Me arrependo
das mulheres que não amei
das mulheres que não beijei
das mulheres que não traí
Me arrependo
de cada momento
em que, por experimento,
permiti que minha mente em desnorteio se entregasse ao desespero atrás da música impossível que meus ouvidos exigiam ouvir
Me arrependo, todos os instantes,
De todos os instantes em que fugi e em que fiquei
Em que nem notei, em que dormi
Dos sonhos que não tive, dos sonhos que esqueci
Me arrependo da última dança
E, naturalmente, da primeira
Me arrependo do olhar curioso daquela garota do prédio da rua Goitacazes
Do seu perfume, da invasão inebriante em minhas narinas quando a puxei para dançar
Me arrependo, ó Deus, da sua pele de seda a roçar os pelos do meu rosto púbere
Me arrependo dos que me leem de nariz torcido me achando repetitivo e previsível
E que só fazem me arrepender cada vez mais dos meus arrependimentos
Me arrependo do que fiz, do que falei
E daquela distante tarde em que nasci
Da vida que vivi, da vida que evitei
Do pouco que fui capaz de aprender essas longas décadas
Da chuva que ameaça cair na tarde de amanhã
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