Você é esperar, olhar, escutar, respirar


Ao onipresente, permanente, inescapável Pessoa
Ditador de todos os dedos, 
Amestrador de todos os anseios 
Condutor de todas as línguas
Deixo um recado:

Estou doente de mim
E de mim não quero a cura

Pela presente
Opto
Pela confirmação
Do meu eco

Aos de inebriante charme



(Você já se deixou seduzir por pessoas de inebriante charme?)

Tantas sedutoras, traiçoeiras pontes evitei prometendo que, se quisesse, me levariam aonde nunca fui.
É muito longe esse lugar? sem grande interesse perguntei.
Just in case, os ouvidos apurei e eis a resposta que eu escutei:
"Que nada! Te surpreenderás quando souberes. Pois é o lugar mais próximo que jamais haverá!"
Então pedi "Pontes, me tragam de volta", esperando por eco um riso de escárnio seco.

E quem pensou que desta canção nasceria uma edificante lição, sinto muito, muito se engana. Quem edifica é mestre Quintana.

Um brinde à preguiça


Não sei remedar qual papagaio, não sei adorar ídolos, não sei apertar parafusos na linha de montagem, não sei seguir trilhas, caminhos, sendas, veredas ou qualquer porcaria muito pisada. Sorry. Quer um robô? Tenta a lojinha do china ali na esquina.


Apesar desta minha cara não sou boneco inflado de aboborinha metafísica. Você é que não... Deixa pra lá.


Ela me abandonou pra morar na Av. Independência. Quem diria?


Não se imagine o alvo de tudo em que miro.


Pior que a física é a solidão virtual ona ona.


Por favor, entre e sinta-se no meu blog.
Não repare minha transitoriedade.
Relaxe. Aceita um balla12 enquanto arrumo minhas palavras? 
Só vai levar mais 20 minutos.


Um sorriso automático pregado na cara não significa bom humor.


Cuidado. De repente me dá vontade de cantar Wagner.


E pensar que tem gente confundindo sensualidade com genitalidade. Onde é que estamos?


Meu problema é que me avassalo ao carrasco que há em mim.


Queres um homem responsável?
Procura um gerente de banco.
(Ugh, há mulheres que preferem gerentes de banco.)
(Ora, há mulheres que não suportam poesia.)


Não, não confio em loiras tingidas
O Mal do Mundo? Sim, loiras tingidas
E, não, quem está sempre sóbrio nada tem a me dizer.


Lispector tascou o seguinte:


Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas o que é possível de fazer sentido.


É até bonitinho. Trisca umas purpurinas na nossa cabecinha. Só que impossível de concretizar. Ao enxergar o mundo, o freguês o reduz às suas limitações, queira ou não. Não temos a capacidade de captar o que não nos faz sentido. Não podemos sequer pensar "nele". Intelecas se acham capazes de qualquer pirueta fatual para obrar uma boutade. As palavras são nossa única relação racional com o mundo. Fora delas tudo é escuridão. A (boa) poesia às vezes nos descortina o irracional. É o que chamamos "deleite estético" — que não vai muito além disso, de qualquer maneira.


É por isso que a boa poesia nos toca um nervo ao mesmo tempo em que nos deixa aquela sensação de fome metafísica zica zica.

Folgo em saber


Sy,

Neste mundo conturbado de vaidades, nesta vida retorcida de egos hipertrofiados (inclusive o meu) (o que é natural, diga-se; escrever, entre outras coisas, é tentar satisfazer a necessidade de reconhecimento), você tem sido uma verdadeira mãe pra mim. Não é todo dia que se pode ter contato direto com a insipiência etária.
Você e aquele rapaz nascido em Palmeira dos Índios e que tragava quatro maços por dia e zanzava pra cima e pra baixo cum chapéu igual ao do meu pai me ensinaram que a prolixidade vem da falta de sinceridade.
Prestes a botar o dedão na ferida, você se borra de medo, recua, rodeia, tergiversa.
Não, não estou te xingando nem julgando – só tentando transmitir o que aprendi a duras penas com a idade. Tem coisa que vem só com a idade. Tem coisa que vai só com a idade. (Por falar etc., foi o que houve com Drummond, é o que há com todos nós.)
A sinceridade na escrita é o mandamento no. 1. Todos os demais (quantos?) dependem dela. Por isso 93,26 porcento do que se escreve, da internet à academia, é lixo.
Por isso Rimbaud é gênio. Dezesseis primaveras e já galgava os píncaros da literatura francesa. A mais pura poesia sem praticamente nenhuma experiência de vida. Não é pra qualquer um.
Enquanto esses e outros ecos longínquos ricocheteiam em meus pensamentos, me lembro que é mais ou menos como associar Nietzsche e super-homem e como virou clichê e como a maioria não pestaneja em abusar deles. Tem gente que acha Nietzsche anti-semita, o que é simplesmente bobagem. Ele só foi usado para fins de propaganda por Adolf. Nietzsche era tão genial, que com o tempo um cipoal de mitos floresceu em torno dele. [...]
Para os não estudiosos da filosofia, o segredo é ler Nietzsche literariamente. Nietzsche, entre centenas de defeitos a que os medíocres se apegam quando não suportam a própria mediocridade, era extremamente vaidoso. Se dizia o maior escritor da língua alemã (e você pensa nos escritores alemães, Goethe incluso, e chirrisqueia, uau, não é pouca porcaria).
Saca só esta introdução a Sobre verdade e mentira no sentido extramoral:
Em algum rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da "história universal": mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza, congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer.  (Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho.)
Pois é.
Potente qual um coice, belo qual um relâmpago no breu da noite, definitivo qual um túmulo.
Moleque eu já tinha por projeto ler toda a Bíblia. Fiquei anos ciscando, levando o tijolaço na bolsa, lendo no trem rumando para a Estação da Luz (meu, que nome pruma estação; poesia, onde estás que não te encontro?).
Até que um dia li O anticristo. Bye-bye, Bíblia e outros monumentos do homem à mentira e à insensatez. Benzinho, vou querer aquele azulzinho e este Nietzsche básico.
Não sei se postagens minhas como esta causam espanto entre meus quase três leitores.
Se causam, acho um barato.
Se não causam, acho um barato.
Prefiro o escândalo. Escandalizar-se é tão... tão moralista, não lhe parece?
Ao passo que a indiferença é simplesmente o que sempre foi e o que sempre será. Coisas há neste universo que não têm conserto. Sorry.
Poetas se escandalizam? I don't think so. Tudo que é humano etc.
Ouço ecos de Shakespeare.
Como se atrevem? Quem são os hereges que conspurcam a imagem imaculada desse santo que tanto bem fez à literatura nacional?
Infelizmente para os moralistas, literatura, poesia incluso, tem pouco a ver com conceitos classe-média-deslumbrada que vicejam sob a ideologia do edificante. Na literatura, nada é sagrado. Você tem de ter autoridade, óbvio. Ninguém dará ouvidos a um primário exibido que só faz propalar a própria ignorância.
Drummond foi um poeta que um dia, ainda imaturo mas seguro do infernal poder que guardava algures na anti-hipérbole do coração, não dava a mínima à jactância calhorda dos explicadores da vida.

