Dou horas de cada um dos meus dias a Beethoven e Bach e Wagner, pouco menos a Schubert, Schumann, Chopin, Mozart e tantos outros mortos há séculos.
E aos Beatles, ao Mammas & Pappas, Jimi Hendriks, Ten Years After, todos já devidamente inumados nos cemitérios do passado.
Será que isso quer dizer que a partir dum ponto no tempo estamos avançando para trás e não temos como sair dessa enrascada?
Blogando 0036
Blogar minhas sombras
Blogar minhas fissuras
Blogar meus recuos, minhas cismas, minhas neuroses, meus pecados, meus fracassos, minhas taras
É minha liturgia pessoal secreta pública
Pela qual a Corte Celestial que sei que não existe
Decreta minha possibilidade de
Ser
Finalmente
O que
Sou
E é assim blogando que me torno
Meu ladrão e
Me roubo
E estou conversado
Blogar minhas fissuras
Blogar meus recuos, minhas cismas, minhas neuroses, meus pecados, meus fracassos, minhas taras
É minha liturgia pessoal secreta pública
Pela qual a Corte Celestial que sei que não existe
Decreta minha possibilidade de
Ser
Finalmente
O que
Sou
E é assim blogando que me torno
Meu ladrão e
Me roubo
E estou conversado
Blogando 0034
re ver be ran dor ev erb era nd or eve rbe r a nd o
ecos, venham meus amiguinhos!
décio pinhatari está morto
tanto quanto vocês
pobres crianças ecólatras
é tanto
tanta é
meus braços ganham vida própria e se erguem acima da minha cabeça
escutem, tudo está contido nestas bochechas estufadas das palavras que represei
meu terno amor, me diga, como é que os mudos suportam?
a imensurável lagoa piscosa
de peixes podres
não tenho mais sonhos e deles não tenho falta
as marteladas do juiz ecoam pelas paredes do pavilhão
de volta
ecos, venham meus amiguinhos!
décio pinhatari está morto
tanto quanto vocês
pobres crianças ecólatras
é tanto
tanta é
meus braços ganham vida própria e se erguem acima da minha cabeça
escutem, tudo está contido nestas bochechas estufadas das palavras que represei
meu terno amor, me diga, como é que os mudos suportam?
a imensurável lagoa piscosa
de peixes podres
não tenho mais sonhos e deles não tenho falta
as marteladas do juiz ecoam pelas paredes do pavilhão
de volta
Blogando 7381
Quase onze da noite da véspera de Natal e estou no meu buraco a salvo de mais uma dessas ocasiões artificiais que a humanidade inventa a cada mil anos. Me sinto absoluto. Sou absoluto. Não, nada a ver com essa porcaria de comercialismo que os herdeiros da geração de sessenta usam para forjar uma marginalidade que eles de fato não têm nem nunca quiseram ter. Tudo a que aspiravam era cheirar todas, comer todas e enriquecer como qualquer capitalista burguês sartreano que nunca admitiu a própria humanidade imunda.
Mas esta é a noite feliz e não quero falar desses meus temas mórbidos. Não, não sou o mais duro e cruel dos antiburgueses celineanos.
Fico cá no meu covil à espera dos indícios de que papai noel está presente. Desde meus três anos aguardo que ele bata na minha porta, nunca engoli aquela porcariada nortista de chaminé, meias e o cacete. Boto Du holde Kunst no computador, com Arleen Auger. Soprano. Americana. Ninguém destroça o alemão com mais eficácia que os americanos. O mínimo que são capazes de cometer é soletrar Bitoven, como os Beatles há cinquenta anos. Não estão nem aí para essa bobajada de falar direito. Os cantores líricos brasileiros, mais ciosos de sua inferioridade cultural, têm melhor pronúncia. Quando vão fazer turismo na Alemanha, os brasileiros são elogiados pelos nativos pela perfeição daqueles montes de encontros consonantais. Puta merda, as consoantes também se encontram?
Knock, knock, knock.
(Sorry, só sei imitar batidas na porta em inglês.)
Salto da cadeira e vou lá ter.
Atrás da vidraça da porta vislumbro a figura.
É ele.
O morto.
De novo.
Abro.
Ele já está de mão estendida.
Pego e aperto. Gelada. De novo. Até quando serei obrigado a acolher o enregelamento cadavérico desse filho da puta?
Feliz Natal! ele exclama.
Tenta mostrar entusiasmo no bordão mas quebra a cara. Não há morto que deseje Feliz Natal com um mínimo de naturalidade e capacidade de convencimento.
Obrigado. Pra você também — retribuo o tom desenxabido.
Por um segundo pensei em estender meu voto à família dele mas me contive a tempo.
Uma só mulher
Como é do conhecimento de todos, sou homem duma mulher só.
E como sabem todos vocês, minha mulher é minha companheira. (Ouso
afirmar até mesmo no sentido leninista do termo.)
E o mundo também está a par de que, ao longo de nossa vida juntos,
ensinei à minha companheira e mulher exclusiva uma quase infinidade de coisas.
