Facebook”.

A questão é, se não está no FB, você simplesmente não existe. Como escritor, quero e preciso ser lido.

Não sou excessivamente vaidoso. Se o Facebook não vem a mim, eu vou ao Facebook, porra.




Enquanto entreabro um álbum de fotografias


Bem que podia me sentar aqui nesta cadeira, te olhar bem nos olhos e contar a seguinte história:
Hoje cedo — bem cedo, antes que as ruas se enchessem dos estudantes e trabalhadores rumando a seus destinos de sempre —, saí para caminhar como faço todas as manhãs. Até aqui, nada digno de nota. A temperatura já começava a subir e logo alcançaria o nível habitual deste outono abafado, a umidade relativa do ar não parecia nem acima nem abaixo do que foi ontem, os bem-te-vis e sabiás-laranjeiras que invadiram a capital fugidos do desmatamento no campo gorjeavam suas brejeirices de sempre. 
Como sabes, em geral caminho voltado para dentro (tal declaração na certa soará estranha aos que não me conhecem). Vou andando pensativo comigo mesmo, ora distraído com as mazelas e sequelas de ontem, ora transportado telepaticamente para as agruras que hei de padecer no futuro. O máximo de deferência que me disponho a dedicar ao mundo exterior é, em estacando no meio-fio antes de cruzar uma rua, espiar para os dois lados atento para o risco de ser atropelado por um caminhão das Casas Bahia ou um dos articulados que fazem a linha Santo Amaro-Jacarepaguá. 
Me achava assim absorto em meus devaneios quando, mais ou menos a dois quarteirões de casa, meus olhos foram atraídos por um objeto que resvalara até um desvão na calçada. O que me atraiu, mais precisamente, foi a cor: um alaranjado intenso como há muito não via nesta cidade de coisas acinzentadas e pessoas esmaecidas.
Me conheces há tempos e sabes que não tenho, nem nunca tive, curiosidade fútil por nada. O velho para mim morreu, o novo muito breve ficará velho. Mas aquele objeto cor-de-laranja enfiado num interstício no meu caminho, não pude determinar exatamente a razão, produziu em algum lugar aqui dentro um efeito estranho que me obrigou a ir até ele assuntar.
Me agachei para ver de perto. Era um toco de lápis.
Senti que uma semente de inquietação parecia querer brotar. Mais: dava sinais de que num segundo se abriria num esplendor de perturbações. Quero crer que percebes agora o motivo da minha abulia cotidiana. Novidades podem facilmente evoluir para um distúrbio, este, para um alarme, este, para um desassossego...
O toco de lápis me trouxe uma memória agudíssima duma situação qualquer que vivi algum dia num banco escolar milênios atrás. Sim, tenho de usar essa penca de artigos indefinidos, pois indefinida foi a lembrança. De repente pude enxergar diante de mim a mesma cena de então. Me vi com o lápis laranja entre os dedos da minha mão direita. A esquerda segurava uma folha de caderno onde eu garatujava um bilhete de amor.
Para Sílvia.
E pude ver ainda que, depois de compor a mais bela, a mais sedutora das declarações de amor de que jamais fui capaz de escrever, soou o sinal de término de aula e, atabalhoado como sou e sempre fui, dobrei a folha de papel e me apressei rumo à porta da sala enquanto guardava o bilhete no bolso da camisa.
Chegando em casa, subi para meu quarto, me sentei naquela cadeira e enfiei dois dedos em pinça no bolso para apanhar o bilhete. Mal podia esperar o momento da primeira releitura, que, como sabes, é quase tão mágico quanto o da escritura.
Meus dedos pinçaram o vazio. Com a boca instantaneamente seca de antecipação da tragédia, enfiei toda a mão no bolso, praticamente o arrancando da camisa.
Deitei a cabeça na escrivaninha e comecei a soluçar.
Retorno ao presente, ao toco de lápis, ao homem entregue às lembranças agachado na calçada, indiferente a si e ao mundo.
Guardei o toco no bolso das calças, desta vez me certificando de que estava bem seguro, e voltei para casa.
Subi até meu quarto, abri um velho caderno em que anoto alguns registros esparsos, tirei o toco de lápis do bolso...
Sim, bem que podia me sentar nesta cadeira, te olhar bem nos olhos e contar esta história.
Mas duvido de que tivesse coragem. Não um relato tão risivelmente pueril quanto este. E, mesmo que contasse, estou certo de que não acreditarias. 
Pois não é a verdade.
A verdade é que hoje cedinho saí para caminhar como faço todas as manhãs e tomei outro rumo, passando muito, muito longe daquele lugar onde talvez estivesse aquele toco de lápis. 




