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Por que é que a poesia — não sei se toda — deixa de existir assim que é feita?

Tralha pseudo tralha que brota feito tralha

Gente que se leva a sério demais é a mais chata que tem.

Era intolerável a pomposidade, a frivolidade, a irresponsabilidade ade ade com que os auto-intitulados doutos proclamavam as mais grossas asneiras com suas bocarras entupidas de ade ade ade.

Zé Patusko vivia fazendo preleção sobre Eliot mas sequer grafava direito o nome do cara. Escrevia com dois eles. É erro comum entre os iletrados.

Arzírio subia pelas paredes quando eu esculachava Umberto Eco porque nas escolas por aí professores semiletrados acham que Eco faz literatura quando Eco não passa dum erudito, também professor, que se limita a cagar seu conhecimento em forma de livro.

Vampirinho de Diadema tinha o desplante de anunciar PASME! a quem quisesse escutar que Brahms era lixo! Cara, é o cúmulo da ingenuidade safada! E típico do adolescente brasileiro que pensa que sabe mais que todo mundo. Esse não sabe absolutanihil. E passava dia e noite por estas bandas soltando suas pseudices pelo rabo.

Nunca houve por aqui um só energúmeno minimamente honesto pra se dizer leigo e disposto a aprender. Au contraire, eram todos mestres de merda, frustrados que nutriam essa fantasia tão encontradiça em frustrados de querer parecer o que não são.

Alex é um sujeito legal mas sisudo além do razoável. O primeiro requisito para quem se dispõe a trabalhar com as palavras é exercitar seu desconfiômetro diuturnamente. É demasiado fácil cair no ridículo de se achar. Essa molecada toda que vem aqui anunciar VEJAM ESCREVI ISSO ESCREVI AQUILO! cara, é doloroso. O primeiro requisito para quem se dispõe a trabalhar com as palavras é exercitar a HUMILDADE. Nada mais patético que semianalfabeto dando uma de nobel. Gente que fica se autopropagandeando me deixa com a pulga dentro do sapato. Aí é que NÃO LEIO. Eu me autopromovia mas meu caso é diferente, sou escritor, não um dilentatezinho de inteira pataca metido a Graciliano. O primeiro requisito para quem se dispõe a trabalhar com as palavras é a HONESTIDADE. Como é que você vai encarar um sujeito que logo de cara se mostra sacana, se dizendo o que não é? Que literatura um bocó desses pode lograr? Tenho trinta, quarenta livros espalhados em minha mesa neste instante, fora os que estão na estante (o primeiro requisito para quem se dispõe a trabalhar com as palavras é NÃO COMETER RIMAS ACIDENTAIS), por que é que vou perder tempo cum neurótico mimado que se acha Goethe por ter ajambrado um palavreado ado ado mambembe num página da rede?

A internet foi/é o golpe final na literatura. Qualquer zé-ninguém mete lá seu alfarrabiozinho tosco e solta o gritinho de tarzã enchoruscado propolando a obra-prima.

Carinhas que se auto-anunciam poetas, esses então são ão ão bundão. Poeta não tem diploma, porra. Não é título de nobreza. Larga a mão dessa pretensão caricata de usar a poesia pra dar uma de gostoso. Poeta é quem faz poesia, não um deslumbrado em busca doentia de prestígio.

Pouco antes de puxar o carro cu rabo entre as perna(s), Zé Patusko disse que ainda estava por aqui porque tinha publicado um livro que queria promover. É essa a ideia que essa gente tem da literatura. Estão atrás é da bacanice de ver seus nomezinhos estampados na capa dum livro. Aposto que ZP botaux sua brilhante obra em destaque na estante da sala de modo a ser avistada por todos que chegam. O incauto vem, senta, toma um cafezinho, ZP sem falar nada, só no antegozo. Conforme a chalera ferve, ZP vai levando o tema pra literatura. Se o visitante ainda não pesca, ZP vai esquentando o assunto pro lado da publicação. Se mesmo aí o cumpadi ficar boiando, ZP parte pras gabeza e, como quem não quer nada, comenta en passant, poizé, publiquei esse livrinho ano passado, coisinha modesta, só pra consumo interno, sacumé...

O primeiro requisito para quem se dispõe a trabalhar com as palavras é SEMANCOL.

E o primeiro, CONSISTÊNCIA.

Amém ão ade ando mé.





