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Lendo a FSP agora pouco, o Haddad liberou cento e sessenta milhão pra nova “arena” do curíntia. Pena que não conseguiu aprovar o aumento do iPTu, podia dar até um bi pro timão do coração dos paulistanos. O Haddad sabe que a copa é o que interessa, o resto não tem pressa, como dizia Goethe.
Mais. O Neymar disse uma coisa muito séria: “Não deixe escapar quem você ama”. Na hora me pareceu até que tava falando diretamente comigo. Como será que o Neymar soube que deixei quem amo escapar por entre estes meus dedos lânguidos e longos e lendários qual perereca ia ia luzidia?
Tava triste, me contristei mais. I mean, angustiado. Apreensivo. Alvoroçado. Não: nauseado. Melhor: agoniado. Ansioso. Incalculavelmente. Sim! Esperançoso. Tudo junto. Você já sentiu salada dessas num átimo (...)? (É o que os nascituros sentem, tenho certeza. Depois vamos aprendendo a negar o que vemos e experienciamos, até nos tornarmos adultos mentirosos e mistificadores), não só naquele momento tenebroso pelo que todos passamos quando duvidamos de que estar vivos é uma dádiva, seja em pesadelo, seja sob uma dessas tragédias a que estamos expostos, todos. Estou dizendo, uma constante. Puta merda, preciso abrir um parágrafo bem agora, esse comecinho parecia promissor, tenho essa dificuldade em lidar com o êxito, coisa de carcamano, o italiano é o ser mais fracassista do mundo, tema prum post futuro, me amarro em descer o sarrafo nos devoradores de massa com molho em abundância, nogentti, odeio meu nazzo pícolo e la neve del Chilimangiaro.
Por falar em coisas boas, acabei entrando numa roubada, como gostava de dizer meu bisavô, lo carcamano massimo, morto e estinto no inizio do ano.
Foi mais ou menos assim.
Como estão cientes, ando mais preocupado com o transcorrer do tempo do que o Einstein elaborando a relatividade das teorias. Vem me atazanando a aproximação do Natal. Como lhes contei outro dia, outro dia resolvi ir ter com esse sujeito que passa o dia e a noite numa mesa no canto mais sombrio do salão aqui do Bar Lacerda. Já tinham me contado que ele é poeta, então fui lá ver se podia encomendar um poema. Este ano decidi inovar. Chega de quinquilharia pra Cibele. (Como já lhes disse, estou noivo da Cibele há dezesseis anos.) Quero lhe dar alguma coisa diferente neste Natal. E o que pode ser mais diferente que um poema?
Sem problema, ele diz, aparentemente rimando sem querer. (O que, note-se, seria um sinal de alerta, não fosse eu tão distraído.)
Quanto fica? pergunto.
Pra você que é freguês do Lacerda faz anos, cinco perna.
Cinco mil? me assusto. Não é muita coisa? Sou assalariado, você sabe.
Cinquentinha, meu querido. Metade agora, metade na entrega.
Assim fizemos, assim ficou combinado. Me entregaria ontem, com tempo hábil para uma eventual revisão, correção, reelaboração.
Não sei, pode ser impressão, mas parece estar me evitando desde então e tô começando a desconfiar que me meti numa fria, como perorava minha bisavola que morreu semana passada numa festa rave perto de Guarulhos.
Até que consegui o encurralá-lo numa ida ao banheiro do Bar.
E aí? Quando vai entregar?
Depois.
Depois quando? O Natal tá aí. – Minha voz saiu esganiçada qual a dum castrati de Bach. – Se o poema não tiver pronto então, serei obrigado a presentear minha noiva c’uma assinatura da tevê a cabo. Não que vá ficar decepcionada. É fanática pela telinha. Deita no sofá e fica lá hipnotizada assistindo às imagens que desfilam indefinidamente sem formar uma narrativa que faça sentido sentimental ou intelectual, atiçando o sentido da visão e enganando o telespectador que olhar as coisas na superfície pode o aproximá-lo d'alguma significação verdadeira da vida.
O sujeito me olhou decididamente intrigado e depois duns segundos exalou com ruído áspero (ou aspereza ruidosa) todo o ar dos seus pulmões apodrecidos sob várias dezenas de marlboros todo santo dia. (Pude até sentir a aca transida de fumo.) Tava com o peito aprisionado de ansiedade, pauvre. Me surpreendi vendo que poeta sofre tanto. (Também, vai entender um coitado que se dedica a cultivar palavras numa floreira imaginária como se foram cebolinhas verdes num cantinho de horta. Era tão mais fácil e simples e seguro vender carro usado ou descolar um trampo num banco qualquer.)
Mas o tranquilizei-o: claro que nunca serei franco com a Cibele a esse ponto. Meu docinho de leite com mel na certa me daria uma daquelas descomposturas em que é craque, sabe como é, unhonas afiadas de mulher que sabe o que quer, hoje somos todos tão ciosos da nossa individualidade, nos confinamos em nosso mundinho protegidos por uma cerca elétrica em que os que tentam nos alcançar são eletrocutados enquanto fazemos de conta que somos os reis do relacionamento nos faces da vida.