Entre elas, a desprezar as mentiras sedutoras do misticismo e as bobagens
pueris da astrologia.
Lhe mostrei ainda como comprar peixe na feira sem trazer para casa
um namorado à beira da putrefação. E como preparar um baiacu com pupunha e
legumes verdes de dar água na boca até na estátua de dom Pedro no Museu do Ipiranga.
Além disso, lhe dei dicas – inclusive na prática – sobre como
tolerar os intensos, os descomedidos ataques de cócegas que lhe aplico em suas
fragrantes e glabras axilas sem fazer xixi na calcinha de renda vermelha e
bege.
(Certa feita, depois de passar o dia todo fora só voltando para
casa na minha hora de trabalho, ela tirou um embrulhinho da bolsa e mo
estendeu. (Vou fechar aspas precocemente aqui para não me perder em algum
período mais elucubrado abaixo.))
“É um presente.”
Abri fazendo cara inquiridora ante uma caixinha mimosa e esquisita
fechada apenas por uma aba.
“Pra deixar meu amorzinho perfumado!”,
explicou.
Simulei um sorrisinho simpático enquanto abria a caixinha,
procurando não rasgar a embalagem para aproveitá-la em ocasiões futuras que
requeressem a troca de lembrancinhas.
“É um A Scent Florale EDP”, ela não conteve a
ansiedade.
E emendou:
“Quando
a vendedora me disse que o preço tinha baixado de quatrocentos e quarenta e
seis para apenas cento e setenta e sete, ai, não resisti! E ainda me deixou
pagar em seis prestações de trinta paus no cartão! É feminino, mas sei que você
não liga pressas coisas”.
Assim dizendo, arrancou o frasquinho da minha mão e aspergiu um
ligeiro borrifo em meu braço. Fechei os olhos, cheirei e fiz “hmmmmmm, que
delícia!”.
“Sem graça!”, ela riu.
(Ah como amo quando ela diz “sem graça!” Me sinto o mais endiabrado
homem deste planeta.)
“Você não usa nem desodorante. Podia pelo menos tomar banho mais
frequentemente”.
Fiz de conta que não escutei. Não gosto quando ela critica meus
hábitos pessoais – ou a falta deles. Não sei se vocês concordam, mas
brasileiros em geral raiam a obsessão pelo asseio e a higiene pessoal. Um banho
por semana para mim é mais que suficiente. Não receio meus odores, não temo
meus fedores nem acho que minhas secreções mais softs sejam caso de esfregação
e creolina diária. Me sinto até mesmo reconfortado e mais senhor de mim sabendo
que estou impregnado das bactérias odoríferas do meu próprio suor.
Voltando ao frasco de perfume que ganhei, naquela mesma tarde, por
um desses golpes de sorte que soem ocorrer uma vez na vida etc., fora passear
na rodoviária* no centro da cidade e tivera a ideia de roubar uma rosa duma das
floreiras ao redor da praça onde os ônibus estacionam.
*Não sei se já contei, mas tenho uma
queda por rodoviárias e ferroviárias, a ponto de ser bem capaz de me abandonar
um dia inteirinho zanzando entre os viajantes indo e vindo e vindo e indo como
se quem fora e viera fosse eu e não outro. Mas esta é uma outríssima história
que não tenho tempo de elaborar agora e que deixarei para outro dia. (Tudo bem,
sei que esse outro dia nunca virá, como tantos outros nunca vieram nem jamais
virão, pois míngua cada vez mais minha paciência para escrever sobre minhas
próprias manias (e, já que estou no assunto, sobre qualquer outra coisa)).
(Quando nos conhecemos, costumava invadir os jardins que
encontrasse pelo caminho e roubava uma flor para ela. Se não houvesse jardim
algum pelo caminho sempre dava um jeito de arrumar uma pequena surpresa para
não chegar à sua casa de mãos abanando. Como sempre fui mais duro que etc.,
essa pequena surpresa em geral se resumia a um poemeto garatujado no verso da
embalagem do meu maço de Capri em pé numa esquina. Na época fumava Capri (ou
Hilton long size quando dispunha de algum sobrando). Mas com o tempo acabei
deixando de lado o costume de me preocupar em lhe fazer agrados, provavelmente
porque fui perdendo a capacidade de sonhar e recusar, minimamente que fosse, o
ônus da sobrevivência, até um dia acordar este ser seco, tosco e
desinteressantíssimo que sou hoje.)
“Também me lembrei de
você”.
“Cadê?”
“Na geladeira”.
Ela abriu a porta do refrigerador e lá estava a rosa, num meio copo
d’água bem no meio da prateleira do meio.
“Tem um pouco de lasanha no forno e uma caixa de suco de pêssego
na geladeira. Ah, o maço de Camel tá na segunda gaveta do armário”, acrescentei.
