Tradução de trecho de Friedrich Heinrich Jacobi

Quando o homem examina a natureza que se expõe ao seu sentido externo com o sentido interno e esforça-se por entender, compreender, fundamentar sua essência infinita com seu entendimento, não resta a ele, no final de seus esforços, nenhum fundamento de explicação dela e do universo, mas apenas um escuro abismo. O entendimento ainda infantil pensa esse abismo para si como um caos, do qual emana um composto de necessidade e incerteza, aos poucos materiais de formação, e então, já formados, deuses e mundos, animais e homens. O entendimento da maturidade reprova o abismo e o caos, porque ele se elevou à clara compreensão de que o pensamento de um universo que se desenvolve apenas gradativamente a partir da eternidade é um pensamento completamente sem sentido, com o qual se pode reduzir tudo aquilo que ele apresenta ao nada absoluto. Aqui entra a doutrina de uma perfeição sempre igual do universo, de um ser infinito que faz um círculo em si mesmo de eternidade em eternidade, cujo infinito sem finalidade ora surge tão-somente por meio da necessidade de sua natureza, ora deixa perecer sem que em qualquer lugar ou em qualquer tempo ocorra um surgir ou um desvanecer essenciais. A doutrina de uma natureza que não é nenhuma força de criação, mas apenas uma eterna força de mudança.

O entendimento que se afunda sozinho na natureza não pode chegar a um conceito mais elevado, tal como o que é fornecido aqui do En kai pan; ele não pode encontrar nela aquilo que nela não está, o seu autor, e daí põe a sentença: autônoma, suficiente em si mesma, ora e outra viva, a vida é ela própria a natureza; somente ela é e além e acima dela não há nada.

Traduzido de "Einleitung in des Verfassers sämtliche philosophische Schriften".

Um comentário:

  1. Será que uma sacada de Proust seria equivalente: "Para entender uma situação desconhecida, lançamos mão de elementos conhecidos e por causa disso não conseguimos entendê-la"?

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