Olha meu rosto, ele está morto.


Olho meu rosto, ele está morto.
Compreendo então que não é mais meu.
Estou numa masmorra acorrentado à parede por ferros invisíveis, atrás de grades imaginárias, vigiado por carcereiros feitos de sombras.
Sorry, no momento não estou.
Estou vivo, não posso me libertar.
Mas, u know, sempre terás minha simpatia teatral em minhas batalhas fictícias.


Não me lembro se essa noite nos suicidamos


Não posso esquecer.
A vida ainda existe?
Ou é um presépio montado apenas para o meu Natal?
Na manjedoura, no maior berreiro, esse Rei Mago que faz que vem e nunca chega.
Porra.
Cadê aquela imensa interminável felicidade que a vida me prometeu?
Atenção. O Rei Mago vai te pegar!
Um rei-mago do mal, um descarado obsceno, um misto de homem e pesadelo, um ser animalesco que tem no lugar do coração uma monstruosa gana sem fundo pelos mais primitivos prazeres da carrrrrrrrne.
Abre o olho!
Guarda as pudendas, dissimula qualquer resquício de sensualidade, esconde direitinho as glândulas mamárias para que o abjeto não cuspa fora sua horrenda língua sepenteante e não te engula duma só lambida.
Não, não posso esquecer jamais.
O governo proibiu o povo de profanar reis-magos.
Sabia que reis-magos seguem estrelas?
Nos mundos deles está tudo predestinado, a estrela cadente cai exatamente em seu destino.
Taux enxarcado de uísque, de novo?, devo ter escrito um caminhão de bobagem aí encima.
Não vou nem ler.
Terei pronunciado palavrões?
Acho que não.
Sou gentil. Provavelmente disse de novo que sou frágil. Que sou romântico. Que sou obsessivo. Maníaco. Irracionalista.
Toda vez que fico bêbado digo essas coisas.
Mas é mentira.
Só quero enganar.
Sou mentiroso.
Posso fazer uma brincadeira?
Não, não posso.
Chega de brincar. Meus leitores são pessoas sérias.
Vou tomar uns quatro copos, redondos, gelados, inodoros e...
...esquecer e...
...desmaiar.
Posso fazer uma brincadeira?
Ai que vontade de brincar. Vou desmaiar e sonhar que estamos todos brincando de presépio.
É um presépio?
Vejo todo mundo transformado em estátua, voltado para o lado da manjedoura, no céu a estrela cadente que nunca cai.
Não, haverei de enxugar seis copos.
Brinco melhor bêbado acordado.
Quando durmo é horrível.
Não penso em e não gosto de ficar sem pensar em.
Será que daqui a dez anos ainda estarei obsessivo com estas minhas asneiras?
Se ainda estiver vivo?
Já pensou? Dio mio. Uau.
Não, estarei morto.
Meu fígado anda meio apodrecido.
E não sei se quero sobreviver mais 10 anos só pra ficar sonhando sonhos impossíveis de realizar.
Sou a maior preocupação da minha vida.
Não tenho outra razão por que viver.
Ocupo meus pensamentos de manhã à noite, da noite à manhã, no banheiro, no chuveiro, na mesa da sala tomando o café da manhã, no horário do almoço comendo na lanchonete, no carro voltando para casa.
Rei mago ago ago! Olha a estrela caindo!

Variações em torno de nada (sorry, princesinhas)


O preço de dizer o que se pensa é altíssimo. Muito poucos estão dispostos a bancá-lo.
Mas não pense que o preço seja mais alto que o do silêncio.
O silêncio é uma das mais complexas formas de expressão. Pode ter uma variedade de significados.
Ao silencioso, lhe parece cômodo e protetor.
Com a diferença de que muitas vezes paga seu preço sem o saber.