Outro olhar inquieto do meu intercolutor, digo, você entendeu. Inquieto e ao mesmo tempo esquivo. Saquei, é daqueles que evitam olhar a gente nos olhos. Será assim com todo mundo? Esse é pró do sofrimento.
Ah meu amigo, se fosse sir Galahad raptava minha Cibele, a puxava ela pra sela do meu Rocinante sem rima, a levava-a pra masmorra do meu castelo onde seria mais livre do que imagina seu tenro cérebro de donzela lampeira.
Ato seguido desvio a cabeça na direção da rua para NÃO ver a reação do poeta ao meu ditirambo. Não gosto quando reagem idiossincraticamente ao meu jeito de ser e dizer.
Bem, esta é a situação no momento. Depois que cobrei o poema, o poeta tomou doril, me deixando entregue a um desassossego mais e mais agudo à medida que meu relógio rolex paraguaio conta as horas, os minutos, os segundos rumo ao Natal fatídico.
Quando me acho nesse estado de amofinação, a única saída é me empanturrar d'alguma guloseima ou quitute. Em casos mais extremos, que, como já lhes contei, são a regra e não exceções em minha atribulada existência, tenho de recorrer até a acepipes para tentar arrefecer o desalento.
Tão logo tive a ideia de remediar meu desânimo com três kg de glicose, a vitrine de delícias da dona Juçara, distinta esposa do Lacerda, lotou minhas pupilas feito ônibus da linha Pinheiros-Santo Amaro às seis da tarde duma sexta-feira pré-feriadão da Proclamação.
Rosquinha de leite! escuto minha própria voz fora de mim, exclamando como se pertencesse ao tio do Graciliano.
Nisso, o Luizinho, entregador do Bar, estaciona sua bice caloi sessenta e sete (modelo para moças, ainda desprovida do cano que conecta o selim ao guidão para que as distintas não precisassem erguer as pernas e a saia ao sentar) na calçada diante da porta do salão e me pede para vigiar seu meio de transporte enquanto vai prestar contas das entregas a dona Juçara, que toma conta do caixa.
E quem entra atrás do Luizinho (embora não parecesse que viessem juntos)? Bidu. 
Ele encosta a barriga dilatada no balcão (não fosse a pança, seria o retrato do Charlton Heston antes de subir em sua biga em Ben Hur. Vi o filme aos seis anos, nunca mais superei o êxtase da corrida de bigas. Depois fiquei sabendo que um ator morreu durante a filmagem da cena. A cinematografia atual feita à base de computador não chega na unha do dedinho, bem como a literatura de hoje atrelada à internet e o inferno da tevê. Ano passado vi umas cenas de King Kong com a indefinível e gostosérrima Naomi Watts, fiquei bobo com a pretensiosidade técnica e a indigência estética e artística, tudo feito a golpes de mouse e software. No próximo em 2020 vão dar um jeito de estuprar a donzela e esta atingir um orgasmo kingkonguiense).
Ao me ver, ele se volta rapidamente para a parede, fazendo que não me viu. (Especialidade do brasileiro que, quando não tem escapatória, abre um sorrisão pro nosso lado como se fôssemos cristo retornando da catacumba depois do sabbath.) Vai me desculpar mas tenho compromissos, penso, apertando os passos na direção do safado. O Natal taí, não posso facilitar.
E aí?
E aí?
Como vai indo a encomenda?
Hã?
O poema?
Tô no terceiro verso.
Inibo uma reação espontânea, optando por tergiversar. Manjo esses tipos. Fui vendedor de macarrão no circuito dos mercadinhos da Grande SP. Ganhei menção honrosa de vendedor do ano em 1978. Já levei muito japa dono de mercearia pra zona no fim do ano como prêmio pela preferência.
Diz os dois primeiros.
Não posso. Estão “sub lirica”.
O primeiro, então. Preciso duma garantia.
Sorry. Dá zica.
Entendo o ponto de vista do cara, não sei exatamente por quê. De repente me dá esse insight perturbador e total do que pode envolver a feitura dum poema. Tá certo. Não tô comprando assinatura da Veja, porra!
Ergo um dedo pra balconista. É a Soninha, toda dengosa e o cacete, peço um suco de melão. Me disseram que a Soninha tá dando pro poeta. Tão novinha, credo. O cara é quase sessentão. E barrigudo. E um tremendo dum pinguço.
O de sempre. Sem açúcar.
Uma vodka. Ele aproveita a oportunidade.
É por minha conta, ofereço, disposto a lhe fazer um agrado pra ver se desencanta.
Agradece cum relampejo de submissão no olhar.
Anotando meu pedido, a Soninha dá um sorrisinho pro lado dele.
Tá comendo, é? – não resisto à espicaçada.
Ele fica vermelho. (Ou se ruboriza, como dizia o primo em segundo grau do Monteiro Lobato.)
