Absurdo fogão 4 bocas

O Zé-Maioria tende à moderação. O Zé-Maioria que não está nas cadeias, nos hospícios, na Cracolândia ou na Antárdida estudando pinguim. O Zé-Maioria goza no meio das calças quando depara com outro Zé-Maioria moderado. Taí uma coisa que me encafifa. O distinto por certo conhece um jornalista, uma celebridade, um político desse jaez. Todo Zé-Maioria enche a boca e cospe elogioso: o Zé-Maioria é que é equilibrado. A Maioria-José tem crédito, afinal se mostra ponderada mesmo quando tá numa sinuca.

O disgramado que não se encaixa no Grande Molde do Equilíbrio, na exata contrapartida, esse é olhado com aqueles olhões que os Zés-Maioria olham um primata no zoológico. Se der mole, é capaz de passar ridículo: tu viu o Zé-Mané? Sujeito mais destemperado, seu. Diz tudo que lhe passa pela cabeça e um tanto mais. E lá vai o Zé-Mané tomar ferro na vida porque os doutores Zés-Maioria e as primeiras-damas Maioria-Josés decretaram a lei do aplomb.

Tu sabe, a política da moderação se ajusta bonitinho dentro dessa invenção dos velhacos chamada marketing pessoal. O panaca equilibrado ganha a confiança dos outros panacas equilibrados e acaba subindo na vida exatamente porque é um babaca cauteloso morno e insosso.

A tribo dos prudentes perdoa muitos dos desvios de conduta. Toleram que o coronelzão da política roube uns milhõezinhos, desde que não deixe pistas óbvias demais. Ao gambé pé-de-chinelo, que cometa abuso de autoridade ou desça a mão na orelha dum maconheiro, desde que as câmaras da imprensa não flagrem o delito ou o safado não morra no ato. O senhor Grotesco Juiz tem licença para acobertar poderosos e meter manés no xilindró, desde que o poderoso seja simpático e a poderosa, bonitinha, e que o mané, um primitivo irrecuperável sem noção de moda ou estética. 


Mas aquele que se indigna que a covardia seja a norma, esperneando que os manda-chuvas tenham posto tudo de ponta-cabeça; aquele que se exaspera vendo a cada dia crescer o número de humilhados deixando-se bovinamente espezinhar sob a maviosa empulhação da propaganda do depurador de ar de banheiro, esbravejando que em seus amargos delírios sonha com o dia em que a turba deitará os palácios por terra, martelando-lhes na cachola a toada infernal que eles também podem ser felizes se aceitarem o mundo do jeito que este lhes é oferecido, bem, tu sabe tanto quanto eu, são eles que nos governam a todos. Todas as atrocidades são cometidas por esses equilibrados ou sob seus auspícios. Bem diante das nossas bem-compostas fuças.   

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