Refaçamos nosso trato


Você não me conhece
Eu não me conheço
Leia o que escrevo
Não me pergunte

Pode levar tudo
Contanto que me deixe
exausto, entediado, desencantado, desolado, sem saída

Assinam 
As partes

Você não me conhece
Eu não me conheço
Só leia o que escrevo
Para continuar
Me desconhecendo

Relativizemos

Pense em quanto 
dura a morte. E
você verá que a
vida não é tão 
longa nem tão 
importante assim.

Ibsen, Grieg, que casal


Sonhadores vagabundos!
Ainda aguardando que
a manhã renasça azul?
o luar salpique a noite de prata?
a pergunta tenha resposta?
Acordem!
Ponham-se em pé,
Sonhem corretamente.



Só mais um autoplágio

Pra variar
hoje
caí do cavalo
tirei o dito da chuva
enfiei a viola no saco
e fui cantar
noutra freguesia.

Ainda


Há algo em Frank O'Hara que me foge

Há algo errado em mim

ou no mundo

Sinto a luz molhada


Estavam todos de boca aberta hoje na rua e preciso registrar antes que me esqueça.

Me olhavam espantados, provavelmente ansiosos por saber qual era meu segredo.

Se fosse volúvel, sorriria, quem sabe exibisse os dentes.

Era de tarde e minhas recordações jaziam domesticadas no fundo do meu cérebro.

Era assim que podia seguir avante e fingir que o mundo era meu como foi um dia.

Marmelada sem queijo nem marmelada

Okay, me deu essa coceira na garganta, então tenho de confessar.

Desci a rua aqui de casa hoje logo depois do almoço que nunca como e um pardal passou rasante pertinho do meu ombro direito e, cochichando, me perguntou o seguinte:

— Sabe o que é liberdade?

Abrochei os lábios para responder mas estaquei, quase tropeçando nos próprios pés.

E, parado do meio da calçada, me encafifei. Sabia a resposta antigamente, porra! Sempre esteve na ponta da língua.

Apiedado da minha confusão, o pardal disfarçou o risinho e encasquetou:

— É ter a chave da cela nas mãos e atirá-la pela janela.

E zupt! sumiu na folhagem do abacateiro carregado de frutos que há aqui em frente e que, estranhamente, ninguém colhe.


O preço da liberdade é a terna vigilância

Olhe ali, é ela
a se entregar a Love me please, 
love me, do afinado, 
modernista Michel Polnareff

Ah! 

Como queria poder lhe
dizer que uma vez conheci
aquela mocinha
que se atirou do alto do 
viaduto da Vila Xavier

Fuga aos solavancos em ré maior

Ando tentado.
Mesmo sabendo que amanhã é dia útil.
Talvez me reanime um versinho surpreendente, um café meio amargo.
Mal posso esperar a hora de dizer au revoir.

Ando sem sono e assim sou tiro.
Ando exausto e assim sou queda
tão instantânea, que nem há tempo 
de dizer adeus.

Sonhei que me abandonara o mais letal dos tédios que sinto quando sonho.
Ai que cansaço me dão versos xucros na feitura,
soporíferos na leitura.
Adeus, só se for definitivo.
  
