Deixa-me entrar


Perto aqui de casa há a rua Machado de Assis, a Olavo Bilac, a Casimiro de Abreu, a Castro Alves. Tenho de concordar com elas, pois são corretamente paralelas. Mais: estão entremeadas de vielas batizadas para homenagear eventos históricos como a batalha de Curupaiti. E têm ainda em comum o fato (que não sei se é deveras fato) de terminarem na Espírito Santo. Para mim também está correto -- minha família, que já não existe, era fervorosamente católica.

Não sou muito de passear a pé pela cidade. E quando saio em geral subo ou desço pela Machado sem me dar conta de onde estou ou aonde vou (e não pense que é exagero ou tique literário se acrescento que nem de quem sou). E, se de tal conta me dou, é por outros motivos, pessoais, nenhum deles muito relevante.

Quanto à minha rua, tem nome de senador, um político obscuro esquecido na década de quarenta, acho, cujo maior feito talvez tenha sido virar nome de avenida. (Pena que os políticos não sejam como Mario de Andrade nem sintam o mesmo horror ante a possibilidade de lhes ocorrer igual destino.)

Moro há décadas na avenida do senador, mas nunca me orgulhei nem disso nem de outras coisas. O que eu queria mesmo era morar numa rua sem nome e se um dia me afastasse de casa o suficiente para me perder, fosse impossível saber onde moro. Ou aonde vou.

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