Ela sorriu, alisou minha barba com os dedos e reclamou que eu
prometera aparar a cuja para seu aniversário e aproximou a rosa do narizinho
arrebitado e aspirou o perfume da flor com a doçura que a natureza cometera a
suprema justiça de depositar num único ser e sorriu um daqueles seus sorrisos
igualmente suaves, só para me mostrar como é que se aspiram os perfumes da
vida.
“O presente de verdade é
este aqui, seu bobinho”. Rindo, ela me estendeu outro
embrulho.
“Poe!”, adivinhei, esticando as pontas dos
bigodes, ansioso.
Não me canso de espiar (e expiar também) a desfortuna do
Afortunato.
“Para com isso, que tá virando ferida!”
“Não abre a torneira que ainda não arrumei o sifão!”,
alertei.
O sorriso se transubstanciou e por um segundo vi diante de mim uma
serpente com as presas prestes a abocanhar o mais frágil camundonguinho do
mundo. Ela aspirou novamente o perfume da rosa, agora com mais entusiasmo, e
disse que estava morrendo de vontade de comer carne.
Eu também, pensei.
Mas não disse.
E não disse tantas outras coisas.
Nem naquela ocasião, nem naquele dia, nem nunca.
Não disse que por “homem duma mulher só” não quero dizer
simplesmente que sou fiel à minha mulher. Ou que temos uma relação monogâmica. Não,
não é só isso que quero dizer.
Por “homem duma mulher só” quero também dizer que tive apenas uma
mulher ao longo de minha vida.
(Fora mamãe, que não conta nesta conta).
Por “tive apenas uma mulher ao longo de minha vida” quero dizer
que nunca tive outra mulher em minha vida.
Que nunca me apaixonei por outra mulher.
Que nunca fiz sexo com outra mulher.
Se o Polo Norte ou o Polo Sul não fosse tão desumanamente gelado e
inóspito, eu a carregaria para dentro duma caverna entre as geleiras e
romperíamos com o mundo e nos devotaríamos um ao outro longe dos tenebrosos
perigos a que estamos sujeitos nas cidades e nas comunidades sociais e
exclamaria “que se foda todo o resto!”
com entonação de macho protetor e ela, minha única, minha exclusiva mulher,
selaria nosso pacto cum beijinho úmido e estalado.
Enquanto eu sonhava com as distantes, cavernosas geleiras, ela já
voltava do barracão no fundo do quintal trazendo uma chave de grifo e uma
bisnaga que a princípio não pude reconhecer.
“Arruma logo esse sifão, que não dá pra ficar lavando louça no
tanque”. E enfiou a ferramenta e a bisnaga entre minhas mãozinhas delicadas
de inteleca sedentário.
“Que coisa é essa?”, perguntei, lendo o nome do
produto.
“Vedador de rosca, ora. Não foi você quem pediu?”
“Anaeróbico? Pra que serve?”
“Bom, quando vi o
anaeróbico, pensei, deve ser melhor que o aeróbico. Senão, não fabricariam um
anaeróbico.”
Me sapecou um selinho e foi cuidar da vida, me deixando de grifo
na mão tentando ler as infinitesimalmente minúsculas letrinhas da vasta descrição
na embalagem da bisnaga.
Bem, certamente não vai explodir quando eu aplicar no sifão,
pensei animado, me ajoelhando diante da
pia da cozinha.
Vendo que finalmente me agachava para fazer o serviço, ela ligou o
rádio (que nunca tiramos da Cultura FM). Em geral tenho a sorte de não deparar
cuma extravagância qualquer de Paganini, o mais chato dos compositores já nascidos
neste planeta de chitõezinhos. E minha estrela me acudiu mais uma vez: começava
a tenebrosa, a fantasmagórica, a apocalíptica introdução de Lohengrin, com Jonas Kaufmann.
In fernem
Land, unnahbar euren Schritten,
liegt eine
Burg, die Montsalvat genannt;
ein lichter
Tempel stehet dort inmitten,
so kostbar,
als auf Erden nichts bekannt
Em meu computador tenho duas versões do Lohengrin: essa com
Kaufmann, outra com Franz Völker. Raramente escuto apenas uma – gosto de ficar
comparando – no que, tem dia, sou capaz de gastar várias horas. Pois nunca
consigo me decidir qual é a melhor. São interpretações bem diferentes. Um
barítono, outro, tenor. Um, doçura do começo ao fim. Outro, alternâncias
repentinas, tons surpreendentes em cada frase. Depois que conheci Kaufmann
nunca mais escutei Plácido. E ninguém pronuncia o alemão como um alemão, como
diria Heidegger, secundado por Kant, Hegel e Blonda, a cadela pastor-alemão do
Adolf.
Como temia, manejar a chave de grifo acumulando estes 120 quilos
que a preguiça me deu sobre meus pobres joelhos que nasceram para apoiar não
mais que sessenta e tentando enfiar a cabeça por sob a pia logo me deixou
absolutamente exausto. Detesto ter de mexer os músculos. E minha barriga há
décadas deixou de ser encolhível, um centímetro nem por um minuto. E se não
posso retraí-la, não sou capaz de avançar o tórax outro centímetro que seja.