Tributo aos que morrem cedo ou tarde, no lugar certo ou no errado

Para bailar la bamba se necesita una poca de gracia, any man who is under 30 and is not a liberal, has no heart; any man who is over 30 and is not a conservative, has no brains, aya sí sí sí, soy un perrito a quien mamá le enseño a ladrar en varias lenguas pero no a le menear la cola, chuchuzitas del poeta, mis versos están liberados para que todas puedan comprobar que, sí, soy un muchacho amado, guardo dentro a mí dos bestias, una es buena y docil, la otra, mala y feroz, a la buena le alimento con mentiras, a la mala le mato la sed con balla12, señoritas, paren de cumplir años, cánsanme tantas congratulaciones, estoy enamorado de cada una de mis guapas amigas, cuando mirar alrededor quiero estar cercado sólo de lo que me interesa, soy feo, reína, casi deforme, y comprendo tu repugnancia, pero tu belleza esplendorosa ha de deslumbrar los ojos de todos cuando nos miren juntos, soy enamorado de la vida y de todos quienes la vida me ha dado, mi loro voz del diablo, acá en Suempa estamos a comenzar la primera fábrica de suempejos del mundo, quienes crean cuervos deben acostumbrarse al nunca más, esta mañana he hallado que siempre me gustó ser un vorbitor, acá estoy, su vorbitor de todos días, soy brasileño de un pueblo cerca de Suempa, tengo inquietudes sobre el plan de dios de lanzar al infierno todos quienes están conectados umbilicalmente entre ellos, no hablo alto, entonces nadie me escucha, reclamo la cuota de amor a que hago derecho, soy un catalizador internacional de centellas, rayos y dolores.

Ele voltou XVII

...continuação de...