Sei qual é a desses zés-manés que se arrumam com balconistas e recepcionistas e empregadinhas em geral. Não têm peito pra encarar mulheres numa relação aberta, emocionalmente gratificante, de seu próprio nível e sua própria cultura, com quem possam dividir perspectivas e anseios sem a competitividade do mundo animal. Precisam se fingir superiores. Se sentem mais confortáveis com retirantes e comerciárias, marginais que aos olhos da classe média não têm condições de postular a papéis socialmente atraentes au au.
Soninha vem lá de trás do salão de jogos onde, dizem, habitam umas figuras barra-pesada. Vem esbanjando brejeirice pelos dentes e sedução pelos olhos.
Vem trazendo o pedido.
Brigadinho, fofa, se derrete o poeta, avançando a mão sôfrega para a bandeja, levando o copo à boca e sorvendo a vodka num só trago.
Pronto pra próxima.
Pego meu suco de melão e beberico. O poeta me olha de canto. Na certa me achando um marciano. Deve ter tomado o último suco há vinte anos, quando ainda havia alguém em sua vida que cuidasse dele. Engole a vodka e se posta de novo meio voltado pra parede, numa atitude entre ambígua e antipática.
Mais uma? incentivo.
Ele encolhe os ombros, fingindo indiferença.
Faço um sinal de vitória pra Soninha.
Agora quem olha de canto sou eu, infeliz. Sou fudido mas não além do ponto do não retorno de Nietzsche. É um sujeito inteligente, salta aos olhos. Podia ter um emprego público qualquer como tanto safado incompetente que descola uma boquinha imunda no funcionalismo. Preferiu o fogo fátuo do sonho. Ou o descompromisso suicida da vagabundice.
Soninha se reaproxima, duplicamos nossos pedidos.
Como vão as coisas? tento puxar conversa.
Ele encolhe os ombros, sem se dar o trabalho de corresponder ao meu sinal de civilidade. Ou de dissimular a má vontade. Me lembra uma época na juventude em que aspirava a ser um “independente social”. Dou graças aos céus por não ter con-seguido.
Chegam a vodka e o suco. Ele fecha os olhos e emborca o copo na boca e abre os olhos e exala. Parece relaxar. Finjo que presto atenção em algo na rua, não quero dar a impressão de que estou cuidando. De que posso intimidá-lo.
De repente desata uma sangria. Sai uma fala atropelada. Olho o rosto sem conseguir esconder que estou surpreso e ao mesmo divertido com a mudança repentina de comportamento. É fantástico o efeito do álcool no espírito dos homens.
Vai falando sem se preocupar em fazer nexo, uma barreira se rompendo por dentro, liberando matéria represada há anos. A expressão reservada cede lugar a uma careta atormentada. Os assuntos vão mudando sem aviso a intervalos de poucos segundos, saltando de acontecimentos da infância, a livros que leu ou está lendo, textos e poemas que escreveu ou está escrevendo, amadas que o deixaram por sujeitos pragmáticos ou prósperos, o apego ao álcool, a amargura de ter optado pela solidão, o papel vital da literatura em sua vida...
No momento estou vivendo o mito de Psiquê.
Como assim? pisco os olhos. Me desculpe, sou uma negação em mitologia grega.
Como de certo já ouviu falar, Psiquê significa alma em grego. E borboleta. Então pode deduzir que estou falando de transição.
Sei, faço que sim com a cabeça, estimulando que prossiga, receando perder a oportunidade de vê-lo se abrir.
Psiquê é uma bela princesa. Tão bela, que ninguém se apresenta como seu pretendente. Tudo que fazem é adorá-la. Seu pai, o rei de Mileto, vive a se perguntar se a filha um dia encontrará um marido. A angústia da dúvida é tanta, que um dia resolve consultar o Oráculo de Delfos. Como você também deve saber, todos que consultam o Oráculo de Delfos são obrigados a seguir o conselho recebido. Por isso, só os que estiverem de fato resolvidos a seguir o conselho dado pelo Oráculo devem se atrever a pedi-lo.
Hum-hum, incentivo.
O Oráculo recomenda então que o rei abandone a filha no topo d'uma montanha, onde haverá de ter um encontro com seu destino — e este será nada menos que um noivo não humano. Com a sorte lançada, só resta ao rei preparar Psiquê para sua desfortuna. E assim ele faz. Manda que vistam a filha como para o próprio funeral e a abandonem no mais alto penhasco do reino, os prantos da moça se misturam às lamúrias e aos lamentos de toda corte e de todos os súditos.
O que o rei não desconfia, porém, é que, depois de ser deixada à própria sorte, Psiquê acaba rumando para um vale encantado onde encontrará uma casa e verá atendidas suas necessidades. Na primeira noite seu misterioso noivo entra pela janela, a ama e, ao raiar do sol, parte sem que Psiquê jamais consiga vê-lo. E assim acontece noite  após noite.
Hum-hum...