É mesmo.
Você aí...
...sabe me dizer por que leio minhas postagens e não dou trelha mas lendo SUA postagem em itálico me parece que não fui eu quem escreveu e então soa tão mais PROFUNDO?
Hein?
Hã?
Como é que é?
Estará aí um dos mistérios da linguística metafísica sociológica?
Ai de nós.
Que é que a gratificante instantaneidade da internet anda fazendo com nossas liquidificáveis cabecinhas?
Me sinto tão, ó, pequenino ante tamanha, assoberbante, avassaladora realidade do nada dominical.
“Por que está tão silencioso, que é que estão escondendo?
Tenho duas pernas e vou indo sorridente”
Não podemos ter uma única ligação afetiva com o mundo, Sylvia.
A fragilidade é nossa força, meu português deus.
Algumas das minhas postagens são tão obscenamente pessoais, não são?
(Meu browser tá grafando “obscenamente” como erro ortográfico. Tenho ou não tenho razão?)
Postadores por aí, tentando não parecer obscenos, são meramente sujos. Soltam umas impressões impessoais automatizadas como se estivessem se livrando de lixo. Tenho a impressão de que limpam as mãos nas calças depois de clicar “publicar”. 
Tem uns blogues por aí que merecem um estudo linguístico. Aqueles feitos para o xaveco. A coqueterie come solta. Os garanhões querem comer, as moçoilas querem dar.
Mas nada demasiadamente explícito, logicamente. 
Mas, obviamente, é Brasil, ninguém nunca diz porra nenhuma explicitamente.
E quando um incauto escancara o jogo, é ostensivamente ignorado. Tudo se resume avamos brincar”.
Dezenas de milhares de crianças fazendo de conta de que são adultos. 
É, com perdão do palavrão, um microcosmos do mundo lá fora. (“Microcosmos” assinalado como errado também. Não tem ninguém letrado pra fazer um algoritmo ortográfico decente?)
A crueldade do jogo sexual é atônica”, como diziam antigamente os letrados. As fêmeas dando mole só para desbaratinar na hora do vamo-vê, os machos de eterna língua de fora abanando seus rabinhos qual vira-latas sem dono.
Meu, dava para escrever uns 15romances” com base nessematerial”. E todo mundo lá expondo ao público suas intimidades como se fosse omaior” barato. Talvez contando que um bom escritor qualquer dia tire proveito.
Eis que o futuro da humanidade finalmente chega ao absoluto imprevisível. Só deus cibernético sabe.


