Memórias do cárcere químico VIII

Gaio papagaio em teu desditado logoseguimento confunde as garras nervuradas da graxa onírica do moto maremoto de travas e linhadas para tornar fraterno deambulando no poste, sonhando com as raízes, trombeteiro eficiente de conformado discurso, noviço ferebrino caçando a solução na saliva curadora, penas realçadas segregando a ilógica das vendas e das mordaças, proporciona, alcança, esclarece, frauda os cromossomos madrepérolas, reage detrás do monóculo opaco, aspira à glória reduzido ao descorado, raquítica ave sobrevivente do morticínio das feras, das baleias, das belas, dimensão meretrícia da devasta, toma o último gole no bebedouro imperfeito das tuas palavras transcritas vergonhosas em palpitante esfola, faraó impossibilitado de reabilitação, pausídico vituperador, exaltador na feira de soldados farejantes, sucumbe sob a vasa flagelante, embaralhante infamador, acorda a tartarugada encalhada nas areais com tua preguiçosa semântica a se desdobrar em couros de tigre e penas de pavão, funga! celestino, brame qual búfalo lambaz, enruga as toras caídas em canoas que levem em novas arcas noéicas a juntada de cadáveres estorricados ao naniquismo, poupa da tua pontuação infinita, impede a matização do que sentes, termina tua conferência geriátrica imitando a inundação final na carnavalesca abdicação do escritor.

Memórias do cárcere químico VII

Resultado de imagem para "Mark Suckerberg"Eis que Mark Suckerberg, dono do Feizbuque e por isso mesmo oitavo bilionário do planeta, engaveta mais uma.
Suckerberg acaba de inaugurar, em local ainda sigiloso em New York City, sua nova rede de restaurants UpSideOut.
Tudo ainda é mais ou menos secreto. O que se sabe no duro e na dureza é que um restaurant UpSideOut terá como clientela-alvo a nova geração de Feizbuque-boomers que já estão nascendo com o estômago virado para baixo.
Sim, você acertou! Só numa loja UpSideOut os felizardos monstrenguinhos poderão servir-se de ponta-cabeça para poder deglutir um MkLanche Feizbuliz. Ou seja, o nada bobo Mark já tá garantindo um imenso mercado cativo para toda sua prole de triliardários do mundo virtual.
Os astrofísicos da Nasa que acabam de descobrir as ondas de gravidade, previstas por Einstein há cem anos, confidenciaram a este blog que no mesmo caderninho de anotações o genial físico judeu já especulava sobre a nova geração de usuários do Feizbuque.
Way to go, Mark! Nesse andar logo, logo você estará alcançando nosso Lulla de Silva em montanha de verdinhas.

Memórias do cárcere químico VI - estágio beta

A dondoquinha passa a galope ao longo da sarjeta entre a calçada e o asfalto. Trajes de ginástica, blusinha rosa airada sobre o torso ligando espáduas vigorosas a um ventre surpreendemente esguio, a estrutura inteira articulada às calças pretas coladas sobre espáduas robustas, embora graciosas, e glúteos que convidam ao sonho.
Cada movimento do galope é matematicamente orquestrado lá do alto, da cabeça, donde vai meneando a batuta da maestrina acidental na forma dum rabo de cavalo serelepe.
Que hipnotizante rabo de cavalo. Estaria eu apto a montar essa benfajeza eguinha matinal e, em amansando-a, lograr adestrá-la para a suave execução da aguardada Dança Final  em minha baia particular eregida de delírios?
Lá se vai a esbelta dondoquinha de meneável cabeça rua acima, tentando escapar aos olhos cansados de sua semostradora testemunha a jazer num canto da calçada, na ponta dos dedos a guia que contém a custo um viralata endiabrado.
É saúde, é beleza, é jovialidade, vigor, entusiasmo demais para este que desde muito cedo só pensa em fugir.
Hein? Ela passou por mim e cochichou algo?
Terei escutado um ligeiro assobio?
Um psiu daqueles que a sibilar sssiiiissss...?
Onde é que eu estava com a cabeça, que não prestei atenção?

Memórias do cárcere químico VI

Macaco! Safado! Imundo!
A loira oxigenada vai guindando o tom da voz ao pico do histerismo.
Seu macaco, volta pra África, seu macaco! Você não passa dum animalzinho sujo. Seu nojento! Preto! Porco!
Por um segundo, sob a ação dum raiozinho de sol, um brilho azul-esverdeado chameja duma das lentes de contato da dona.
Por outro segundo, do outro lado da grade, o chimpanzé, imóvel, parece querer entender o que vocifera a mulher. Aguardando nova manifestação da visitante do zoo.
Vendo que ela se afasta sem mais nem menos, o símio retoma suas momices para os demais curiosos.