O suor começou a me escorrer pela testa, as têmporas, atrás das
orelhas, se infiltrando na barba, escorrendo pelo queixo até gotejar nos
espessos pêlos que tenho no peito e que também já estavam encharcados.
Foi nesse instante que me lembrei de
que estava morrendo de fome antes desta desastrada aventura de encanador.
Quando decido que estou
morrendo de fome não há o que me dissuada (epa) da vontade de enganar a
pança. Então lembrei que tinha visto, ao lado do meio copo d’água bem no meio
da prateleira do meio da geladeira quando ela abrira a porta do refrigerador
(opa), uma cartela de isopor ainda fechada contendo umas rodelas de mortadela.
Pessoal, se existe algo neste mundo repleto de carcamanos sem rumo
que faz com que o que me restou de lógica nos meus pensamentos deturpados se
dissipe num instante é a visão de rodelas de mortadela.
E se tem algo neste planeta de seres nascidos para a sedução pelo
estômago enquanto almejam à confraternização com os anjos que me sequestra do
meu estado de homem minimamente racional para me jogar numa cela obscenamente repleta
de guloseimas, quitutes e elixires divinos é a ideia de traçar um belo sanduba
de mortadela em pão italiano (epa) na companhia duma geladérrima garrafa
(detesto as famigeradas latinhas) de brama.
Incontinenti, larguei a chave de grifo e a bisnaga de cimento
plástico num canto debaixo da pia, me pus em pé sob uma traviata de gemidos e
palavrões, lavei as mãos e tomei as providências cabíveis.
E, equipado com os apetrechos do meu piquenique noturno, rumei
para o alpendre e assentei base.
Sanduba numa mão, copo de cerva n’outra, me entreguei aos meus
devaneios.
(Okay, pessoal, vou poupá-los dos ditos. Vocês, ou pelo menos a
maioria, já me conhecem e sabem que esse papo ameno que estou levando aqui pode
degringolar de repente. Sim, sem mais, nem menos. Vocês também sabem, é uma das
minhas fraquezas, essa coisa de degringolar, de vira-e-mexe. Se não me
controlar, logo parto pra virar a mesa. Dizem que sou louco por pensar assim. Mas
não se preocupem. Enquanto tiver meu sanduíche nesta mão e meu copo de cerva
nesta outra, estamos todos a salvo.)
Mas – e acho que, depois de tudo, tenho pleno direito a levantar a
questão – que outro momento me seria mais apropriado a devanear senão naquele
em que estou mais apto e desimpedido para me entregar aos meus devaneios?
E, mesmo nunca ter tido sexo com outra mulher, me sinto capaz de
afirmar que até hoje houve apenas uma fêmea com a qual fiz sexo verdadeiramente
ensopado de erotismo, paixão, volúpia, sofreguidão, fantasia, egoísmo,
animalidade, ternura, cumplicidade.
(Um dia (ou melhor, uma noite) me vi sem saída ante uma virago que
não pestanejou (não! não pestanejou, o monstro!) ao dar cum homem tão
suscetível em sua simplicidade mental e sua unicidade espiritual e tão frágil
em sua inépcia de se autodefender e fui obrigado a brochar para impedir que o
estupro se consumasse.
Pois é. (Ixe!)
As feministas de araque não imaginam – ou não são suficientemente
humildes para admitir – que muitas dentre o rebanho feminino seriam
plenamente capazes de executar aquelas tenebrosas ondas de estupro e impulso
eugênico que até hoje os historiadores afirmam ser prerrogativa masculina. É
mentira que uma mulher seja incapaz de perpetrar uma violação sexual, como
atestou Germaine Greer em A
mulher-eunuco. A mulher não estupra simplesmente porque não pode deixar em
sua vítima a semente duma nova vida mas sua vítima pode deixar uma semente na
estupradora. Como costumava dizer Humphrey Bogart, a humanidade está sempre uns
pensamentos atrás da natureza.
Blogando 0032
Não adianta, assistir a um clip de rock é olhar para a luz cegante do sol e ver que talvez nunca consigamos escapar da barbárie.
Cara, não, cara, sinto muito, mas você não pode se entregar com tamanha facilidade a essa catarse animalesca.
Tenha um mínimo de compostura.
Okay, compostura não se usa em sua tribo.
Mas sim aqui entre nós que ainda fazemos um esforço fudido para subir da selvageria para uma situação de mínima cortesia, consideração pelo outro e pelo que o outro pensa e pelas opções e alternativas do outro, sei, certo, esses detalhezinhos burgueses que você e seu bando lutaram tanto para enterrar.
Hoje cedo fui andar numa praça aqui perto com minha suave Zezeí e, batata, lá estavam dois vagabundos ocupando o banco central puxando um chazinho. Em vez de desviar, fiz questão de avançar na direção deles. Os vagabundos não deram a mínima, claro. A praça era deles. Nenhum dos pais e mães nas proximidades ousava se acercar. Os transeuntes apertavam o passo para fugir mais rapidamente dos donos do pedaço.