Ele queria ser professor, chegar na classe e anunciar “descobriram uma solução para o desenlace nuclear!” mas não tinha nada a ensinar, não lhe interessavam coisas que o desafiassem ou o ameaçassem, não gostava do que fosse complicado, com o mesmo deboche com que falava de seus conterrâneos calhordas, sentia-se no céu quando deparava com algo possível de ser explicado, todos os dias mandava aos sites jornalísticos mensagens exigindo que parassem com as notícias chulas, boçais, frívolas, que começassem a ensinar o povo a pensar, senão explodiria todos eles, ficava doente quando não lhe davam bola, políticos, tinha ganas de assassiná-los, quem não tem? gente safada não tem, nunca acredite em palavras, só em ações, começou a me dizer certo dia e continuou dizendo todos os dias até morrer, não pense no ontem, não é possível mudar o mundo, não é possível melhorá-lo, a questão não é abolir, refrear ou mitigar a violência — mas usá-la corretamente, não devemos parar nem dissuadir os audalílsones a parar de rezar, e sim passar a olhar jesus como um aliado, a maioria de nós pensa que segue na direção certa, apenas cometendo alguns tropeções no trajeto, nos permitindo alguns pequenos deslizes que no fim não farão grande mal, mas aí reside o engano: caminhamos na direção completamente errada, nos habituamos a desculpar nossa própria negligência alegando que é apenas reflexo das próprias condições, injunções e possibilidades humanas, desculpa esfarrapada, cada um dos erros que cometemos e que permitimos que outros cometam e os quais vivemos justificando — sempre cometendo-os em nome da nossa necessidade de liderar e de ser liderados, de amar e de ser amados, de dominar e de ser dominados, de subtrair e de ser subtraídos — poderiam ser evitados se quiséssemos, mas essa obcessão com o sucesso sucesso sucesso, trabalho trabalho trabalho, prazer prazer prazer não nos permite enxergar, por que somos tão confiantes na ciência? lógica? progresso? porque meia dúzia de bastardos no mundo usufruem tudo que podem de algumas certezas que estabelecemos como inquestionáveis e o resto de nós só toma no rabo, de que servem os avanços da medicina se não podem ser estendidos a todos ou ao menos à maioria ou ao menos a um grande número de pessoas? de que serve toda essa tralha que nos dão o que designamos conforto se é acessível a apenas cinco por cento da população mundial? mas isso não é o pior, as teorias hipóteses conceitos métodos visões princípios dominantes foram desenvolvidos para defender essa situação, te dizem, olha, vem e pega e vive e desfruta e saboreia e sê feliz, desde que tenhas dinheiro para comprar tudo isso, se não, fôdasse, vivemos o grande enorme majestático formidável fôdasse, a selvajeria institucionalizada, a lei do cão surdo, cego e mudo, o passaporte para a felicidade é o dinheiro e não importa porra nenhuma se você é um fodido que não teve a graça divina de nascer em berçodouro, eis o nó da questão, a sorte, “a” sorte, mas quando você tem a sorte de pegar uma 45 e ir atrás do que considera seu por direito natural, pensando, não nascemos com sorte mas vamos conquistá-la na marra, vai se foder do mesmo modo, pois essa ordem está estabelecida desde o princípio dos tempos e ninguém pode refutá-la — e aos que feito você ousam cabe o mesmo prêmio que todos seus antecessores receberam, balaço no crânio, a prerrogativa de atacar e defender-se sob a lei da selva só a têm os sofisticados de ternegravata e colares de pérola que herdaram de seus ancestrais a capacidade de exercer a violência ao extremo para proteger suas posses — a pusilânimes só resta rezar para que a vida passe depressa ou ter tido a sorte de nascer com coragem suficiente para soltar um balaço no próprio crânio.
Então você coça a cabeça e pensa confuso, Porramerda, podíamos ter nascido na centralparkavenue, azar, fomos cair no Pé Sujo. Eis o verme da Grande Lógica fazendo tuneizinhos na tua plúmbea cabecinha. Teve o azar de desabrochar no berço errado e se se atrever a contestar será abatido a tiros feito um cachorro sem dono. É a Lógica do Direito. Os que têm têm direito a ter; os que não têm têm direito a tentar ter — desde que não violem o direito dos que…. Putaquepariu. mero jogo de palavras do discurso prevalecente… sistema de vida tão enraizado em nossas cabeças, que jamais ousamos duvidar. Quando as coisas dão errado você pensa, Porra, onde EU errei? Todos fomos ensinados a reagir assim. Esse é o Princípio do Homem Maduro — somos adulto, portanto responsável por nosso mundo, atos e dores. É a ideologia usada pelos psicanalhas. Não se absolva. o errado é você, não o mundo. Mas isso também significa que os outros estão certos por você estar errado. A cada um de nós cabe nosso lugar e quinhão de dor e de alegria. Só depende da nossa capacidade. Quem mandou não nascer mais inteligente, com vocação para engenheiromatemáticodoutor? É tão simples assim. Tivesse um pouco mais de neurônios e/ou de talentos e/ou de sorte e/ou de capacidade de amar e/ou o Caralhoaquatro e você agora estaria do outro lado. Outra geografia aritmética histórica. Tudo seu seria outro. Você outro. Seja afirmativo rapaz. confiança. força. Olhaí esses coitados que perambulam pelas ruas com o espinhaço arqueado sob o peso da derrota. Que desperdício. Mas você no fundo sabe que o único desperdício que vale a pena é o nuclear. Você sabe, será essa sua entrada no céu. É claro que tudo vai acabar mal. Um dia as bombas desabarão das nuvens e o mundo chegará ao fim. O que começa por acidente termina por acidente — eis a única lei infalível. Nunca temos dinheiro suficiente para pagar o preço. Basta de mentiras — trabalhar para o progresso social não faz parte da natureza humana. Nunca temos dinheiro suficiente para pagar o preço.
Recebo a primeira facada na boca do estômago, dobramos o corpo para a frente mas não é mais possível me proteger, levamos as mãos à barriga, erguemos-as à altura dos olhos e os olhos olham-as passados tingidas de carmesim, pensamos na expressão do teu rosto vendo-me ser furado a peixeira, perguntando-se, na boca do estômago?

ipjj4r2 ou Enquanto penso em não fazer a barba

Um toque breve, um segundo longo, um terceiro breve. Soninha tocando a campainha com nosso código secreto.
Paro no meio da sala e prendo a respiração temendo que ela me escute lá da rua.
Três batidas na porta. Me abaixo atrás da poltrona.
Ela vem insistindo para que lhe dê uma cópia da minha chave. Até agora logrei despistar sem muita bandeira.
Uma hora terei de abrir o jogo. Ela vai chorar. Não quero magoá-la.
Estou exausto de causar mágoa. Facilidade inata de que gostaria de me livrar, se pudesse.
Ouço passos se afastando, o portão da rua batendo. Inacreditável como ela acredita em mim.
Sô, me perdoa, mas agora não posso.
Estou ocupado, benzinho. Com as minhas lembranças. Que ressuscitam velhas angústias.
Com as minhas dores, velhas, novas, novíssimas, recém-nascidas dadas à minha luz à medida que o sol se ergue lá fora.
Não, amor, não posso me distrair agora. Nem com você nem com ninguém. Ou com o sabiá-laranjeira que há horas insiste em me chamar empoleirado no bico do telhado da casa vizinha.
Pois estou chegando e tenho de me acolher. Com toda a atenção que puder. Não posso me arriscar a me perder, desaparecendo no fim das minhas ruas sem escutar o que tenho a me dizer. Tem hora, trago novas. Tem dia, me entretenho, me surpreendem descobertas, me entusiasmo com as boas, me decepciono com as ruins.
Você é tão bela, adorada. Sua beleza e doçura me assoberbam. Não posso permitir. Não agora. Tenho o dever de me concentrar.
Pois estou passando. E quando passo o frio permanente em meu estômago dá uma trégua, me concede cinco minutos de lucidez e sossego em que o que há em mim deixa de ser terrível para que eu possa ir-me em paz, me deixando relativamente incólume para uma nova, imprevista visita.
Então, tesouro, Machado tem esse soberbo dístico sobre a aventura de viver.
Obrigado, mas não preciso das suas lições de vida.