Psiquê tem irmãs mais velhas, que, a julgando morta, visitam o penhasco para externar seu luto. Ao tomar conhecimento disso, Psiquê suplica ao noivo que a deixe ver as irmãs. O noivo tenta resistir, argumentando que não seria conveniente. Ante a insistência de Psiquê, porém, finalmente cede, desde que ela se comprometa a não revelar o segredo que existe entre ambos. E acrescenta: “Você está grávida. Se guardar o segredo, a criança será um deus. Se o revelar, será um mortal.” Dizendo assim, ele torna a partir, permitindo a vinda das irmãs.
Estas visitam Psiquê em duas ocasiões e durante suas conversas acabam sugerindo que Psiquê desposou um monstro. Psiquê fica aterrorizada com a ideia. “Oh, meu Deus, talvez tenham razão. Que devo fazer?” E as irmãs a instruem: “Esconda uma lamparina e uma faca sob o cesto ao lado da cama. Depois que seu noivo vier e fizer amor e adormecer, pegue a lamparina e ilumine o rosto dele. Se for mesmo um monstro, corte-lhe a cabeça com a faca!”
Assim procedendo, Psiquê termina por descobrir que seu desconhecido noivo e amante é Eros, deus do amor e filho de Afrodite, deusa da beleza. Afrodite está furiosa por uma humana ter lhe roubado o privilégio de ser a única adorada pela imensa beleza de seus traços, a ponto de Afrodite sentir-se desprezada. Sequiosa por vingança, a deusa obriga o filho a lhe prometer que irá punir Psiquê. Para isso, ele deve ferir a noiva com flechadas. Psiquê, em consequência, se apaixonará pelo homem mais torpe e indigno existente no mundo.
Sem escapatória, Eros se compromete a realizar o desejo da mãe. Acontece, porém, o imprevisto: ao ver Psiquê sob a luz da lamparina ele é invadido pela paixão. Temeroso de revelar a verdade a Afrodite, mantém às escondidas o caso de amor com Psiquê.
Mas então ocorre outro terrível golpe do azar. Na noite em que Psiquê decide descobrir a verdadeira identidade de seu noivo erguendo a lamparina para lhe iluminar o rosto, uma gota de óleo espirra da lamparina e cai no ombro de Eros. Despertando, ele é tomado de raiva e a recrimina por destruir o idílio que estavam vivendo. Sendo deus e dotado de asas, Eros alça voo e parte, magoado.
Ao se ver abandonada, Psiquê se entrega ao desespero e corre em direção ao rio que corre próximo de sua casa, se jogando nas águas, disposta a dar um cabo à própria vida. O rio, todavia, a lança de volta para a terra. Então Psiquê inicia uma peregrinação a diversos templos de deusas, implorando a ajuda delas. Porém, estas se recusam a interceder com Afrodite a seu favor.
Ante o desespero da donzela, a deusa da beleza se dispõe a perdoá-la. Só que, para obter seu perdão, Psiquê terá de cumprir quatro tarefas.
A primeira é classificar todas as sementes que estão amontoadas em uma sala. De início a reação de Psiquê é se entregar à angústia. Como poderá se desincumbir de tão impossível missão? se pergunta, sentada entre as sementes. De repente seus olhos se maravilham com o que veem: uma legião de formigas começa a separar as sementes, uma a uma. E, quando nasce o dia, estão todas organizadas por tamanho e tipo.
Quando volta e vê que a donzela realizou a contento a tarefa estipulada, Afrodite se irrita e lhe passa a segunda: deve recolher um punhado de pelugem dourada dos carneiros que pastam sob o sol e trazê-lo para Afrodite. Sem grande esforço, Psiquê atende à ordem recebida.
A terceira tarefa é encher uma jarra de cristal com a água dum riacho que corre do rio Estige em direção ao mais alto penhasco. Além de o rio cruzar o mais inacessível lado da montanha, é ladeado por dragões-víboras que a ameaçam “Não se aproxime!” E Psiquê pensa: “Não serei capaz de vencer esta tarefa!”. Nisso surge no céu uma ave. É uma águia. A águia de Zeus, que apanha a jarra das mãos de Psiquê, a leva rumo ao rio e retorna, entregando-a na volta cheia d'água à moça.
Para a última tarefa, Afrodite ordena a Psiquê que vá ao submundo, encha uma caixa vazia com a pomada da beleza de Perséfone, a deusa do inferno, e a traga para ela. Psiquê se deixa desanimar, considerando que a única forma de ir ao submundo é pelas mãos da Morte. Assim, sobe na torre mais alta, preparada para se atirar. Mas, pouco antes do último gesto, a torre lhe ensina como se livrar da dificílima incumbência sem precisar recorrer ao suicídio.
No caminho de volta uma ideia ocupa obsessivamente seus pensamentos: seus infortúnios começaram antes de tudo em razão de seu amor por Eros. E ele não a quer. Para que volte a desejá-la, pensa Psiquê, ela precisa aumentar ainda mais sua beleza. Assim, abre a caixa. Só que não havia ali beleza alguma e sim esquecimento e o mais profundo dos sonos. E ela então adormece instantaneamente.