Olhando daqui de cima parece fácil


Coragem.
Palavrinha metida a besta.
Quem se lembra de coragem no dia a dia?
Dizem que precisamos ter coragem.
Pra quê?
Pra que precisamos de algo que nem sabemos o que significa?
O que precisamos é de comida,
de sexo,
de bebida
de nexo.
Que é que é coragem afinal?
Quem sabe?
Ninguém.
Coragem provavelmente é coragem e ponto final.
Por exemplo,
Passar a tarde te olhando.
É coragem?
Preciso de coragem pra te olhar?
Preciso de coragem pra não conseguir trabalhar?
Pra me dar vontade de ouvir atrás da porta com a elis?
Pra ouvir atrás da porta com a elis enquanto ia adaptando a letra e quando ouvi de novo o gemido teu e o teu gemido era de adeus, juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre tua foto e duvidei, e me arrastei o mouse e te arranhei vou até em casa engolir um balla, vou me prometendo não voltar, sei que quando o balla fizer efeito vou mudar de idéia, que frívolo sou comigo mesmo, estado constante de paixão, impraticável ser assim, sempre me expondo muito além do limite do prudente e do razoável e do sensato, na hora penso, fôdasse, pensem de mim o que quiserem, não vou dar satisfação, mas obviamente não funciona, depois me arrependo, me sinto humilhado, juro pela bilésima vez que nunca mais, digo pra me deixar de ser tonto, quem sabe se preservar não se expõe, ou só expõe o que lhe convém... peraí, vou pegar o balla, sabia que ia ser assim, me segurei todos esses dias, sou o cara mais incapaz de conter os sentimentos que conheço, peraí, agora vou, já volto... pronto, agora tô devidamente munido, primeiro golinho... pelo menos consegui não desligar o computador, subir, tomar uma dose dando o dia por liquidado só pra voltar correndo, religar o comp, fazer o login de novo, que tempo e energia perdidos, dá-lhe atrás da porta, sabe que antigamente eu... não, não vou dizer que é que achava da elis nem o que acho agora, nem vou  dizer o que acho do chico, enquanto subia pra pegar o uísque fui pensando que eu é que devia estar na capa do disco no lugar dele, que ridículo né? um zé-mané se ombreando ao grande menestrel da emepebê, te entera muchacho, tá vendo só? vira e mexe esqueço qual é o meu lugar, por isso cometo tantas asneiras, falo tantas bobagens e levo chumbo do mundo, quando estou minimamente lúcido, o que é muito raro, claro, quando estou dou razão pro mundo que me detona, sou um molecão mimado, bato o pé quando não me dão a atenção que acho que mereço, o que é, lógico, totalmente contraproducente, ninguém curte criança mimada, e então me prometo que vou me comportar na próxima, vou fazer isso e aquilo, não passe do limite, sua anta, não existe só você de inteligente, sensível, sofisticado, o cacete a quatro, em vão, óbvio, sou um cabotino doente, e me arrastei e te arranhei e me agarrei nos teus cabelos, ao pé da cama sem carinho, o cara é um fedepê, hoje escutei pedaço de mim, cálice, fado tropical, retrato, sabiá, joana francesa, minha favoritas, a hipótese da troca impossível me martelando os ouvidos, passei a tarde roubando, ó... calma, não seja patético além do risível, amanhã dar de cara cuma bela descompostura, uma cortada, te botando no teu lugarzinho de merdinha insignificante, quem você tá pensando que é, mal escuta um álbum virtual já vai impondo exigência, quero isso, aquilo, tá assim pertinho de desembuchar aquelas atrocidades que sempre faz nessas horas, depois que estiver feito não chore, pamonha, também não exagere, nem sempre a autoimolação afetada funciona, no entanto volta sempre a enfeitiçar com seus mesmos tristes velhos fatos que no álbum... ó gosh, o álbum de novo, foi coincidência, será retrato a melhor do chico? tendo a achar que sim, varia de acordo com a época que se ouve, e basta ouvir outra pra achar que a outra é melhor e a outra e a outra, merda, por que é que eu tô falando qual matraca do cara, o cara é bom mas sou mais eu, perdão pelo clichê, detesto quando sou boçal, às vezes sou, vocês já devem ter sacado, sei também que ali sozinho eu vou ficar tanto pior, o que é que eu posso contra o encanto da (seguem milhões de adjetivos açucarados) inexpugnável, putz, não queria fazer refererência assim explicitamente, gosh, que nome, se eu me chamasse francisco, bom, seria uma merda, nome é assim não é? basta mudar uma letrinha pra ficar horrível, desisto, tinha me comprometido a não chamar deuses, rainhas, fadas, ninfas, esses lugarzões comuns que todo cabra metido a poeta se acha no direito de falar, mas, jesus, nem imagino que qualificativo devo dar, ainda mais depois daquela montanha de zombarias, que recaída, quando estou sóbrio não cometo esses deslizes, juro, foi fadiga, fadiga sentimental, na hora achei o mundo lindo e sedutor e pensei (se é que penso) fôdasse, e lasquei a dupla nefasta, merda, em dois vocabulozinhos me igualei aos milhões de tonhos que dizem tais asneiras a cada segundo, sou uma múmia, vou deitar à sombra duma palmeira que já não há, colher a flor que já não dá, bobagens mil me atravessando a superfície nevrálgica da mente, releve se eu me exceder, é o balla, é o sabiá, nada de esquecer, é o privilégio de ter alguém me lendo, amanhã faço um poeminha bonitinho comportadinho bem literário, desses que os poetas fazem quando têm medo de ser entendidos e desmacarados por seus severos críticos que só engolem declarações amorosas dignas do nobel, não vai ser em vão que fiz tantos planos de me enganar, fiquei longe do chico uns bons anos, não sei por que me deu vontade de ouvir agora, se ele me convidasse pra cama, ia? vou voltar, sei que ainda vou voltar pro meu lugar, sabe qual foi a última vez que cantei essa? tava descendo uma ladeira numa cidadezinha perto de sampa onde eu morava, pilotando a moto, aquela época só andava de moto, na garupa meu amigo do peito, músico como eu, eu era músico então, e comecei a cantarolar sabiá e ele disse, meu, incrível que você cante essa música bem agora e começamos os dois a berrar ao vento pela estrada a trocentos por hora, eu bêbado feito um irlandês do mato, ele chapadérrimo de erva, essa era a nossa diferença, nunca me dei bem com maconha, me sinto mais no controle com álcool, acho que deu, e qualquer qualificação enaltecedora que possa haver no vernáculo,  fôdasse, chega, não vou me conter, não sei me conter, quero me sufocar de tudo que possa me sufocar, me matava, me ressucitava, me cantava, me chorava, me aterrorizava, me ninava, vem molhar meu colo, vou te consolar, ajuda, tu és meu passaporte, faz de conta que todas as bobagens são por conta do chicão, ai esse homem deixa a gente louca não? quem é que pode se controlar não? 8:12 já beballabeballa de la cachaça e de suor ton soleil ta braise  angelicosa, é tudo culpa dele, esse endiabrado, geme de loucura e de torpor, mato-te de rir, mas veja que estou tomado de compulsão confessional, de agora em diante vão me conhecer do certo e do avesso, me dominar qual a um marionete, cazzo, o cara não me deixa pensar, essa joana francesa é a melhor, impossível escrever em paralelo, a mistura dos idiomas é primitiva, me atinge no âmago da alma, 8:17, gosh meu demônio, me dá o bálsamo, custei, não custei? não, não me xingue, não precisa dar se não quiser, pode me expulsar, pode me esquecer, pronto, desliguei o chico, vou me comportar, sou responsável agora por meus próprios atos, sou adulto, lúcido, letrado, escolarizado, conheço as regras sociais e sei muito bem o que posso e o que não posso fazer, dizer palavras minhas e me apossar de posses que são minhas e querer desejos que são meus e deixar meu coração bater as sístoles e diástoles que são dele, sem me arrepender nem ter de pagar com a única coisa que tenho de valor nem perder alento nem descobrir amanhã que não terei motivo pra querer morrer, que foi que me deu na cabeça de vir morar aqui? tanta cidade aprazível, jeesus, ainda não acredito, aquela de cão que ladra é balela, já tentei, só por tentar, tava experimentando, não é assim tão difícil, sabe o que aprendi? aprendi que basta não pensar no assunto, você não pode ficar planejando, que aí não dá certo, tem de fazer de conta que não tá nem pensando no assunto, de repente, yes, simples assim, é como poesia, tem de esperar brotar, não pode forçar nem cultivar, tem vida própria, será que ficou cafona demais? ficou, eu sei, tento mas nem sempre logro a sobriedade, sou um porco romântico, amanhã vou secar duas garrafas, prometo, quanto custa a passagem pra lugar algum? vou passear no shopping, arrumar emprego, subir  nessa obra até o último andar, dio mio, nunca pensei, tô ficando doido, minta.