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A poesia é assustadora.

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Propaganda do Banco do Brasil vista num site:

PROTEJA SEU BOM-HUMOR

escarrado sobre a cara dum sujeito nauseabundamente feliz.

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Não me explica.

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Encontrei alguém que vale um tico de pena ontem: aqui.

O sujeito chama-se Claudio Tognolli, de quem nunca tinha ouvido falar.

Por coincidência, o primeiro vídeo que assisti fala da bobagem que é separar a política em esquerda e direita. É dos meus, exultei ei ei.

Abri outro, fui vendo. Esse cara é bom, me alegrei. Cultura, independência ideológica, coragem de dizer o que tem de ser dito. Finalmente um oásis no imenso lixão internáutico.

Sem aviso (hehehe), o sujeito se gaba de quantos livros tem na biblioteca.

Mais avante, se enche de orgulho do apê nos Jardins, "próprio", faz questão de frisar.

What de fuck? De repente tudo desanda numa exibição frívola de currículo e êxitos e historiazinhas jossoáricas.

Pensava ter encontrado alguém que valesse um tico de pena ontem. Onde? Nowhere.

Época besta, esta ta tá. Mesmo os mais inteligentes se acham deuses por terem um público, diminuto que seja, e partem para o egocentrismo mais descarado e nauseabundo. 

Isso que dá quando os pequenos tentam se inebriar de grandeza.

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A H Stern na certa teve o bom-gosto de presentear a ex-primeira-dama do Rio, encarcerada há três dias no Complexo de Bangu, c'um par de algemas de ouro.

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Artigo primoroso de João Pereira Coutinho hoje na inglória Folha de S. Paulo.

Coutinho é o único articulista em cujas linhas ouso passar os olhos hoje. Cultura sólida e não fraudulenta como a dos outros, visão histórica, ou seja, infenso à tralha de modismos que brota qual praga nas mídias e nas redes, e, acima de tudo, faz uso do cérebro, o que não é pouca batatinha. Como dizia aquele sujeito que inventou a vitrola, apenas pouco menos de cinco por cento das pessoas pensam.

Agora que a luz do sol volta a brilhar nesta parte do Hemisfério Sul depois do pesadelo de oito anos sob os delírios etílicos do reizinho mitômano e mais de cinco a padecer com as psicopatias da mulher mais inacreditável que já sentou e jamais tornará a sentar a bunda no trono presidencial, finalmente podemos apreciar nossos horizontes duma distância razoavelmente segura.

Articulistas, todos, deram o que tinham que dar. Uns, cheguei a pensar que sobrariam relativamente incólumes da refrega contra a barbárie lullopetista. Foram os casos de Demétrio Magnoli e Fernando Gabeira. O primeiro logrou obrar duas ou três peças valorosas de denúncia contra a quadrilha governamental, mas terminou por se perder na afetação estilística, evidência de inidoneidade de propósitos, e na confusão ideológica, prova de hesitação. Meu desencanto com Magnoli se cristalizou quando o próprio Coutinho o chamou pro pau a respeito dum texto em que o brasileiro botava toda a responsabilidade do impasse entre Israel e palestinos nos primeiros e o sujeito deu uma de joão sem braço. Pra quem, como Magnoli, vive botando banca de oráculo em matérias geopolíticas, foi uma retirada de campo vergonhosa. Conheci Magnoli nos idos dos anos setenta na USP e tudo de que me lembro dele é que vivia interrompendo as aulas alheias pra dar aquela típica discurseira estudantil inconsequente e fazer agitação política. Quer dizer, interrompia minhas aulas nas raras vezes em que eu estava longe do balcão do Bate-Pinga sorvendo uma das minhas hipergeladas kaipiroskas de figo com caqui.