Ao ver que Psiquê sucumbiu a um sono tão intenso que parece estar morta, Eros vai ao seu encontro, despertando-a. Leva-a para o Olimpo e anuncia aos deuses e às deusas que está finalmente disposto a se casar com sua bela noiva. Quando a beija, Psiquê acorda e dá à luz.
É uma menina, que os pais batizam com o nome de Alegria.
Ele encerra a narrativa com o olhar absorto nos ladrilhos da parede.
Ainda entretido com o relato, não me dou conta de que chegou ao fim. Podia passar a noite a escutá-lo falando sobre o mito. Soninha passa pelo lado de dentro do balcão e pergunta se queremos outra rodada. Faço que não. O poeta faz que sim.
Soninha traz a vodka e olho para o meu copo de suco vazio e meio que me arrependo de não ser alcoólatra. Ou poeta. Ou ambos. Parece haver algo recompensador por trás desse mundo encantado e dos homens e mulheres que nem imagino por que resolvem se dedicar à busca do fogo-fátuo. Por um segundo vislumbro o grande vazio da minha vida, que dedico e dediquei à procura de algo ou alguém que cumpra por mim minhas “tarefas”. Pelo segundo seguinte lamento dolorosamente viver nesta época que não se cultivam mais mitos, apenas se urdem mentiras.
Você acha que este mundo que fizemos está errado além da recuperação?
Ele dá de ombros. Tá na cara que acha. Mas este mundo que fizemos não parece ser sua maior preocupação.
Fizemos é tão imensamente amplo. Certamente fiz minha parte. Sujeitos como ele fizeram?
Pra minha sincera alegria, ele está sob euforia etílica. Uma cintilação em suas pupilas atesta sua disposição de continuar. Não duvido que falaria até o fim dos tempos se pudesse preservar esse estado de sobre-excitação.
Ouso uma pergunta direta sobre o que acabou de narrar: como, em sua opinião, nos situamos dentro dele?
Que mitos vivemos hoje em dia?
Ele me olha sério, um olhar não cúmplice, uma seriedade perturbadora. Por um instante receio estar diante de apenas mais um ébrio que se imagina em contato c’um espírito do candomblé capaz de proezas divinas. Testemunhei esse olhar de predestinado fajuto em muitos butecos vida afora.
Já capitulava ao tédio quando ele acrescenta:
Esse é o mundo que habitamos. E esses somos nós. Crisálidas. Crisálidas dotadas de alma. Precisamos estar prontos para a transição — abandonar o conhecido, desenvolver nossa capacidade de amar. Simbolicamente, a lamparina de Psiquê representa a vontade que cada um de nós tem de enxergar nossa própria situação e de ver quem são de fato as pessoas com quem vivemos e aquelas com quem pretendemos estabelecer uma relação forte. E sua faca significa nossa capacidade de pôr um fim a uma relação indesejada, cortando os laços que nos prendem a ela.
Então, indiferente à minha presença, se pergunta, tudo poderia ser tão simples, não é mesmo?
Vendo minha decepção, sorri. Tentei esconder, vejo que foi em vão.
É o que fazemos o tempo todo, não? Temos medo que os outros vejam o que sentimos. E por isso mesmo temos medo de nós mesmos vermos o que sentimos.
Faço que sim.
Soninha vem reabastecer os copos. Ele confirma. Recuso.
Está todo mundo e seu cachorrinho de estimação preocupado em se poupar, continua. Todos debruçados sobre esse infernal tabuleiro de xadrez que se chama Facebook. Não há ninguém com coragem suficiente para abrir seu próprio caminho, embora todos se julguem com tamanho controle de seus destinos. É um controle fictício, que deriva do hábito de mexer o mouse e apertar as teclas. Só que comandar o mouse ou o teclado não é o mesmo que comandar os rumos da sua vida. 
Então me lembro dumas fantasias que desde a adolescência jaziam soterradas sob os caminhos que tomei pressionado pelo pragmatismo. Por um terceiro segundo sinto um frio no estômago, temendo que aquela angustiante indecisão juvenil volte a se apoderar de mim. Tento me esquivar rapidamente da pergunta óbvia, mas não dá tempo: quer dizer que todo esse tempo em que me imaginava adulto estava só me enganando?
Me recuso a responder. Sou, afinal, o diretor do meu próprio filme. Pelo menos essa capacidade discricionária de nos auto-enganar a natureza nos deu.

Um mamão lava a outra

Silenciar: o meio mais prático e indolor e covarde de aceitar a injustiça.
A hipocrisia só se estabelece a dois, ou mais. É uma moeda de troca. Quando está sozinho, o hipócrita ilude apenas a si mesmo. A hipocrisia solitária é mais ou menos como dispor de dinheiro sem ter onde ou como gastá-lo. Torna-se assim meio que inútil. Um bom exemplo seria alguém a vagar num deserto, delirando c’uma garrafa de coca-cola gelada enquanto sente no bolso a carteira recheada de grana. É na presença de outro que o hipócrita efetivamente se realiza. Sem o outro não podem intercambiar a única coisa que têm em comum. E quanto mais hipócritas juntos houver, maior será o valor da hipocrisia. É nesse tipo de convenção que o hipócrita individual se congratula – conscientemente ou não – de ter investido a vida toda na arte da (dis)simulação. O que importa é enganar o senso de solidão.