Cuja aparência autorizava que eu fizesse todas as suposições que já fizera antes ao avistá-los. Eram dois moleques na casa dos vinte, de roupas imundas e mãos e rostos sujos e braços manchados de imundices inclassificáveis.
Tossindo e trocando sabe-se lá que tipo de impressões com suas línguas enroladas e sua exasperante indiferença à concepção de que outros tipos de usuários também tinham direito a usar a praça.
E você vê esses indigentes por todo canto na cidade e me é inescapável associar esses doentes aos rock-stars e ao público que os frequenta.
Que grande merda essa a que chegamos através dos anos 1960. Instituímos a vagabundice como objetivo de vida e agora parece que não temos como fazer para que a história retroceda pelo caminho errado que tomou.
Às vezes me pego delirando que a única solução para vencer a incapacidade cada vez mais aguda de as crianças se abrirem aos ensinamentos civilizatórios seria proclamar Bach como o modelo não mais digno mas único a seguir.
Mas como você lograria isso tendo de vencer e convencer bilhões de animais que foram levados pelos meios de entretenimento como a Globo, a Folha de São Paulo, a Veja e o Estadão a crer que Madonna merece um segundo da sua atenção?
Cara, não, cara, sinto muito, mas você não pode se entregar com tamanha facilidade a essa catarse animalesca.
Tenha um mínimo de compostura.
Okay, compostura não se usa em sua tribo.
Mas sim aqui entre nós que ainda fazemos um esforço fudido para subir da selvageria para uma situação de mínima cortesia, consideração pelo outro e pelo que o outro pensa e pelas opções e alternativas do outro, sei, certo, esses detalhezinhos burgueses que você e seu bando lutaram tanto para enterrar.
Hoje cedo fui andar numa praça aqui perto com minha suave Zezeí e, batata, lá estavam dois vagabundos ocupando o banco central puxando um chazinho. Em vez de desviar, fiz questão de avançar na direção deles. Os vagabundos não deram a mínima, claro. A praça era deles. Nenhum dos pais e mães nas proximidades ousava se acercar. Os transeuntes apertavam o passo para fugir mais rapidamente dos donos do pedaço.
Cuja aparência autorizava que eu fizesse todas as suposições que já fizera antes ao avistá-los. Eram dois moleques na casa dos vinte, de roupas imundas e mãos e rostos sujos e braços manchados de imundices inclassificáveis.
Tossindo e trocando sabe-se lá que tipo de impressões com suas línguas enroladas e sua exasperante indiferença à concepção de que outros tipos de usuários também tinham direito a usar a praça.
E você vê esses indigentes por todo canto na cidade e me é inescapável associar esses doentes aos rock-stars e ao público que os frequenta.
Que grande merda essa a que chegamos através dos anos 1960. Instituímos a vagabundice como objetivo de vida e agora parece que não temos como fazer para que a história retroceda pelo caminho errado que tomou.
Às vezes me pego delirando que a única solução para vencer a incapacidade cada vez mais aguda de as crianças se abrirem aos ensinamentos civilizatórios seria proclamar Bach como o modelo não mais digno mas único a seguir.
Mas como você lograria isso tendo de vencer e convencer bilhões de animais que foram levados pelos meios de entretenimento como a Globo, a Folha de São Paulo, a Veja e o Estadão a crer que Madonna merece um segundo da sua atenção?
Blogando que número mesmo?
Não foi a primeira vez que vi o morto ou que cruzei com ele.
Nos últimos meses o avistava dobrando a esquina (estaria se
esgueirando?) ou apertando os passos na calçada do outro lado da rua como se
tivesse um compromisso urgente (estaria se afastando apressado de algum
conhecido inconveniente?)
Nessas poucas vezes, sempre nas redondezas (nunca o vi a mais de
três ou quatro quarteirões daqui de casa), ele desvanecia da minha mente tão logo o tirava do meu campo de visão.
Pensando nisso agora, fico quase surpreso comigo mesmo (como se
isso por sua vez também fosse surprendente). Pois cada indivíduo com quem cruzo na
calçada em minhas caminhadas regulares ao lado da minha indefectível Zezeí me deixa virtualmente — sim, virtualmente, posso garantir — uma impressão tão
forte, que pode monopolizar meus pensamentos por horas a fio. Dependendo do
caso, dias.
E, não sei se para minha felicidade ou infortúnio, tal indivíduo
nem carece ser lá intrigante ou sequer interessante.
Certo, como escritor, não vou cometer a bobagem de dizer que
pessoas há neste mundo que não valem meio pensamento furado. Não há. Isso
também posso garantir. Se não for preguiçoso ao extremo nem tiver tido sua
curiosidade definitivamente anestesiada por toneladas de lixo televisivo ou por
essa nova doença chamada portais de relacionamento, você sempre poderá
encontrar algo que valha a pena explorar durante um passeio pelas ruas, seja no
gari que varre a calçada como a fuça dele com a desculpa de que a merreca que
ganha por mês não o motiva o suficiente para uma caprichada extra nas
vassouradas, seja na senhora de passos largos e vagarosos cuja nobreza fica
patente pela elegância do andar e a distinção da roupa, seja o
"executivo" saindo da garagem do prédio com seu megacarrão de
trocentos zilhões de dólares cujo rosto está invisível por trás do vidro fumê,
suscitando no observador mil fantasias, seja na deliciazinha recém-banhada,
recém-enxugada e recém-vestida que acabou de descer para o mundo apenas para
que este pare enquanto ela passa.