Tracei um plano.
Morremos os dois juntos.
Eu antes, tu em seguida.
Eu, Romeu invertido, tu, Julieta nua.
Eu morreria primeiro; e, me vendo morto, brindarias, com a última dose,
o último verso sobre o bilhete derradeiro
Magistral coroação do sofredor obstinado.

Plano sem dia nem hora.
Podemos o executar amanhã, sábado à aurora, ontem à noite.
Deixarei umas palavras de despedida.
A ninguém — ninguém é tudo que tenho.
Um beijo agrodoce de nunca mais a este mundo impossível.

As escreverei assim num vupt!
Dois minutos, liquidado, nem carece revisão.
A inspiração, essa perdida, favas contadas,
dará o ar de sua graça
Será como há anos não tem sido
Inacreditável como nunca foi.
Serás outra. Outro serei.

O dia que nos afastarmos de vez sobrará um nevrálgico 
vazio que se juntará a outros inúmeros em minha cabeça 
e passarei o resto dos meus dias lamentando ter te perdido
Pois para perder-te foi que um dia te ganhei.
Esse dia chegou.
Como poderia não ser assim?

No bilhete sem hora nem lugar
haverei de declarar:
Poetas tantos já passaram por 
isto.
Quero os plagiar
Todo suicida sofre da mais repelente
das invejas.
Não a do outro, mas dele mesmo e
daquele momento e daquela arrebatadora 
intimidade com os sentimentos.
Da raridade da abundância da
escrita na banguela, fingindo que 
sente, usando a técnica vaziamente, 
sem daonde sair, sem aonde pousar.

Sob a escala de valores éticos do 
mundo, sou um cafajeste

que há tempos desenvolve uma técnica 
de buscar sentimentos.
Foi-se o tempo em que brotavam,
bastando sair a andar, lembrar de 
alguém há muito esquecido, sentir o cheiro 
do biscoito no café de Marcel Proust.

Mas, precisado d'outra técnica, avançar 
além do conhecido, 
tentar sensações inéditas,
me aproximei perigosamente de 
malucos, tomei porres virgílicos, 
a jejuar dias a fio, me empanturrando
de acarajé e feijoada,
me explorando além da conta. 

Disfarçadamente assim aqui me peço,
não me leva a sério.

A frieza será melhor.

Nova postagem?

Novo sábado à noite e sim é hora.

Dizer o quê? se perguntaram bilhões de nostágicos derramados antes de mim neste mundo.

Nada imagino, imagino tudo. (Viu como é fácil produzir literatura intraduzível? Essa, nem o tradutor do Rosa  dava conta.)

Os deuses estão atentos?

Quem dera. Só sinto o mau hálito do demo.

Corte. Esta postagem era para ter duas linhas.

Eu era pra ser feliz e estou atônito e atônito hei de morrer sorrindo.