O hipócrita procura sempre se afastar o máximo possível da verdade. Para ele a distância lhe parece tão natural, que muito cedo na vida ele perde a noção do que seja a verdade e qual seria seu propósito. Quando ainda conserva dentro de si algum resquício da verdade, o hipócrita ainda tenta aplicá-la em certas situações de seu dia-a-dia. Mas logo desiste – tais tentativas sempre resultam em dor, frustração e, horror dos horrores, conflitos interpessoais! O hipócrita acha que conflitos com outras pessoas são o fim do mundo e aos poucos – dependendo do caso, instantaneamente – decide que não vale a pena. É então que o hipócrita chega ao Grande Lema da Hipocrisia: pra que sofrer à toa se podemos todos ser relativamente felizes encenando uns pros outros? E o que ainda resta da verdade assim se esvai pelo ralo de sua consciência e da consciência de seus pares.
E dá-lhe convenção. É curioso como os hipócritas gostam de se reunir. Praticamente vivem para comunhar. É solenidade, festa de aniversário, casamento, enterro, um joguinho de dominó no buteco, um convescote no fim da tarde com colegas de trabalho. Até que nos últimos tempos lograram realizar a quintessência das convenções, a Mãe dos Congraçamentos. Bidu: as chamadas redes sociais, pracinhas de igreja de antanho multiplicadas por uma dimensão infinita onde bilhões de hipócritas se juntam para medir a hipocrisia uns dos outros.
E aqui recomeçamos o ciclo. A hipocrisia é uma moeda de troca. É uma espécie de paraíso em que as individualidades entram em suspenso para ceder lugar ao Grande Angu Coletivo. Após alguns exercícios de prática nessa modalidade, o aprendiz de hipócrita estará prontinho para se liquefazer como indivíduo em nome do bem comum. Daí a desenvolver o bom-senso é um passinho de bebê. É o bom-senso que distingue o hipócrita das demais classes de viventes.

Todo-poderoso


A formiguinha, tracinho errante na imensidão da mesa, de tão minúscula só pode ser notada a meio metro.
Já cansado de me aborrecer comigo mesmo, decido aporrinhar a pobrezinha para ver se assim dissimulo o tédio. Aproximo devagarzinho o dedo e me ponho a intimidá-la — cerco-a alternadamente de um lado e de outro, deixo-a distanciar-se dois centímetros, torno a vedar-lhe o caminho.
Com espantoso instinto de perigo para um ser tão ínfimo, ela prontamente se arma da única defesa que tem a seu alcance: toma-se de súbito desespero e põe-se a girar freneticamente em todas as direções.
Vendo-a indefesa e torturada, comprazo-me. Por alguns instantes distraio o olhar impiedoso com que vigio dentro de mim mesmo. Não por muito tempo, bem sei. Mas bastante para vencer a perplexidade. Bastante para não pensar no meu próprio beco sem saída.
Entusiasmado com meu sucesso, acerco ainda mais ominosamente o dedo da infeliz e em pensamento a desafio:
— Chegou tua hora, serzinho à-toa! Tua inútil existência depende inteiramente da minha deliberação. Sou agora teu juiz, teu verdugo, teu padre, teu médico, teu deus. Quem diria, hein? Quando nasceste seguramente não imaginavas que teu duvidoso e incerto direito de existir cairia nas mãos dum gigante prepotente. E agora? partícula de vida! Quem sabe consigas me convencer de que deixar-te passar seria um ato nobre de minha parte, demonstração de complacente sabedoria. Ou de que devo tolerar tua claudicante perambulação por minha mesa. E agora? coisinha petulante que tão galhardamente refestela-se com as migalhas do meu pão, dando teus indiferentes passinhos no eterno azáfama com que exploras o mundo do ser superior.
Aperto o cerco, roço-a com a ponta da unha. Eletrizada, zonza de comoção, ela executa a dança da dor. A natureza lhe deu várias habilidades, menos a de convenientemente sofrer um enfarte ou desmaiar de pavor ante a iminência do fim.
Comiserado de tão cruel padecimento, espeto negligentemente o dedo sobre ela, esmagando-a.
Afinal, como pode uma porcariazinha dessas ter tanto medo da morte?


Toma vergonha nessa cara


Minha senhora, estou extremamente grato por atender assim um po... mendigo que dedica a existência a zanzar pela cidade.
No começo, ficou receosa, não pude deixar de perceber. No wonder. Disponib... digo, escancarar assim a intimidade do lar a um completo desconhecido, quem seria capaz de tamanha generosidade? Inda mais com tanta gente por aí sofrendo de narcisismo mórbido, não é mesmo?
