Entregando os pontos



Estou tentando decidir se entro no Facebook (sem adjetivações, em respeito aos meus vários colegas de blog que já entraram. Mas que vontade de adjetivar...)

Me orgulho de ser um dos três ou quatro espécimes da raça que ainda não cederam à tentação.

Como parte do processo de tomada de decisão (que, espero, não leve mais de, digamos, seis meses), fui xeretar alguns “dados”, como dizem os especialistas hoje em dia.

Achei um sítio (prefiro o termo lusitano ao nosso desmilinguido “site”, importado sem carteira de vacinação diretamente do inglês; em geral não implico muito com anglicismos; e, obviamente, seria perda de tempo e de juízo pretender preservar a Última Flor do Lácio virgem e pura; sempre usei “sítio” no lugar do termo original, até que um dia um cliente me perguntou, num email qualquer, se me referia a fazenda ou que tal), bem, antes de me perder em explicações supérfluas, dizia que achei um sítio que dá o “update” estatístico diário da famigerada rede de “relacionamento”, ugh.

Os dados, hoje, (só os mais, em meu entendimento, interessantes), eram os seguintes:

- Número total de usuários (utentes, no dizer dos lusos): 1,11 bilhão.

- Usuários ativos diariamente: 665 milhões.

- Número total dos que usam através de celulares: 751 milhões.

Ufa.

Outro dia escrevi uma postagem relativamente longa soltando os pets no dito cujo, em que dizia, entre mil reverbérios, que o FB é um moedor de individualidades. Este é um dos comentários mais softs. No fim achei meio pesado demais e resolvi botar o galho dentro, como se dizia no Rio no meado da década de sessenta do século passado.

Mas, enquanto me decido se entrego ou não minha preciosíssima individualidade ao Grande Moedor Hiper Ultra Digital, vou-me distraindo cum artigo escrito há uns dois anos pelo meu fero colega Antonio Gonçalves Filho no Estadão.

Gonçalves Filho, antes de espezinhar o FB, entra de sola na internet, que chama de “saco de gatos cheio de ratazanas autodestrutivas, loucas para serem devoradas.” Como estão vendo, GF é dos meus.
Para ele, os jovens que participam do FB sofrem de “ingenuidade narcísica”. Zuckerberg, o criador do Moedor, é um “gato maluco que vai devorar esses ratos, caídos na cilada virtual de uma rede que cria usuários dependentes.”

GF menciona como, durante a invenção do FB, Zuckerberg expôs “a namorada que o rejeitou ao lado de outra garota e promove o concurso 'quem é a mais quente', forçando a interatividade dos colegas e reduzindo suas vítimas à condição de vacas leiteiras.”

E finaliza:

“Tudo vira jogo nesse ambiente virtual de monomaníacos, que desperdiçam o tempo em conversas fúteis, desprezam a ética e são assaltados por uma psicose social que os leva a ver o 'outro' como uma abstração. Estaremos diante de uma mutação antropológica? É provável. A internet virou o tabernáculo eletrônico de jovens que se confessam e punem uns aos outros ao expor rostos e almas no altar do Facebook, onde reina Lady Gaga, dona do perfil mais seguido nesse horrendo culto.”

Bem, é muito provável que aquele grupo de três ou quatro espécimes da raça que ainda não cederam à tentação de entrar no Moedor de Individualidades vá ter reduzido seu headcount em um. Sim, acho que vou acabar cedendo.

Outro dia meu amigo Scarlata deixou um comentário em meu blog me perguntando se estou no FB. Quero crer que não tenha batido o olho na minha apresentação, onde digo textualmente “Não estou no Facebook”.

A questão é, se não está no FB, você simplesmente não existe. Como escritor, quero e preciso ser lido.

Não sou excessivamente vaidoso. Se o Facebook não vem a mim, eu vou ao Facebook, porra.




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