Não há ninguém em mim


Está certo, Senhora do Início do Século 20.
Fico esperando.
Tinha certeza de que a Senhora do Início do Século 20 ao menos se dignaria a dizer por que resolveu não mais me responder.
Que pena.
Desta vez pareceu que chegaríamos a um razoável entendimento, enfim.
Até decidi conter meus ímpetos de bufão, tentando não melindrá-la.
Mas me saiu tão melindrosa essa que se proclamava embaixatriz de deus.
De repente, a zanga.
Ao que me é dado ver aqui de longe, detrás dos anos, por nada, nadinha, nadica.
Parece sentir-se mesmo ultrajada.
Por quê? me pergunto, confuso.
Nunca tive uma resposta, obviamente.
Não será agora que a terei.
A Senhora do Início do Século 20 recolheu-se à sua clausura milenar, fechando-se fria e indiferente ao que eu possa pensar de tamanha frieza e indiferença.
Mas que pretensão a minha.
Afinal, nunca passei dum insignificante rostinho de bebê que hoje, barbado, ainda ausculta sonhador o céu esperando encontrar um espírito que possa ser seu dentre os milhões que vagam certos de ter uma origem e um fim.
Sendo este pobre-diabo eternamente falso, fingido, apócrifo, enganador, a Senhora do Início do Século 20 não lhe digna mais sequer um cenho franzido sobre aqueles olhos que nunca pararam de afrontar, sempre gélidos, minhas frágeis verdades humanas.
Que pena, desta vez pareceu mais efêmero que das outras.
Não, me engano.
Foi tão efêmero quanto sempre.
É que quando acaba parece mesmo que foi um sonho, dos bons, dos raros sonhos rosados que me são possíveis.
E que me deixam estas reminiscências amargas no retorno ao meu tedioso despertar para o nada.
Como é lento e torturante recobrar a consciência da minha pobre realidade.
A ultra-avançada medicina moderna bem que podia inventar um remédio para seres vazios recalcitrantes feito eu.
Estou apagando.
Vou-me preparando para esquecer, minha cara Senhora do Início do Século 20.
Acho que consigo, se evitar pensar em você por uns minutos.
Afinal, foi você mesma quem me escolheu.
Parecia então saber que, eternamente perplexo, eu dedicaria minha vida a lhe suplicar “Talk, Senhora do Início do Século 20, let me know your thoughts, let me hear you say you'll accept me as one of your herd. Talk, Madam, tell me some news, just don't be so silent as to make me think I'll never learn another word from you again. Come on, let me hear your briskly whispering voice once again.”
Não se enoje de tamanha lamentação.
Releve o sentimentalismo.
Precisava escrever assim, numa tentativa de facilitar um tico me esquecer do cordão umbilical de aço enferrujado que nos liga e que parece que não consigo romper mesmo após me dar conta de que nasci para a mais imensa e vagarosa solidão.

Um homem sem fronteiras

Johann Sebastian Bach.

Disciplina do coração (estou apodrecendo)



Quero que este lusco-fusco seja bom para a mulher que amo.
Meu vizinho se chama Júlio.
Por que será que só os júlios têm direito a ser batizados com nomes mensais?
Por que não temos janeiros, fevereiros, marços, abrios, maios, agostos, setembros, outubros, novembros e dezembros?
A gente que aquele deus de vocês botou no mundo vive às voltas com problemas de identidade.
Desde "Anfitrião", de Plauto, passando por Dumas e "O homem da máscara de ferro", até Dostoiévski, Nabokov, Philip Roth, Saramago.
Estou de saco cheio de Pessoa e seus heterônimos e a imensa vala cubista em que resvalamos há um século fazendo de conta que não queremos ser quem somos.
Caras afeitos a heterônimos, procurem um psiquiatra, porra.
Foram looooongos 2 segundos desde o último verso, lembra?
Lhe perguntei as horas, você disse sorry, não tenho relógio, dear.
Lhe perguntei se não poderia adivinhar olhando a posição do sol, você respondeu, para mim é sempre hora de amar.
Aí falei putz, como não tinha pensado nisso antes?
Você sorriu esse seu fatal sorriso e sussurrou: Simples, não é?
Então fiquei pensando, sim, quão simples pode o mundo ser quando alguém nos ensina a simplicidade e brindei sozinho à chance de poder mais uma vez largar uma das minhas perguntas sem resposta.
Você pode tripudiar que é tudo que me resta.
Sim, é.



Jesus Christ, deixemos de infantilidades

Escrever requer coragem.
Coragem não é nostalgia.
Coragem não é vingança.
Azulzíssimo mar que nos maravilha o olhar.
Coragem é coragem.