Ninguém. Ninguém seria capaz.
Tudo bem, atendeu a campainha pensando ser o vizinho ali da frente. Era ele o esperado, não era? Não se preocupe. Vou relevar. E não, não vou revelar...
Veja só como é intrigante esse encadeamento de coincidências.
Primeiro, seu vizinho faltou ao compromisso e quem apareceu no lugar dele foi este humilde vivente que vos fala. Segundo, quem faltou foi ele e quem tocou a campainha exatamente no mesmo horário fui eu! Se isso não é fantástico, que mais poderia ser?
Cá pra nós – e já rogando para que me perdoe a indiscrição –, que é que o dito rapaz vinha fazer aqui assim no meio da tarde? Principalmente considerando que teria de inventar aquela desculpa à esposa para vir sozinho? Seu marido, imagino,  não está em casa, está?
Hmmm, bem que desconfiava. Isso está me cheirando a...
O quê? Não tem nada a ver? É – e sempre foi – fiel? Não admite esse tipo de insinuação? Quer dizer que o sujeito vinha apenas tomar aquele nescafé como faz todas as segundas, quartas e sextas quando o maridão viaja a Campinas a negócios?
Sei. Nesse caso peço mais uma vez que desculpe. Mas espero que compreenda minha desconfiança. Os costumes tão liberados, libertinagem comendo solta...
Nada disso, minha senhora! Não é trocadilho não. Longe de mim tamanha grosseria.
Mas cá pra nós.  A senhora fez ou não fez uma forcinha pra dissimular a cara de assombro quando deparou cum desconhecido – no caso, eu? Confesse, vá! Não se preocupe, dona. Sou um men... um vivente discreto. Pra cunhar uma frase, minha boca é um túmulo, hehehe.
O susto que toldou sua fisionomia ao dar cum barbão azulado de sujeira... Tô certo ou não tô? Tudo bem, sei que pareço carregar um ninho de bichinhos rastejantes na cara. Também estou ciente do meu gorro ensebado e meu bafo azedo de cachaça sem limão. Sem falar destes andrajos imundos. Não foi à toa que esse seu braço que neste momento repousa na maçaneta simplesmente se recusou a obedecer o comando do seu cérebro para que batesse incontinenti a porta na minha cara.
E agora aí está a senhora com esse rostinho lin... digo, esse semblante preocupado, quase de angústia, sem saber direito o que fazer.
Se me permite dar uma sugestão, então dou: não faça nada. Não, mais que sugerir, imploro: só faça alguma coisa quando o estado de torpor e assombro em que me acho agora passar.
Rogo!
Tudo bem, não é assim tão simples quanto parece. Digo, colocar em risco seus ativos materiais. Sei como é. Ou melhor – como deve ser.
Afinal, como poderia saber? Nunca fui proprietário duma casa assim tão grande, tão chique, tão emper... elegante. Nunca tive nada. O único bem de que sempre dispus e ainda disponho no momento e provavelmente disporei até o dia da minha morte – que, como já devem ter deixado claro esta fisionomia alquebrada e minha pele amarelenta de cirrose crônica e esta voz rouquenha e desanimada por falta de saúde e de vontade de viver, não irá demorar muito... Bem, como estava dizendo, a única propriedade de que ainda disponho é este saco encardido no qual arrasto pelas ruas e avenidas desta selva de pedra uns poucos trastes que me sobraram.
E os mencionados trastes tampouco guardam algum valor monetário. Têm importância apenas sentimental, como não poderia deixar de ser. Se me permite, vou abrir o saco para que possa se certificar de que falo a verdade.
Veja.
Viu?
Fui sincero ou não fui?
Por falar em selva de pedra, rogo que a senhora me desculpe pelo infeliz clichê. Mas, solicito que convenha, não há dúvida, é mesmo sim senhora, embora não possa deixar de ressalvar que se trata de clichê de milimétrica acurácia e forte carga descritiva. Que outra expressão definiria a contento esta São Paulo de prédios e asfalto e minhocões e estações do metrô e essas infindas ondas de automóveis, ônibus e caminhões que não nos deixam caminhar em paz nem respirar direito? E essa algazarra dos infernos que não me deixa nem confabular com o Almeida e o Toninho, meus dois amigos imaginários?
Outrossim, quero alegar em minha defesa que sinto tanta fome, tanta sede, tanto frio, tanta solidão, que estou sem a mínima condição de descolar uma expressão original para me referir a esta cidade de Deus e o Diabo, beleza e feiura, tristeza e alegria, início e término, vida e morte.
E, além de não ter uma mansão como esta e nem nada de meu, nunca fui casado. Na verdade, sequer tive uma namorada até hoje, dá pra’creditar? E mesmo que tivesse tido ou me casado, minha namorada ou minha esposa não teriam nem dez por cento da beleza desta mulher que estes meus dois olhos também amarelados pela hepatite apreciam neste exato instante, sôfregos a ponto de saltarem das órbitas. Isso sem falar que os mesmos dois olhos já transmitiram ao meu frágil coraçãozinho de pedinte um recado simples e breve: que mulher... Que mulher... Que mulher!