O amor supera tudo


Tá, sexta à noite, fim de semana à porta, vou falar sério. Não, não é que quase nunca fale. Falo e dolorosamente. (Sylvia Plath é a maior craque que conheço em jogar um advérbio vagabundo num verso que estava incontornavelmente perdido.) Já disse alhures, e várias vezes, muitas mais do que se tem por bom-gosto, que raras são as situações na vida mais torturantes que falar com estranhos. Tá, no meu caso, com conhecidos também. Íntimos, não me lembro mais. Lá se vão décadas que tive uma conversa tête-à-tête com algum íntimo o bastante para trocar aquele que, lembro, nos faz sentir pertencentes a um planeta e com os pés no chão. Estou perdendo o fio aqui mas não vou reler desde o começo para saber do que estava falando. Sexta à noite e o mais terrível dos fins-de-semana está à minha porta pronto para me devorar. Décadas nas costas de solidão canina, aprendi, acho, que a dor mais aguda da solidão não é o momento presente sozinho mas a perspectiva medonha do desamparo futuro. Ah, o padecimento de falar com pessoas. Se sensível, a batalha interminável de se esconder para que o outro não descubra tuas fraquezas e se fingir de idiota tentando que o outro não perceba que avançou os limites espiando dentro dele ou dela o que ele ou ela faz um esforço patético para proteger de olhos curiosos. Lembro, quando falava com alguém, com as pessoas, que me chocava o mecanismo, aparentemente natural e corriqueiro entre elas, em que estão todos os participantes cientes de que uma conversa não é um diálogo, com as premissas que um diálogo implica, mas um discurso surdo. As pessoas têm a fala sei lá quanto mais desenvolvida que a audição. Aí está o segredo, cara! Se você nasceu do lado errado, meus pêsames, a menos que seja psicanalista faturando uma pequena fortuna por cada sessão a emprestar a orelha de lata de lixo para resíduos afetivos de terceiros. Ao longo desta sexta entrei algumas vezes num estado peculiar, de clarividência repentina, em que a resposta se ilumina à minha frente qual fogos num festejo de réveillon e percebo com a certeza dos justos que ela, resposta, é não buscar a continuidade. Nunca. As implicações, naturalmente, são terríveis. Fazemos tudo por ela, continuidade, é o nosso foco, o motivo quase inconsciente que nos leva avante, há, claro, muito de incoerência aqui, ao que só posso responder que a necessidade de coerência é apenas uma das formas em que o tacão da continuidade nos esmaga a garganta. Poeta fosse, diria que somos, humanos, fracotes interruptos eternamente almejando à consistência. Sei porque me lembro claramente dessas visões estupefacientes que tive entre um e dois anos de idade. Saquei tudo lá trás e esqueci quando, na escola, me confundiram com um fatalista. O preço do pensamento livre é incomensurável e só os fortes talentosos estão aptos a o bancar. Não estou a fim de brincar com os portugas hoje. É sexta à noite, o mais desastroso dos fins-de-semana me bate à porta, será, espero, o último, sim, uma esperança pusilânime subjaz às minhas palavras, você sacou, sacou, tenho certeza, há ainda os que imaginam a literatura engenho de dizer o contrário do que se diz. Li algures hoje à tarde um texto de Fabricio Carpinejar e pela enésima tive esta minha certeza lapidar que o que a maioria busca são certezas. Fabricio é assertivo, costura pensamentos em palavras que abrem e fecham um universo, errado, fajuto, capenga, mas universo "dotado de sentido". É o que o procura sofregamente o sofredor amoroso num divã. Que lhe pontifiquem. Até aí, até esse ponto, Sartre estava certo. A liberdade vem antes das palavras, que é o que acho que entendi do livro homônimo dele e de que andei lendo algumas “revisões”, tá, tudo é revisto o tempo todo. Com perdão da sutileza, de repente me deu esse clarão de que só os extremamente inteligentes são livres para pensar. E, o melhor de tudo, não importa o quê. Nós, burros, não pensamos, temos, como disse alhures, meras florescências elétricas, necessárias para preencher nossas pupilas e evitar que o outro, aquele com quem é tão duro trocar impressões físicas, vislumbre essa imensidão vazia que nos habita. Ia me esquecendo que neste mundo de certezas só me resta escutar um rock. Na postagem de ontem escrevei “roque” e acordei no meio da noite wondering why. N.B., não “me perguntando”. Nós brasileiros de cérebro domesticado por Uncle Sam não nos perguntamos nada, seria risível além da conta. Então boto Somebody to love com o Jefferson Airplane, me frustra que a performance de Jim Carrey naquele Cable Guy é infinitamente melhor, dá uma dimensão artística ao roquezinho que o original certamente não tinha ou ninguém percebeu. Você já se imaginou batendo na porta duma casa estranha, desarmado, despreparado, sequer atento para o assombro que certamente estará “estampado” na fuça do “anfitrião”, aquele que sempre aguarda o império da continuidade? Eu já. É o que a arte faz com todos nós a que apenas poucos nos damos o trabalho de prestar atenção. Odeio soar deselegante mas ô raça pra se amarrar numa anestesia, seu.

Que faço a esta hora da tarde?

