
Não, o rapaz da foto não é Jean Paul Sartre com uma prima da Simone, como muitos de vocês pensaram. Trata-se de Serge Gainsbourg. A moça é Jane Birkin. Juntos cantaram uma baladinha que nos meus tempos áureos de 1969 fez grande sucesso: Je t'aime.
Se a primeira sensação que você teve ao ver essa foto foi a de glamour
escorrendo em camadas grossas e pingantes até solapar todos seus demais
sentidos, tudo bem. A intenção era essa mesma.
Se sua segunda sensação foi a de sensualidade à beira da explosão,
tudo bem idem. Gainsbourg era mestre nessas coisas.
Quem assistiu ao filme aquele sobre Gainsbourg, esqueça. Não me
interessa sua fama de depravado, comedor, amante ou bebum. Me ligo apenas no
poeta.
Gainsbourg devotou imensa energia a Birkin, sua musa. Fez de si mesmo
uma fera, dela, a bela. De si, o fero, dela, a deusa.
Então o tempo passou e Birkin começou a envelhecer. Gainsbourg, ao que
parece, não contava com tamanha traição. E quando o tempo passou, partiu para
musas outras. Tem pecado que tem perdão, dependendo do pecador.
Postei o texto acima no blog há uns anos. Hoje
tive a ideia de revisitar esse mágico cântico romântico-infantil no sempre,
eternamente inacreditável utube.
Dieu, como Gainsbourg era feio. Lembrava, gulp,
vejam lá, um sapo.
Que foi que a dríade Birkin viu no frog?
Talento.
A chispa imorredoura da arte.
Quando comecei a namorar a mulher que até hoje é
minha mulher, e que é e sempre foi bela como Birkin, tive de comprovar mil
vezes que era digno dela.
Primeiro, à família. O pai nunca se conformou.
Planejava um príncipe. Como Birkin, ela optou por um sapo. A mãe e os irmãos
também franziram a testa. E o nariz. E os amigos. E as amigas. Muitos, e
muitas, nunca me dirigiram a palavra. Lhes sequestrei a princesa que até então
estava destinada a rumar em segurança para o conto de fadas.
Foi, e é, uma caminhada de esplendor, gozo e percalços. Gainsbourg deu um pé em Birkin quando avistou a primeira ruga. Nós poetas ordinários levamos um pé atrás do outro quando nossa musa percebe que o gauchismo é pra valer.
Como Gainsbourg, sou talentoso. E feio.
Ao contrário de Gainsbourg, não tenho faro para o
sucesso.
Muito menos para a grana.
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