Veja a senhora que ele, o meu frágil coraçãozinho de pedinte, parece que entrou em surto e não foi capaz sequer de descolar um adjetivo qualquer para qualificar a mulher dos meus... a mulher da minha... Bem, se não se incomoda, deixemos assim no ar. Acho que já me fiz entender.
E, olha, dona, não custa repetir, Deus lhe pague por acolher assim um pobre p... mendigo que vive às tontas pela cidade. Sem falar que a senhora ter entrado de repente na minha vida está foi a mais feliz das coincidências.
Sabe por quê?
Claro que não. Me desculpe a piadinha sem graça – a alegria até me faz perder a compostura.
A coincidência é que...
Adivinha!
Adivinhou?
Hoje faço anos!
Isso mesmo!
É ou não é a mais fantástica das coincidências?
E se eu dissesse que, mesmo não sabendo do meu niver, a senhora já me deu um presente? Acreditaria? Diria que um sujeito da minha idade devia se envergonhar de cantada ordinária? Debocharia de tanto lugar-comum numa única tarde? Ou simplesmente daria um risinho curto e cristalino com essa boquinha mais dengosa, mais sensual de todo o mundo, terminando por arrasar de vez meu coraçãozinho entupido de mel?
Na verdade, eu sabia.
Sabia o quê? a senhora haverá de perguntar.
Então, antes que pergunte, respondo: sabia que não ia deixar passar em vão. Pois, deixar o dia dos meus anos passar sem me dar parabéns não teria, com perdão da rima e da anáfora, perdão.
A senhorita estaria sujeita a uma penalidade.
Vejamos uma multa bem, mas bem dura mesmo...
Já sei.
Um beijinho.
Não!
Melhor ainda.
Uma beijoca!
O quê? Não vai beijando qualquer um assim sem mais nem menos?
Exige respeito?
Ah, tem toda a razão. Sou um po... mendigo, um cafajeste. Onde já se viu?
Então, que tal um... ãhn... um... uma... uma foto?
Mas uma foto especial só pra mim. Não dessas que já foram lambidas e devoradas por olhões grandes de...
Pode ser igual àquelas em que a vítima de sequestro é fotografada com um jornal do dia e a foto é enviada à família e...
Peraí.
Falando em olhões grandes e família, ao que parece a senhora... Está sozinha em casa?
Sei. Seu pai e seus oito irmãos estão lá no fundo preparando um churrasco, hehehe. Só falta o Capitão Gancho, né fofa?
Bom, já que a senhora não me convida a entrar, sou obrigado a dar uma de cara-de-pau. Como já deve ter notado, só não faço a barba porque sai serragem, hehehe. Sugiro que passemos a chave na porta, se não se incomoda. Tem muito safado à solta por aí, não é mesmo? Hehehe.
Uau! Exatamente como imaginei. Uma cacetada – pardon my french, hehehe – de artesanato nordestino. Comprou in loco ou foi na República mesmo? E esta manjedoura em crepom vitrificado, que lindeza, dona! Não me diga que é religiosa! Olhaí, outra coincidência. Tem algum santo predileto? Quanto a mim, sou devoto de são Henry, padroeiro protetor dos bêbados e tarados. Puxa, este jogo estofado lilás em couro legítimo tá um arraso! Vê-se que não costuma frequentar as Casas Bahia, hehehe.
Vem cá, minha franguinha assustada. Pode sentar a bundinha ao lado do papai. Bundinha é força de expressão, naturalmente. Vejo que a princesa tá bem servida de background, hehehe.
Isso... Pronto. Não vai doer nada. Digo, sente só o muque. Viu? Pois é, mourejar pelos confins da cidade deixa a gente duro. Não precisa academia não. Garanto que o anjinho e suas amiguinhas gastam uma fábula fazendo musculação, ioga e outras tranqueiras mais, não é verdade? Experimenta catar papelão e lata de brama por aí, dou um mês pra perder essa barriguinha...
Hmmm, mas que barriguinha mais perfeitinha essa sua, dona! Não tem pra academia nem trampo brabo não. É obra de deus. Ai que me dá água na boca!
Isso. Senta no colo do papai bunitinha. Xispa! tira essa carinha de emburrada, viu? Papai não gosta de menina malcriada. Aqui, encosta a cabecinha no meu ombro. Só não vale chorar.
Agora vamos se livrar dessa calça, ai que apertada, deve de dar até nó na circulação. Pronto. Isso, abre...
Ana Rita se vê numa banheira de suor. Passa o dedo médio da mão direita entre os grandes lábios, está molhada de vontade. Não, quer ser sincera pelo menos uma vez. Volúpia. Se sente meio boba com a palavra. Lembra Romance Moderno, que lia na adolescência, um desses lixos da Abril. Enfia o dedo na boca, lambe. Foi sonho? Pesadelo? O engraçado é que não importa, hehehe.