É preciso
Muito cuidado

As rochas e
As casas e
Os abismos e
Os oceanos
E tudo que há
No mundo
Pode se desmanchar
Sem mais nem menos
Sob o toque dos meus
Dedos

A silenciosa música que me
adormece, emudecer
O perfume de veludo que me
Inebria, se dissipar

Descobrir que este inefável 
Mel que de repente sinto por 
Sob a língua é repugnante


É preciso
Muito cuidado

Um cuidado que nunca tive
Cuidado que não sei ter
Nem quero

Para que serve um sanchopança?


Se tem algo na vida de que a mente não gosta é a boca, a língua e os lábios Chuparem Buceta. Não significa que nunca Chuparam. Toda boca já Chupou Buceta pelo menos uma vez na vida. Menos a do pai. Quando era moleque eu mandava ver. Algumas, não todas. Gostava das mais Cabeludas. Tem Umas que os pêlos começam quase no umbigo, descem recobrindo a Propriamente Dita e se espalham pelas coxas um tantinho ou um tantão, dependendo do pedigri da Freguesa. Essas eram as que eu mais gostava – o Xoxotão ficava razoavelmente encoberto, convenientemente ocultando sua verdadeira Natureza. Um dia deixei escapar isso na terapia, passei oito sessões tendo de escutar que nosso maior medo era ser invaginado. Que quando nascemos… bem, pode ser. E daí, Uóxito?
Orabolas, se a cachola dum macho neurótico tá recheada desse tipo de delírio, imagina as neuras duma fêmea em relação ao Pinto. Deve ser assustador, Uóxito.
Não me apraz. Pra começo de conversa tem aquela ligação perigosa com as entranhas – útero, ovário, trompas, cavidade peritoneal, bexiga, fórnix, cérvix, uretra… Quando criança ficava horas me abismando cumas ilustrações que havia na britannica de papai. Tudo latim, vesica urinaria, uterus, labium minus, labium majus. Vermelho-carmesim heminolento. O corpo fica perturbado (somos impressionável), começamos a pensar, Porra como médico consegue saber de tudo isso e ainda sentir tesão? Você todo engaranhado Comendo a dona e de repente te cruza a cabeça a imagem dum útero cor daqueles fígados à venda no balcão do açougue.
Nossa primeira Buceta, da nossa prima fátima do paraná,  chupamos com gosto. Falamos para ela ficar de quatro, pusemos toda a língua para fora – queria ficar com a cara do pluto – e lambi-lhe a Xoxotinha detrás. A Xota se acha perigosamente próxima do ânus. Por isso aproveitamos para lamber também o Rabicó da vitimazinha paranaense, no que nos emporcalhamos todo, baba escorrendo pelas pernas dela, resultando que logo chegou a hora do dá logo essa Buça’qui. A caipirinha emitiu alguns gemidos dolorosos, mais quando Comemos Atrás do que quando livramo-na para todo o sempre do cabaço. No dia seguinte vimos quão penosas podem ser as conseqüências duma boa Enrabada – não podíamos sequer roçar a Rola dolorida. Eta fatimazinha de arisco asterisco. Teu marido hoje deve estar sofrendo um bocado, Alicaterrabodecatraca.
Tem também o formato. Ainda não consegui decidir se é esse o fator principal. Às vezes a mente acha que sim, outras que não. É porque nossas impressões a respeito da aparência Bucetal mudam à medida que o tempo passa e vamos conhecendo outras Xoxas pelo mundo. Só de ver uma de labium majus mais carnudo dá água à nossa boca, contemo-nos então para não deixar que a língua fique caninamente pendurada até o bico do queixo. Essas mais gordinhas você começa a beijar, mordiscar, depois vai lambendo e ao mesmo tempo abrindo os grandes lábios, separando-os com a consciência viva de que eles existem exatamente para isso, fruto recôndito para ser devorado, para que você os