Blogando 0021




O momento supremo na longa escalada dum alpinista rumo ao topo é a queda.
Como todo sedentário preguiçoso, autocentrado, cínico, também fico admirado com esses herois das alturas. A disciplina, a coragem, as ultradesenvolvidas habilidades psíquicas e físicas sem as quais eles não galgariam sequer três metros acima do nível do mar.
Mas o que me entusiasma mesmo quando penso nesses superatletas é como são imunes ao fascínio da morte.
Sempre quis tanto morrer.
Não só para encerrar de vez o suplício de me carregar, e ao meu corpanzil entuchado de banha, para cima e para baixo. Tal suplício é mais que suficiente, óbvio. Ainda mais porque não sou um alpinista da vida, ou escafandrista for that matter, não existem cumes aonde eu sonhe em chegar, a altitude me deixa zonzo, as profundidades, eletricamente claustrofóbico.
Sempre quis morrer para saber como é.
Será qual um indeglutível caroço entalado na garganta que você engole mesmo assim?
Será que nossa sensorialidade permanece intacta por uns instantes, ao menos para que nos seja perceptível a transição?
Haverá transição?
É claro que essas perguntas não se aplicam à maioria de nós que hoje esticamos as canelas terrivelmente sedados... exatamente para que elas, as perguntas, não nos ocorram.
Que grande raça de pixotes nos tornamos.
Mas não é isso que me interessa agora.
O que me interessa é, quero morrer para saber.
Saber. Finalmente.
O saber que as cartilhas escolares nunca ensinaram e cujos saberes nunca pretendi saber de qualquer modo.
Quero saber a única coisa que neste momento faria diferença saber.
Passar de mansinho para onde quer que passamos na morte não me interessa.
Se valer a pena sentir a grande dor, que a sinta.
Ser desligado incólume, inconscientemente feito um rádio de que se removem as pilhas, no, thanks.
Quero a passagem do alpinista que de repente afrouxa os dedos que o mantêm espetacularmente vivo no costado do rochedo e pensa "Minha sorte está em minhas mãos, concretamente" e se entrega à imensa força da gravidade da qual somos e fomos escravos desde nosso primeiro segundo neste planeta que flutua pelo espaço apenas pelo capricho da nossa imaginação.




Nenhum comentário:

Postar um comentário