Não, não há, nem pode haver, dúvidas. Todo ser vivo neste planeta
merece ao menos cinco minutos de reflexão. E de prosa. (Não, não me entenda mal
— prosa sobre ele, não com ele. Nunca converso com estranhos na
rua. Não, não é por medo de sequestro, não. É que nunca converso com ninguém,
seja estranho ou conhecido.) E se o observador tiver uma quedinha que seja pela
arte das letras, make it cinco dias. Ou a vida inteira, se você
for um Proust.
Foi por isso que, como disse acima, fiquei surpreso com minha
indiferença em relação ao morto.
Não, não sou daqueles que de repente se fascinam por alguém assim
que recebem a notícia de que esse alguém esticou as botas. Em geral a mudança
de estado duma pessoa de aceso para apagado ou ativo para inativo ou on para
off não provoca em mim reações particularmente perturbadoras. Não será a
viagem de tal pessoa daqui para o além que me fará perder meu tempo mais
do que já perdi quando ela estava viva. Morreu, vai para o arquivo morto. Já
bastam os vivos pra me torrar a paciência.
Não, não pensem que apelo de propósito a esse tom ligeiramente
jocoso, quase tendendo ao blasfemo, para causar frisson. Sei que meus
leitores têm vivência respeitável na lida com os livros e de certo já estão
sobejamente calejados com situações em que um escritor precise recorrer a um
bocadinho de frivolidade para não morrer — nem matar os coitados que o leem —
de tédio.
Mas, como dizia, pensando no morto agora, eis que me vejo meio que
encafifado.
(Me desculpem, sei que soou como expediente mambembe de
escrevinhador ordinário.)
E fico aqui sozinho, olhar perdido na tela, na mão o copo de Balla
suado das pedras de gelo, me perguntando repetidamente, por que foi que ele sem
mais nem menos atravessou a rua e parou à minha frente e, vendo minhas pupilas
bailarem confusas ante a abordagem súbita, abriu um sorriso acolhedor, me
estendeu a mão e perguntou "Como
vai?" com a mais meiga
das vozes que já escutei?
Atarantado de comoção, respondi "Vou
bem! E o senhor?"
E ele: "Muito
bem, obrigado!"
E, como dizem os tradutores de Balzac, emendou: "Aceita tomar uma geladinha
comigo na padaria ali na esquina?"
Foi então que atinei que a minha mão ainda estava segurando a
dele. E percebi também que o morto era daquelas pessoas que, quando nos
cumprimentam, se recusam a flexionar a mão e os dedos e você fica com a
impressão de estar apertando um pedaço de toicinho.
E, Christ! foi aí que de repente me dei conta de que a mão do
morto, indolentemente a repousar entre a palma da minha mão e meus dedos,
estava gelada como... como só a mão dum morto pode estar.
Lívido qual um personagem de Balzac, reuni forças para erguer
minhas dançarinas pupilas até os olhos dele e, sem atentar se eram os olhos dum
morto, agradeci, declinei o convite e voltei para casa, ambos cabisbaixos, eu e minha infalível Zezeí.
Ela, mais cabisbaixa que eu. Talvez seu sensibilíssimo instinto animal, que todos cantam e decantam, tenha captado algo além da minha anteninha atrofiada de observador já cansado de tanto observar?
Ela, mais cabisbaixa que eu. Talvez seu sensibilíssimo instinto animal, que todos cantam e decantam, tenha captado algo além da minha anteninha atrofiada de observador já cansado de tanto observar?
Blogando quanto mesmo? Fôdasse, eu quero é blogar
Caras,
tergiversei todos esses anos, todas essas décadas, fiz rodeios mil, tentei
escapar daqui, dali, mas não dá mais pra segurar.
O
grande barato da existência é a transitoriedade.
Sei,
vocês estão todos viciados em exemplos e esperam que eu fundamente meu
corolário.
Não
precisa, porra. Simplesmente imaginem algo que seja transitório e lá estará a
belezura.
É
fácil.
Para
quem não é preguiçoso.
Certo,
vocês são.
Então
sejam.
Que é
que tenho com isso
?
?
?
Vou
acrescentar apenas algo importante que merece ser acrescentado:
nada é
tão transitório quanto
um
pensamento produzido por meus olhos
hipnotizados
pelas ocorrencias da rua
necessitado
da urgente consumação do saboreio
duma
kaipiroska divina seguida
duma
diabólica feijoada.
Blogando 0021
O momento supremo na longa escalada dum alpinista
rumo ao topo é a queda.