O outro, bem mais consistente em termos de ideias e posicionamento político, também logo mostrou que, papagaiando a sentença de Paulo Francis sobre Clarice Lispector, não tem fôlego. Lembro que o próprio Gabeira reclamou desse tipo de cobrança quando lançou O grebúsgulo do Majo logo depois de O gue eh izo gombanhero? e a crítica caiu de pau choramingando que o segundo livro não espumava com a mesma verve do primeiro nem causaria o mesmo frisson nesta nossa dorminhoca cena literária. De novo, o próprio Francis, na ocasião, veio em socorro do mancebo que então passava a se banhar em Ipanema em sumaríssimo maillot rosa-pink, pra desgosto nada prolifilático dos esquerdosos de O Pasquim, à frente Jaguar e Ziraldo, aquele que não descansou enquanto não descolou uma pensão vitalícia às nossas custas por ter sido "perseguido" na ditadura, atitude devidamente ridicularizada pela insuperável mordacidade de Millôr: então não era ideologia, era investimento. Por falar em Folha, outro de seus colaboradores que também arrumou uma bela bufunfa mensal até o fim de seus dias pra se refazer dos tormentos da "perseguição" é o soporífero acadêmico Carlos Heitor Cony, de quem comprei dois livros há umas décadas e não consegui passar da segunda página.

Ainda na zona de rebaixamento, não poderíamos omitir o triste caso daquele que um dia despontou como o mais feroz combatente dos desmandos lullopetistas, só pra se revelar um vendido safado quando o desgoverno da psicopata aléxica já dava mostras de degringolar. Pra cúmulo dos cúmulos, hoje o dito vendilhão tem o descaramento de atacar Sérgio Moro e os rapazes da Lava-Jato que estão tentando higienizar a pocilga em que se transformou este país e fazer pouco dos que se manifestam nas ruas contra os políticos. Como bem sabem meus quase três leitores e dois-quartos, fui um dos primeiros escritores antipetistas a assacar o indicador teso e indignado contra o narigão torto desse pequeno jornalistão que aluga seu teclado aos pamonhas tucanos e, dizem as boas línguas, ao sr. Gilmar Mendes. Como ninguém me arrumou uma cadeira na ABL nem um púlpito na Veja, porém, não deu no Jornacional. 

Nem tudo, porém outra vez, são decepções.

A luta contra os abusos intoleráveis de lulla e sua gangue veio por trazer a lume um pregador do brio de Marco Antonio Villa. Dá gosto de ver seu ânimo vingador e denodo no Jornal da Cultura, dedo em riste contra a câmara, aplicando ao pinguço os apodos merecidos. E revelou também o mais fino estilista de todos que se enojaram com os despautérios lullistas, o escritor e articulista de O Globo Guilherme Fiuza. A primeira coisa que nota o leitor das crônicas de Fiuza é que o autor nunca, jamais apela pra primeira pessoa do singular. Ao contrário daquele manjado cabotino neurótico e deplorável que pretende ser a estrela única e incomparável dos próprios artigos e que sobe nas tamancas quando se vê alvo duma chuva de achincalhes.

O artigo de João Pereira Coutinho hoje na folha tem por título Argumentar com defensor de Fidel em 2016 é degradação do nosso intelecto. Pois é. Nem precisava desenvolver o tema.

Que pretendo desenvolver one of these days. Argumentar com defensor do peetê e de lulla depois de tudo é insultar nosso cérebro. Antes da eleição do vigarista, com perdão do pleonasmo, sindicalista, costumava pensar que esses caras deviam chegar ao poder. Só assim o povão teria a chance de ver de perto e sentir na pele a incompetência abissal dos esquerdistas que, tal como a maioria dos intelecas, habitam o reino da fantasia. (Quer dizer, a manada lá de baixo, a massa de manobra. A nomenklatura no topo sempre se dá bem, obrigado.)

Assistindo agora à ressurreição dos discursos e das declarações mentirosas de petistas e psolistas e comunistas e congêneres, se fingindo escandalizados com o governo Temer como se a inimaginável avalanche de erros econômicos e de falcatruas bilionárias daqueles treze anos tivesse sido obra do além, me dou conta, estarrecido, de que a máscara não caiu e nunca haverá de cair.