Pipoqueiro de sonhos


 Era uma vez uma borboleta que não sabia sonhar.
Por não saber sonhar, também era incapaz de voar.
Por não poder voar, nem se lembrava de que era borboleta.
Na maior parte do tempo se achava uma reles formiguinha. Sempre às voltas com sua árdua faina diária, zanzava a tremular frenética suas patinhas dum lado para outro numa hiperatividade que a deixava zonza.
Por isso ela meio que tristonha ia vivendo.
E de tanto ir assim vivendo com tamanho esforço e tristeza, sempre se esquecia de que tinha asas.
“Ah, se eu tivesse...!”, lamentava-se a pobre, acometida da mais amarga amnésia.
Se soubesse que tinha asas de fato, as estenderia na luz do sol da manhã. E então suas asas reluziriam em todas as cores do arco-íris no mais belo dos caleidoscópios. E quando batesse a primeira brisa matutina, tiraria os pezinhos do chão como que por encanto e adejaria suavemente, para a seguir erguer-se até lá encima por sobre as copas das árvores. E nesse momento, vendo-se diante de toda a imensidão do céu e sentindo o coraçãozinho se tomar da mais inebriante liberdade, talvez se lembrasse.
Se lembrasse de quê?
Se lembrasse das asas e de todo o resto que a vida a obrigara a esquecer.
Quem sabe, até aprendesse a ouvir o chilrear dum tico-tico que vivia a sobrevoar seu caminho, assobiando um consternado canto de amor não correspondido.
“Deixe de besteira!” ralhou a severa formiga que morava em algum lugar nas cercanias do ninho da borboleta assim que esta começava a divagar. “Vá trabalhar, que ganha mais. Devaneio não enche barriga nem paga a conta da NET no fim do mês. Hunf!”
No ato a borboleta acatava a ordem da formiguenta vozinha interna, pois, sendo obediente desde o nascimento, nunca lhe ocorrera a ideia de que podia mandar a chatinha bestalhuda calar a boca, lamber sabão de coco ou plantar batata-doce.
E assim, tampando os ouvidos para não escutar o melífluo gorjeio do tico-tico, lá se ia a prendada borboleta ganhar outra vez, outra vez e ainda outra o pão de cada dia.
Mas, além de não saber sonhar e voar e de fazer de conta de que não tinha asinhas, a opressora formiga convencera a submissa borboleta de que seus afazeres de borboleta trabalhadeira e esforçada eram absolutamente incompatíveis com a melodiosa música entoada por aquele pássaro abusado.
Como assim, incompatíveis?
Talvez nem a própria borboleta soubesse dizer como. Ou talvez soubesse mas, estranhamente, não se animava a dizer.
O fato é, sempre que o coitadinho abria o bico para pipilar um cântico de amor, a teimosa borboletinha se apressava a tampar os ouvidinhos. Às vezes se limitava a emitir um belo dum resmungo, querendo enxotar o canoro voador. Outras, extremamente raras, concedia ao miserável uma econômica confidência de cinco ou seis palavrinhas e, para perplexidade do cantador, recolhia-se novamente à sua solene mudez.
No mais das vezes, porém, ela simplesmente não tomava conhecimento do persistente tico-tico e então quem se recolhia a um canto era ele. E então de novo o frustrado penudo chilreava ainda mais triste e melífluo, tentando se consolar com a própria solidão.
E lá encima, no galho mais alto do raquítico e apodrecido salgueiro onde morava, o melancólico tico-tico passava suas tenebrosas noites a chorar, cada vez mais amargurado com a indiferença de sua adorada borboletinha.
“Será minha música um despropósito?”, atormentava-se ele, pupulando entre os galhos, agitando-se no meio da escuridão. “Será possível que meu canto puro e singelo não tenha o dom de tocar o duro coraçãozinho de minha amada? Haverá de fato tamanha distância entre nós, que nem mesmo minha impenitente, contínua toada seja capaz de transpor?”
De repente o pobre tico-tico arregala os olhinhos inundados do negro da noite e, lívido, especula com as próprias penas: “Ou será que a minha querida borboletinha nutre desprezo por seres que nada fazem senão voar e, glup!, trilar ao deus-dará?”
Concluindo, era essa a situação dos nossos dois personagens no momento em que encerrávamos (temporariamente, esperamos) esta modesta, despretensiosa fabulazinha.
De um lado, nossa aparentemente imperturbável borboleta que não sabia sonhar nem voar (e que aparentemente queria continuar assim) ia tocando em frente, voltada para seu dia-a-dia, sempre dando ouvidinhos à formiguenta voz da razão que nunca parava de martelar em sua cabecinha os mais sensatos conselhos e alheia a qualquer tipo de utopia voadora.
Do outro, nosso desiludido tico-tico, inconformado com o descaso daquela que lhe provocava os mais desalentados suspiros no sôfrego peitinho e os mais doloridos nós na garganta.
Garganta que, em certas noites, quando a dor do menosprezo latejava mais aguda, parecia querer fechar-se para todo o sempre para silenciar eternamente.