Como todo sedentário preguiçoso, autocentrado, cínico, também fico
admirado com esses herois das alturas. A disciplina, a coragem, as
ultradesenvolvidas habilidades psíquicas e físicas sem as quais eles não
galgariam sequer três metros acima do nível do mar.
Mas o que me entusiasma mesmo quando penso nesses superatletas é como
são imunes ao fascínio da morte.
Sempre quis tanto morrer.
Não só para encerrar de vez o suplício de me carregar, e ao meu
corpanzil entuchado de banha, para cima e para baixo. Tal suplício é mais que
suficiente, óbvio. Ainda mais porque não sou um alpinista da vida, ou
escafandrista for that matter, não existem cumes aonde eu sonhe em chegar, a
altitude me deixa zonzo, as profundidades, eletricamente claustrofóbico.
Sempre quis morrer para saber como é.
Será qual um indeglutível caroço entalado na garganta que você engole
mesmo assim?
Será que nossa sensorialidade permanece intacta por uns instantes, ao
menos para que nos seja perceptível a transição?
Haverá transição?
É claro que essas perguntas não se aplicam à maioria de nós que hoje
esticamos as canelas terrivelmente sedados... exatamente para que elas, as
perguntas, não nos ocorram.
Que grande raça de pixotes nos tornamos.
Mas não é isso que me interessa agora.
O que me interessa é, quero morrer para saber.
Saber. Finalmente.
O saber que as cartilhas escolares nunca ensinaram e cujos saberes
nunca pretendi saber de qualquer modo.
Quero saber a única coisa que neste momento faria diferença saber.
Passar de mansinho para onde quer que passamos na morte não me
interessa.
Se valer a pena sentir a grande dor, que a sinta.
Ser desligado incólume, inconscientemente feito um rádio de que se
removem as pilhas, no, thanks.
Quero a passagem do alpinista que de repente afrouxa os dedos que o
mantêm espetacularmente vivo no costado do rochedo e pensa "Minha sorte
está em minhas mãos, concretamente" e se entrega à imensa força da
gravidade da qual somos e fomos escravos desde nosso primeiro segundo neste
planeta que flutua pelo espaço apenas pelo capricho da nossa imaginação.
Blogando 0019
22:22, não é piada.
E eu aqui blogando?
Uns tempos atrás a esta hora estava me aprontado para mais uma razzia pelas ruas abandonadas da cidade. Saía de casa rumo ao centro, não haveria butecos abertos em nenhum bairro. Tinha aquele um na esquina da Goiás com a Manoel Coelho que nunca fechava e podia encostar a barriga no balcão e pedir um conhaque com peppermint sucedido dum rabo-de-galo para ir enganando o tédio que raramente vinha de fato pois até a luz da manhã começar a desvirginar o mistério das ruas a cidade seria minha e a vista da esquina à minha frente seria minha e meu seria o mundo.
Cara, não fazia ideia do quanto brincava com o perigo do abismo naqueles tempos, mesmo quando bebia infinitamente além da capacidade de o fígado metabolizar a cachoeira de álcool ingerido ou engolia um, às vezes dois, vidrinhos de Reativan com algumas cachaças para passar uma semana toda acordado na dimensão inexistente do meu quarto olhando as paredes azul-nenê que papai pintara meses antes contando me domesticar.
Me lembro com assustadoramente nítida clareza de que me achava já então num beco sem saída e retroceder só mais um passo seria o abismo e quantas noites iguaizinhas a esta desdenhei do perigo até um ponto de me sentir mais ou menos sobre-humano. Fazia sentido então, tinha chegado até ali contra todas as probabilidades e todo novo dia que visse se abrir em minha história viria como lucro.
Se nunca sentiu, se nunca pensou em sentir, se nunca se imaginou experimentando a suprema liberdade de zanzar de pileque pela cidade in the dead of night, você não verá, jamais verá sentido neste meu relato heroico e nem espero que, mas se há algo que menos me preocupe neste momento é o que outras pessoas possam pensar do que sou e do que falo.
Tal como então, entende?
Estou imerso em mim, desconectado das amarras e dos vínculos e dos elos e dos laços e dos liames e das relações que nos prendem todos a todos como se uma gosma de afeto fajuto pretendesse nos unir até o cemitério e estas ruas escuras e silenciosas e virgens há séculos vêm esperando que meus passos trôpegos violentem a sacralidade de sua imundice. Entende?
Você vai rindo. Sabe que não irá perdurar.
De fato. Não perdurou. O perigo que corro agora neste meu quarto-catacumba é incalculavelmente mais medonho. Perambular pela cidade não é mais opção.
Eis a IMENSA diferença.
A liberdade de enfiar as pernas nas calças e meter os pés nuns chinelos e fechar a porta às costas renunciando deliberadamente ao sossego e a segurança do seu cantinho neste mundo.
Você sabia que seres humanos há que se deixam atrair pelo encanto do mundo?
Sim.