abra devagar, até ficar efetivamente tesudo e introduzir toda a língua como se fora um pinto, depois os dedos, a mão, o punho se estiver a fim de estraçalhar, Uóxito. Mas um dos maiores problemas de hoje em dia é o clitóris – essa Porra que algumas mulheres inventaram nosanossessenta e que só serve para me atazanar a paciência. É que no meio da esfregação, mão pra cima e pra baixo, pintoladas de aquecimento, espetadelas semiconscientemente estudadas, de repente você se distrai com um dedo ou a ponta da língua no dito cujo e a abestada grunhe aaaah. bem no ponto. uuuuuuuuh. dá uma esmerilhada aí. No começo caía na armadilha, Uóxito, e me punha pacientemente a bulir aquele promontoriozinho com remota vocação de pênis, passava uma eternidade, ficava louco querendo perguntar vaiounãovai essa Porra aí, às vezes o desgraçado não esboçava a mínima reação, depois de duas horas eu caía de lado rendido de cansaço, outras vezes ele ia ficando espevitado, espevitado até que… nada. A assanhada nunca atingia o orgasmo mas implorava maisu mpo ucom aisu mpou qui nh osó. Uma Porra, Uóxito. Fróid tinha razão, essa Merda talvez seja mesmo um pinto atrofiado que definitivamente não serve para gozar, dez entre dez mulheres não têm orgasmo, as que têm estão te sacaneando, seja qual for o motivo que elas têm para te sacanear.
Agora, levamos um baita dum susto quando os olhos vêem uma Buceta pelada. O falo desfalece e não tem como reanimá-lo. Perereca careca é uma visão dantesca, Uóxito. Para não ter de “abordar” outros campos científicos e acabar perpetrando um tratado em vez duma confissão –, enfermeiras, médicos, acompanhantes clínicos profissionais, etc., essa gente provavelmente nada vê de anormal numa Buceta destituída de pêlos – assim como não estranha uma barriga aberta em cima duma mesa de necrópsia ou um crânio sendo destampado com uma serra elétrica para uma cirurgia neurológica.
Nem todo mundo é hipersensível, iunou, Uóxito. Sempre que se nos vemos diante duma dessas desnudadas explicamos à dona da Mesma – com delicadeza e tato para não feri-la e, obviamente, antes de virar as costas para sair do quarto após desistir da trepada – olha menina, os pêlos pubianos foram feitos para esconder essa Coisa Bizarra que vocês mulheres trazem entre as pernas. Fazer barba no ventre é um atentado à natureza, sempre me lembra de experiência de laboratório,  as atrocidades do anjodamorte em auchuvits, o triunfo da barbárie, sabe-se lá. Se fosse cientista ia desenvolver uma peruca para casos como o seu. Que ta, Uóxito? Você até poderia escolher a cor, loira, ruiva, o cacete. Não, não chore. É só um comentário gentil. Tome aqui este cheque, compre uma blusa ou um biquinininho ali no chópin. Pombas, hoje em dia a gente não pode mais dizer o que pensa. O cheque é predatado quinze dias. Mas fora isso você tem um corpinho jóia. Torso, uma graça. Me lembra os gregos. Não, não estamos me referindo ao onassisdajacqueline. É, chamava aristóteles mas não era filosófico. Temos uma prima chamada aristotele, vêsepode. Os pais pensaram que era igual a gisele graziele michele. Não, benzinho, você não tem defeito físico nenhum. Olha, é só uma maniazinha besta nossa. Não, não vamos contar a ninguém. Faz de conta que nunca aconteceu. Nunca te falaram essas coisas antes? É, sempre tem a primeira vez. Não, não dá pra dedar só atrás. É que somos cheio de fricotes, iunou, depois de ver uma carequinha como você brochamos três dias. Olha, daqui a um mês já cresceu de novo – ainda bem que tem conserto hahahá. Imagina se não voltasse nunca mais. Olha, você vale ouro, liga não. Aliás a partir de agora vamos te chamar de minhameninadouro. Gostou? Sempre que a gente se encontrar vamos falar assim. Não, nunca mais tocamos no assunto, pode ficar tranquila. Bem, estamos com um pouco de pressa, talvez já tenha chegado a hora de ir. Temos de dar aulas de química para viver, iunou. Aliás foi para isso que viemos aqui. Além de te dedar, é claro. Nem um pouco excitante. Na verdade, é bem aborrecido. O que salva são as aulas particulares. Não, já falamos, não vamos contar às suas colegas. Olha, se alguém ficar sabendo lá na faculdade não fomos nós. Ou talvez sim. Afinal qual o problema de todo mundo saber que você raspa a Buceta? Hoje em dia cada um faz o que lhe dá na Telha. Bem, talvez eu comente com algum outro professor. Só a título de ilustração em alguma conversa profissional, iunou. Sim, prometo que peço a ele para não espalhar. Exijo palavra de honra. O professor de história é discreto, tem erro não. Aliás foi ele quem nos contou sobre você, que era carinhosa e generosa. Só não nos avisou sobre a falta de pelugem. Viu? Nem comentou. Se tivesse dito eu nem teria vindo. A, essa conversa sobre o aluno do terceiro ano ter espalhado que você gosta de dar mais Atrás do que na Frente… bem, ouvimos algo a respeito mas não pusemos crédito. Tem muito boato naquela escola. Não, não sabemos quem está por Trás dessa outra fofoca. Bem, só pode ser o diretor do departamento de psicologia. O sujeito é um biguemaute. Grava e reproduz tudo o que escuta como se fosse um toca-fitas. Tem razão, este nosso papo está carregado de significados expressivos. O quê? Gostaria de levar algumas palmadas para aprender a ser mais educada? Me parece um tanto drástico… pensamos que já estivesse tudo esclarecido. Bem, se é tão importante para a sua formação… seu futuro… não, é melhor deixar a luz acesa… a juventude confusa. Sim, somos teu senhor com poderes absolutos sobre teu corpo. Esta é nossa corte e tudo e todos existentes dentro dela me pertencem. Está compreendendo agora? Viu como eu tinha razão? Promete que nunca mais será Falsa com teus semelhantes? Reconhece que pelar a Xoxota é experiência inútil? Na união soviética mulheres que cometiam essa heresia eram violentadas por cavalos puro-sangue criados especialmente para essa função. Consta ter sido esse um dos pilares que sustentaram aquele império por quinhentos anos. Não, só mulheres abaixo dos quarenta. Tome mais este por não acreditar em mim. E este por fingir que está aprendendo. Na turquia mulheres safadas assim são atiradas à arena de hipopótamos e penetradas por aqueles gigantescos e pontiagudos apêndices corníferos. Não, é apenas Reflexo – não está endurecendo não. Há evidências empíricas de que o apetite sexual é mais transpiração do que inspiração. Sempre é possível dar uma boa fungada para recobrar o ânimo. Nem tudo é alegria na vida. Ainda nutro certo ceticismo a respeito.
Uóxito, como essas coisas dão trabalho. Quem manda interferir no equilíbrio da vida contrariando a ordem natural das coisas? A punição para esse tipo de conduta Tarda mas não Falha. E é sempre saudável avisar os jovens sobre os riscos a que estão expostos – sabe-se lá o que a minhameninadouro poderia fazer se chegasse aos setenta anos sem nunca ser alertada dessas coisas.
Essa era nossa situação sexual até que conhecemos o nossossanchopança. Hoje quem chupa nossas mulheres por nós é ele.