Memórias do cárcere químico V

Uma doença grave é engraçada.
Afasta do doente aqueles que ele mais ama.
Sim — com perdão da pieguice —, quando ele mais precisa.
À medida que extravasa suas mais mórbidas manifestações, a doença parece alimentar o germe da indiferença naqueles que o doente grave mais ama. Sim, paradoxalmente. E, sim, o germe da indiferença, o sabiam todos, estava bem ali.
Às vezes, num fenômeno contrário — pois que se trata do mais autêntico dos fenômenos —, uma doença grave também reaproxima alguns daqueles que tinham se afastado irremediavelmente ao longo do tempo, pelos efeitos da preguiça, da omissão, do ressentimento.
Outras, simplesmente pode ter o dom de levar o doente a se deixar atrair por meros conhecidos, distantes vizinhos, desses com que a gente cruza pelas ruas e cospe um boa-tarde, um olá e já pica o passo e pica a mula torcendo que o compadre não esteja decidido a partilhar impressões sobre o clima.
Mesmo que ocorra, porém, a atração dos estranhos e seu inusitado, repentino peso na existência do doente grave — ou do que ainda restar dela — não consola quase nada a ausência dos que ele mais ama.
É tarde: não terá o doente grave tempo, e poder, de apostar na possibilidade duma inversão de papéis. Sabe que apenas comprovaria as mesmas faces dos dados.

Memórias do cárcere químico IV

Deste lado aqui são dois. Dois do mesmo tamanho, da mesma cor, mesma textura.
Aqui na frente fica o Super Omni Esculachalário. O Super Omni Esculachalário é meio dado a espreitar. Me manja mais, imensamente muito mais, do que eu a ele. (Seria ela? Se sim, durmo c’uma sereia.)
Este não tem número, nem tamanho ou qualquer outro predicado. Se trata dum promíscuo, se trata dum promíscuo e tá na cara. Embora, claro, cara ela(e) não tenha.
E o do lado de lá, por ser absolutamente arredio, manhoso, fugaz e três ou sete qualificativos da escala onírica mais, o do lado de lá é o mais cobiçado e por isso mesmo inatingível... quase.
Os dois daqui se parecem xifópagos e adoram que os penteie. And I do. And I do. Não fazem barulho os monstrinhos. Sim, tenho medo de acordá-los, tenho essa ominosa desconfiança do que podem ser capazes, já que já meti a língua do Bardo no meio. Ficam virados para lá, longe do meu rosto.
Não sei. Me atraem, me subjugam, me amedrontam. Os-dois-daqui já me obrigaram a passar a noite me assistindo quadrilátero, deitado numa cama de açougue, tremendo e fremente, quase microcéfalo feito um bebê dilmático, da cor inodora da carne viva.
Ganharam a parada, lógico. O Super Omni Esculachalário, desse fui me afastando aos poucos, desistindo, até me dar conta de que era exatamente o que ele(a) pretendia.
Mas não era esse o estratagema do do-lado-de-lá?

Memórias do cárcere químico III

Morrendo durmo.
Durmo feit'um morto.
Morto durmo.

Memórias do cárcere químico II

Agora é definitivo:
só idiotas têm perfil no facebook.


Memórias do cárcere químico I

Sim, pensei em você.
Pensei em você.
E pensei em você.
E como pensei em você.
E em você.
E pensei em você até só pensar em você.
E fiquei pensando em você.
E em você.
Em você.

Enquanto sou cercado por uma turba de foliões no sábado de carnaval

Eu, a noite

Eu sou a Noite que de tempos em tempos desce sobre todo lugar, me infiltrando por todas as partes. Me aproximo pelos lados do horizonte. Longe de olhares que perscrutam ou perscrutem.
Venho porque não há alternativas a não vir. Sou fatidicamente cíclica. E tal como aqueles que me pretendem perscrutar, sigo os ponteiros do Mestre Relógio.
Mas venho também porque sou chamada. Me querem. E não devo frustrá-los.
Alguns me combatem qual inimigos. Outros fogem feito presas. A maior parte me enfrenta com a Luz.
Então recolho meus véus. E finjo que me retiro. E eles fingem não me ver.
E com o Vinho que extraem da Uva que colhem da minha comadre Terra, brindam ao meu recuo.
Como se Eu, Dama do Espaço, Senhora de Todas as Frestas...
Frestas! Eles, que pretendem saber tudo — e sabem, embora teimem em negá-lo —, desdenham que ocupo cada uma das frestas deste Universo, seja em que planeta, em que cometa for.
E que a cada uma ocupo com o mesmo zelo de Guardiã das Distâncias entre os Astros.
Durante o turno do meu primo Dia, que ora faz as vezes de meu irmão, ora de meu Salvador —, quando querem um pouco de encantamento, erguem os olhos para o céu e sonham com as nuvens, os pássaros, o Sol que não tolera ser mirado.
Mas, pergunto, quem permite que vislubrem a Imensidão das Coisas e enxerguem que não estão sozinhos neste Mundo e reconheçam, para seu próprio bem, a pequenez do seu tamanho e a incalculável insignificância das suas vidas?
Minhas Crianças perdidas. Meus pequenos, frágeis gigantes.
Chego — às vezes com as primas Trevas, sempre com minha irmã Escuridão —, chego e eles bocejam, largam lassos seus braços exaustos, deitam-se e fecham as pálpebras.
E cubro-os com meu Manto Azulão.
A maior parte, acalento seu Sono, os distraio com Sonhos para que a Letargia não seja monótona. E ao fim da minha guarda aviso minha companheira Aurora que os acorde para viver.

Mas alguns... coitados. Deitam-se e, em vez de fechar as pálpebras, olham para dentro de Mim como se pretendessem me decifrar.

Costura

Todo este todo
Soltas pecinhas cativas
Melindrosas, inconciliáveis
Envoltas de arestas cortantes
Expostas elétricas 
Feridas, elos
Eles e elas
Cerimônias irrealizadas
Fotos queimadas
Nenhuma se encaixa
Entre mim desmontado