E não estão ao alcance do seu sarcasmo de expert na preservação da espécie que amanhã dobrará as pernas na sala diante da tevê fulminado por um enfarte ou um AVC.
Você não vai acreditar, tenho certeza.
Mas nem eu nem os que se permitem encantar por sereias haveremos de rir.
Hoje cedo chegou a hora de Décio Pignatari.
Talvez de madrugada chegue a minha.
Bem que queria estar sob a égide das minhas ruas virgens, escoltado por meus fantasmas inexistentes, desobrigado de roteiros.
Não, não o/a culpo.
Não, não me culpe.
Nos distingue apenas uma diferença — estou preparado, você, não.
Uma diferença ligeiríssima que nem vale a pena anotar na caderneta.
E eu aqui blogando?
Uns tempos atrás a esta hora estava me aprontado para mais uma razzia pelas ruas abandonadas da cidade. Saía de casa rumo ao centro, não haveria butecos abertos em nenhum bairro. Tinha aquele um na esquina da Goiás com a Manoel Coelho que nunca fechava e podia encostar a barriga no balcão e pedir um conhaque com peppermint sucedido dum rabo-de-galo para ir enganando o tédio que raramente vinha de fato pois até a luz da manhã começar a desvirginar o mistério das ruas a cidade seria minha e a vista da esquina à minha frente seria minha e meu seria o mundo.
Cara, não fazia ideia do quanto brincava com o perigo do abismo naqueles tempos, mesmo quando bebia infinitamente além da capacidade de o fígado metabolizar a cachoeira de álcool ingerido ou engolia um, às vezes dois, vidrinhos de Reativan com algumas cachaças para passar uma semana toda acordado na dimensão inexistente do meu quarto olhando as paredes azul-nenê que papai pintara meses antes contando me domesticar.
Me lembro com assustadoramente nítida clareza de que me achava já então num beco sem saída e retroceder só mais um passo seria o abismo e quantas noites iguaizinhas a esta desdenhei do perigo até um ponto de me sentir mais ou menos sobre-humano. Fazia sentido então, tinha chegado até ali contra todas as probabilidades e todo novo dia que visse se abrir em minha história viria como lucro.
Se nunca sentiu, se nunca pensou em sentir, se nunca se imaginou experimentando a suprema liberdade de zanzar de pileque pela cidade in the dead of night, você não verá, jamais verá sentido neste meu relato heroico e nem espero que, mas se há algo que menos me preocupe neste momento é o que outras pessoas possam pensar do que sou e do que falo.
Tal como então, entende?
Estou imerso em mim, desconectado das amarras e dos vínculos e dos elos e dos laços e dos liames e das relações que nos prendem todos a todos como se uma gosma de afeto fajuto pretendesse nos unir até o cemitério e estas ruas escuras e silenciosas e virgens há séculos vêm esperando que meus passos trôpegos violentem a sacralidade de sua imundice. Entende?
Você vai rindo. Sabe que não irá perdurar.
De fato. Não perdurou. O perigo que corro agora neste meu quarto-catacumba é incalculavelmente mais medonho. Perambular pela cidade não é mais opção.
Eis a IMENSA diferença.
A liberdade de enfiar as pernas nas calças e meter os pés nuns chinelos e fechar a porta às costas renunciando deliberadamente ao sossego e a segurança do seu cantinho neste mundo.
Você sabia que seres humanos há que se deixam atrair pelo encanto do mundo?
Sim.
E não estão ao alcance do seu sarcasmo de expert na preservação da espécie que amanhã dobrará as pernas na sala diante da tevê fulminado por um enfarte ou um AVC.
Você não vai acreditar, tenho certeza.
Mas nem eu nem os que se permitem encantar por sereias haveremos de rir.
Hoje cedo chegou a hora de Décio Pignatari.
Talvez de madrugada chegue a minha.
Bem que queria estar sob a égide das minhas ruas virgens, escoltado por meus fantasmas inexistentes, desobrigado de roteiros.
Não, não o/a culpo.
Não, não me culpe.
Nos distingue apenas uma diferença — estou preparado, você, não.
Uma diferença ligeiríssima que nem vale a pena anotar na caderneta.
Blogando 0018
Hoje estou animado e economizarei em tudo menos nos pontos de exclamação.
Tenho saudade!
Tenho falta!
Tenho dor!
Tenho sede!
Tenho fome!
Quero me virar do avesso, preciso devorar-me!
Buscar, e encontrar, em mim os assoberbantes sabores que me prometeram!
O bálsamo do palmito!
O novo do tomate!
O sossego da batata!
A perplexidade do caranguejo!
O alívio deste uisquinho bem gelado...
Tenho saudade!
Tenho falta!
Tenho dor!
Tenho sede!
Tenho fome!
Quero me virar do avesso, preciso devorar-me!
Buscar, e encontrar, em mim os assoberbantes sabores que me prometeram!
O bálsamo do palmito!
O novo do tomate!
O sossego da batata!
A perplexidade do caranguejo!
O alívio deste uisquinho bem gelado...
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