Não sou eu quem te engendra


No lado direito da cabeça, sob o cerelebo, tenho uma pilha na qual venho juntando tudo que senti até hoje ante tudo que vi até hoje sob tudo que escrevi até hoje para você e agora paro e sento e suspiro e franzo o cenho e limpo a garganta e leio.
Quem foi esse estranho que parece ter escrito quase tudo que pensei ter escrito?
Me dá um nó no estômago.
Quanta bobagem.
Que tamanha, que dolorosa ingenuidade.
Me choca a facilidade com que o estranho se deixou embebedar por suas próprias palavras.
Ele, o estranho, fez com que as palavras se voltassem contra mim.
Com isso, ele, o estranho,  produziu uma prova irrefutável da minha imprudência.
Como pôde ele me expor assim a uma pessoa como você? Oh god, sou um bobo. Um bobo triste.
Ele deixou meu sangue todo lá.
Gotejado no que agora é um frasco de veneno.
Ah, que invencível sensação de desperdício.
Se eu fosse sensato, me livraria da minha pilha, dando cabo da prova, fingindo que sou mais inteligente do que pareço. Mas não sei me desfazer do que escrevo.
É que escrevo com a paixão da magia.
Ontem estava atordoado de eflúvios etílicos, hoje estou aturdido da ressaca frustrante.
A mais terrível que pode haver.
A perturbação é meu estado natural, de uma forma ou de outra.
Preciso duma dor outra.
Por isso venho aqui a enésima vez, Sísifo, exercer este meu patético direito à dor embotada da última palavra.
Como todo bêbado convicto da necessidade da embriaguez, bebo muito além do que posso suportar.
Eis que a natureza me cobra o preço.
Como sempre, alto demais para os meus parcos recursos de alcoólatra alucinado.
Voltei para vomitar.
Verter a bile dessa fantástica bebedeira é tudo que me cabe.
Resta-me sorver o veneno.
Rezando para que seja antídoto àqueles delírios etílicos.
Eis aqui meu último brinde amargo a quem não merece uma única vírgula do que ele escreveu.

Everywhere


Você sabia que seu perfil social virtual ganha vida e vive paralelamente enquanto você dorme inocente em sua cama quente e esperançosa?
E escuta "Mony Mony" de Tommy James and the Shondells?
Daquelas noites em que eu era o terror dos bailes de debutante?
Antes do baile, cada uma delas tinha de passar por um gine para assegurar a intactabilidade do cabacinho.
É por isso que não existem baile de debutantes para meninos.
Maninha dança com papai diante dos meus olhos.
Ela, num tubinho rosa-nenê que depois mamãe desmanchou e fez umas blusas.
Ele, no único terno que tinha e no qual foi enterrado 6 anos depois.
Eu, tenros 12 aninhos mas já atento para essa capacidade que o mundo tem de girar a 160 km/hora para evitar que tenhamos tenência do que pensamos do que vemos.
You gimme love, I feel alright now.
Como é foda tentar fazer poesia digital.
Não dá liga.
Nos bailinhos era só sair saracoteando. Pra que mais?

A maior liberdade é a da dor, já disse


Esquecer é legal em todas as ocasiões.
O esquecimento pode ser intermitente. Ou retumbante qual uma sombra que despenca.
Algumas vezes, impossível. Outras, aconselhável.
Às vezes, saudável. Outras, gostoso.
Mas entre ser esquecido e ser esquecível, prefiro esquecer.
E, tudo bem, pessoas há cuja perda pode ser um ganho; ganhá-las, uma derrota.
E quando faltam as palavras, não há negrito que chegue
E pessoas há que são mágicas: não se avexam de tirar um coelho da cartola.
São as que fazem minhas noites sombrias.


Querendo que se foda deliciosamente


A lavra da palavra não obedece a leis daqui, lá de fora, nunes, joves, freitag.
Harold Bloom decretou “o medo de todo poeta de que não haja mais nada a ser feito”. Do altíssimo sacrílego altar da cultura do mundo ocidental Harold me vigia com seu olhar rapínico. No aguardo, e esperando, que eu simplesmente trema e baixe minha cabeça e beije a ponta do dedinho do pé esquerdo do cabeção Shakespeare.
Mas quem são Harold e Bill, esses estranhos que atormentam dia e noite meu sono e que sequer imaginam onde durmo?
Bill sabe, e eu sei, que não posso dizer muita coisa, mesmo em poucas palavras.
Talvez a estatueta de Jorge Luiz Borges, cânone averso a canonizações / canalhizações, hermano argentino, chegado que comigo frequenta as rodas de samba, as pistas de tango e as tardes de futebol, guardião a contragosto do tesouro, se digne me conceder um olharzinho mais misericordioso e lá de cima do seu posto de santo inbeatificável me reconforte garantindo que todo escritor cria seus próprios precursores e antecessores.
Na lavra da minha palavra hei de escolher meu idioma e em minha linguagem hei de cuspir nos pratos em que comi, lamber as gotas da cachaça que na porta do clubinho os leões-de-chácara dizem ser água-benta. Inconformistas não têm INSS ou salário-desemprego. Inconformistas apenas padecem da benção da curiosidade, ou doença em que você não acha graça em permanecer vivo a qualquer custo.
Seria a solução tarefa para um homem-bomba?
Talvez. Se Johann Sebastian tivesse levado os detonadores sob a túnica quando foi chamado a primeira vez ao palácio por Frederico II.

Sete bilhões de vozes

Teu sangue
vertendo de tua jugular
cortada por ti
escorre no piso
de lajotas que
compraste no
Center Castilho
formando vaga
vagarosamente
a palavra
que sabes ser
a que não sabes

Still Loving iul


Vidinha, 
um teatro. 
Cabeção de jaca, 
o palco. 
Sonhos, 
ilusões, 
delírios e demais distorções cognitivas, 
uma peça. 
Protagonista, 
a mãe.


Não quer que eu ame? Tudo bem, fecho um olho.
Furo o outro.
Anestesio meu coração.


Na corda
bamba vou
sambando
acrobacias
pra não 
soltar um
palavrão.


Sei que você me quer virgem.
Vou tentar uma plástica, 
nham nham nham nham nham 


Era mentira. O que sei falar em 8 idiomas é tchau.


Quando a noite veio
a lua estava tão cheia
mas tão cheia
que se pôs a derramar
em teu rosto raios de luz 
que meu coração não
se cansava de recolher


(tragar, porra, tragar era o verbo que eu tava pensando; quem recolhe é bóia-fria)


Por que certas mulheres pintam o cabelo de vermelho quando levam um pé de seu macho? Será para mostrar q mesmo assim ainda têm fogo?