Daí, em parte, os articulistas soarem agora quase supérfluos. O uso da razão parece inútil. Todos, absolutamente todos os argumentos foram postos no tabuleiro, com a necessária propriedade, com a devida explicação. Citando o epitáfio de Lobão (o cantor, não o ministro de dilma), discutir com petista é como jogar xadrez com pombo, ele vai derrubar as peças, cagar no tabuleiro e sair de peito estufado cantando vitória.

Foi preciso um não-inteleca pra decidir a parada, um artista, um cara que, antes de pensar, sente. Vivo fosse, o conterrâneo de Coutinho Pessoa certamente emitiria palavras ainda mais lapidares para o túmulo desses zumbis putrefatos que se recusam a calar as bocarras babonas.

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Um antigo leitor (não vou declinar o nome, não sou esnobe (ih, agora já esnobei)) escreve para dizer que minha escrita vai ficando cada vez mais suja.

Ah, esses higienistas. Um, esses eugenistas.

Intelectuais acabam virando intelectuais principalmente por uma necessidade de purismo. Tentam reconstruir no mundo das ideias a perfeição inencontrada no mundo dos fatos. Daí a formidável abundância de bizarrices pseudas. Primam aqui aqueles intelectuais que não têm intelecto suficiente para proclamar que o são.

Reverberando minha postagem anterior, não tenho saudade quase nenhuma de quando me preocupava em escrever bem. A boa escrita pode ser uma armadilha e é na maioria das vezes. Por isso há mil profes pascoalinos para cada grande escritor. Hemingway vivia reclamando que Dostoiesvy escrevia mal e não há termos de comparação entre ambos, apesar da tietagem descarada (e pour cause) de Carpeaux no célebre prefácio que escreveu para um livro do americano lançado aqui no meado do século passado.

Tudo bem, podem dizer que as ideias formam um mundo à parte, tal como o espírito. A questão é exatamente essa. Pretextos como esse é que têm resultado em inefáveis tragédias ao longo da história.


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Será que em épocas passadas, também atormentadas pela "crise" como esta e como qualquer época sempre será, será que em épocas passadas assistir a um carrão luzidio a deslizar pela rua cheio de brilhos e resplandecente de fricotes e abarrotado de penduricalhos a clamar aos quatro ventos a opulência e a falta de bom-gosto e a falta de compostura e a indigência cultural do proprietário, será que em épocas passadas assistir a tal espetáculo era tão nojento quanto é hoje?

Ou terá cada época a crise que merece?

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A morte de Ferreira Gullar enterra com o manto da humanidade a tragédia do time de futebol e seu velório interminável em que a grande imprensa chafurda impunemente, embora um calhorda na Folha tenha decretado que a mídia saiu "digna" da cobertura do evento.

A morte de Ferreira Gullar finalmente ensombrece o fim tardio d'um dos mais infames homúnculos do século 20, o assassino cubano cujas cinzas odientas vão passeando de cidade em cidade do Caribe nas telas das tevês e dos computadores e dos celulares qual a mais asquerosa das tochas olímpicas humanas.

A morte de Ferreira Gullar salvou meu fim de semana da repugnância absoluta para o enclausurar no fundo da mais sombria tristeza. Eu, que quando nada mais me dava uma gota de conforto, costumava me refugiar neste pensamento: "Inda bem que Gullar inda está vivo, mein Gott".

De novo na Folha, leitores choram a morte do poeta chamando-o de Goulart, Goullart, Gullart e outras grotesqueries mais, citando versos que nunca leram, destilando as bobagens de que só leitores de jornal são capazes. Um lá bota Gullar ao lado de "Drumond", santa mãezinha.

Há semanas venho tentando me conformar: minha repugnância pela boçalidade humana vai me matar antes que o câncer.

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Ao contrário da maioria das pessoas que se consideram sensíveis, não vejo mal no utilitarismo.

O único problema é quando, depois de utilizar os sentimentos alheios, o utilitarista não vê mais utilidade na presença, ou na existência, do outro.

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Como é nauseante essa gente que se entrega insensatamente ao papel que a vida lhe designou.

Como é deplorável essa gente que se entrega alegremente a seu papel biológico, a seu papel social, a seu papel sexual e sai por aí a exibir orgulhosa a tolice de suas certezas.

Como é desprezível essa gente que se deixa escravizar docemente e sai por aí à procura de escravos semelhantes, escravos equivalentes, naturalmente.

Como é intolerável esta peça de atores e atrizes distraídos.