É aqui a escola?


Por justos contratados
Os termos e condições seguem

De mim, esperarás um poema
Será o retrorreferido
Inédito (feito a luz solar de cada manhã)
Limpo e claro (como o reflexo da luz
Solar nas pupilas dum recém-nascido)

Garantirá autoestradas dando diretas
Em becos sem saída
Para que te libertes
Te tranques se
Quiseres fugir do mundo
Do mundo lá fora
E do mundo lá dentro

Servirá para tua perdição
De labirinto
E na parada do tempo
De passatempo
Por caos, motim
O arquejo
O devaneio, a orgia contra o Império
Da disciplina e tua boca ceder
Ao pecado que não envergonha

Deverá – como de fato será – ser veneno
Contra todos antídotos teus
A revolta contra a paz de espírito tua
E o terremoto que no meio da noite
Converte tua fome de vida em gula
Tua sede de amor em ávida morte

Em contrapartida ao retro empenhado
Em teu rosto revelarás à volúpia destes olhos
Despertando a beleza que é tua
O sono, coração, deste
Se operando então
Automaticamente
O milagre da poesia
Que de milagre
Nada exige

Mixuruca noite de segunda


Tudo que posso lhe dizer, lembrando longinquamente o pai Goriot de Balzac, é que naqueles tempos havia um fantasma...

...tudo bem, um ente misterioso qualquer, se fantasma não lhe agrada, pela branquidão dos lençóis ou a mera fantasmagoria daquilo que não sabemos...

...que...

...que...

...resolvia as coisas...

...veja, as "coisas", não os "problemas"...

...pois antes que se tornassem problemas, se resolviam...

...e o mundo rodopiava ao som da tevê e aos suspiros do seu arfar e à fragância das pequenas flores do pé de laranja deste planeta.

Medonha noite risonha


Preciso.
Preciso aprender.
Preciso aprender a aprender.
Preciso aprender a aprender a fechar os olhos.
Preciso aprender a aprender a fechar os olhos e me sentir como todo ser humano já nascido neste mundo se sentiu ao fechar os olhos.
Preciso aprender a aprender a fechar os olhos e me sentir como todo ser humano já nascido neste mundo se sentiu ao fechar os olhos, sem tomar atitudes, indiferente à fome e à sede e à solidão e à ansiedade e ao pavor de que pela janela escura dos olhos entre uma lembrança intrusa da infância perdida que se associe aos milhões de amores prometidos por Bárbara e Marta e Marina e seus vestidos róseos esvoaçantes que me proibi de olhar por medo de ficar emocionalmente cego pelo resto da vida e já era tarde, como tardio sempre foi meu parto de que jamais poderei partir, me vestindo para o bailinho de sábado à noite pra variar sem me olhar no espelho, se há algo que posso dizer de que me orgulho é que não preciso me olhar no espelho, nunca precisei, por ter nascido vocacionado a pagar o preço, sempre paguei e ainda hoje pago o que for, não pechincho nem regateio, pago, pago e pago, pago mais, pago o dobro, o quíntuplo, com minha vida e minha morte, meus sonhos, meus ideais, minhas fantasias, minhas verdades e minhas mentiras, mama, afasta de mim essa tendência da raça ao choramingo consolatório, olhe para cima, veja, não há nada escrito entre as nuvens, não há significados ocultos nas estrelas, sequer estrelas há, há?, mama, não vou longe, nunca quis ou tentei ir, é palavra que não compreendo, sou e sempre serei perto e quem quer que se disponha a discutir comigo a poesia concreta, a melhor marca de celular, que venha, estou e sempre estarei aqui se aqui for o apartamento em que Marina ou Marta ou Bárbara combinou de me encontrar pedindo que não passasse a colônia pós-barba, ao que optei por não rir, não uso essas coisas não, meu anjo, há décadas não faço a barba, sim, pode dizer que é protesto contra meu pai, quão glabro sempre foi papai, roceiro escanhoado mesmo no caixão pronto para a recepção dos anjos, se sou autocondescendente? Que pergunta mais cafona, nunca mais pensei assim depois do Lobo da estepe de Hesse, veja como ainda cuido dos itálicos, é que ainda preciso aprender, ainda não aprendi, ainda não aprendi a aprender a fechar os olhos e fechando os olhos me sentir como se sentiu o mais humano dos humanos já nascidos neste mundo ao fechar os olhos.

Agora é noite de segunda

Deus (ou diabo), livrai-me dos poetas de boa vontade.