Missão divina: desmascarar a simpatia profissional que se alastra na Facebook.


Eu enxergo tanto, que meus óculos não duram mais que 2 semanas.


Batata — mulher que não publica álbum na FB é porque é feia.


Posso escrever qualquer coisa que você queira — só não me impeça de escavar o lixo que trago em minh'alma ma ma.


Não sei me fingir de ser humano profissional.

Da doença da sofreguidão

Cura-me.

Raiva


Da complicação das gentes e do mundo, das nossas cabecinhas de palha, dos nossos medos que confundimos com sentimentos que são nossos.
Quando fico com raiva verto tratados-angu, farofa azeda de ranço não regurgitado mesclado com azeite de dendê ou sei lá qual a culinária regional que nunca comi.
Então lá vou eu verter um tratado de novo.
Nunca aprendo — ninguém gosta de tratados. Todo dia digo pra mim mesmo, meu, quer espantar um sujeito ou uma sujeita? então escreva, escreva, escreva, escreva até entornar o caldo, derramar o uísque, ferver o banho-maria. Escreva qualquer coisa. Espanto imediato ou sua pseudopoesia de volta. Ainda mais um desastrado feito eu. (Ah que vontade de desenvolver minha desastrice.)
É foda ser poeta, ou pseudo, sei lá, às vezes me acho, outras, deploro tudo que escrevo no meu pêndulo multipolar.   
Já falei que sou multipolar? Falei. Fingiram não ter lido. Que não registraram. Ou não se deram o trabalho de responder. Confidenciei tudo que me importa confidenciar. Só não antecedi minhas confidências com um “confesso”. Confesso que confessei. E venho aqui agora de novo confessar o crime que não cometi mas que esperam escutar de minha voz.
Meu crime, meu crime é ser escravo do que sinto.
Preciso das minhas palavras pra me entender uma gota. Perdão por incluir outros na jogada. Fui frívolo. Sou frívolo. Preciso agitar o que sinto feito um liquidificador. Em geral a receita requer sentimentos estranhos. Sinto ter te abraçado enquanto me afogo.
Pensei que todos gostassem de poetas (ou subs, como queiram). Ou de poesia.
Talvez tenha sido verdade demais? Mistura indigesta, inadmissível de ficção e realidade?
Todo mundo e seu dentista ostenta belos versos em seus perfis na internet, acho que já mencionei. Será um truque pra emboscar bobos-alegres como eu? Sou tão ingênuo, vivo caindo na balela de que os ostentadores de versos precisam da poesia como eu preciso do ar.
Não, os donos de perfis-espelhos poéticos é que são fingidores. Gostar de poesia dá status, enobrece, leva o internauta para o alto para longe da prosa utilitarista de cada dia.
O cobrão dos citados é Pessoa, naturalmente. E Clarice. Conheci todas as grandes citações de Clarice só navegando por perfis noites a fio procurando uma pista de pouso pra minha cabeça voadora.
O pessoal se amarra nos bons e falsos poetas. Os comoventes. Carinhas que botam todo 1 kg de melado em tudo que versejam. Talvez por isso atraiam tantas abelinhas.
Um exemplo (cuidado para não cair de costas) é o Quintana. Que heresia. Todo mundo e sua tia ama o Mariozinho. É tão fofinho. Versinhos tão bonitinhos. Todo inhoinhoinho.
Sou um desastrado. Nunca aprendo a fazer média. Os mamíferos bípedes só funcionam na base da corrupção afetiva. Você me agrada e eu te agrado e vice-versa. Uma mão lava a outra, a lei suprema da humanidade. Acho que é a isso que chamam ser diplomático.
Não tenho tato. Não posso me preocupar em ter tato. (...)
Preciso sentir o que sinto.
Quando por alguma razão dissimulo um sentimento para mim mesmo, escondo um sentimento de mim mesmo, fico vazio qual o leito dum rio seco. É a mais insuportável das angústias. Porque insentida.
Os que já estavam cismados comigo, com o que acabei de vomitar, provavelmente fiquem enojados. Sorry. Sou um porco. Triste. Rara, muito raramente penso ter encontrado. Encontrado o quê? Não sei, óbvio. (E quão óbvio eu sei ser, jesus!)
O choque que causo nos outros, meu, é tão corriqueiro, tão natural para mim, nem me dou conta. Só percebo quando vejo a repulsa nas caras deles. Sempre foi assim. Sempre, óbvio, será. Ah, sim — agora será um misto de repulsa e comiseração. Eis outra das minhas especialidades — provocar pena. O mais degradante dos sentimentos.
Logo, amanhã, depois, vai acontecer tudo de novo. Topo com alguém que, sei lá por que cargas d'água povoada de larvas da dengue, julgo que queira me entender. Tadinho. Tão incompreendido, tão nauseabundo em sua infantilidade escancarada.
Isso aí. Talvez queiram se lembrar, de vez em quando, que cruzaram c'um poeta sometime, somewhere. Mau, mas poeta. Como (mau) poeta, a solidão é meu mundo. Não existem poetas sociáveis. Nem boas praças. Nem, ó mãe, construtivos. Ou edificantes. Ou modelares.
Já podem rir com desafogo — o lobisomem digital tá voltando para sua escuridão habitual. É tão mais fácil, tão mais simples ficar no escuro sozinho. É como se o mundo lá fora e os que o habitam fossem apenas uma miragem.