Entreouvido no balcão do meu buteco

Pessoa:
Ah! A angústia, a raiva vil, o desespero de não poder confessar num tom de grito, num último grito austero meu coração a sangrar!

Bernhard:
Quando olhamos para as pessoas só vemos mutilados, por fora ou por dentro, disse-nos uma vez o Glenn, ou mutilados por dentro e por fora, não há senão gente assim, pensava eu. Quanto mais tempo olhamos para alguém tanto mais mutilado nos parece, porque é mais mutilado ainda do que nós podemos admitir, mas é essa a realidade. O mundo está cheio de mutilados. Andamos na rua e só encontramos mutilados.

Celan:
Leite negro da aurora nós o bebemos ao crepúsculo, nós o bebemos ao meio-dia e pela manhã nós o bebemos à noite, bebemos e bebemos, cavamos uma sepultura nos ares lá não se fica apertado, um homem mora na casa brinca com as serpentes escreve, escreve quando escurece na Alemanha teus cabelos de ouro Margarete, ele escreve isso aparece diante da casa e as estrelas cintilam ele - chama sua matilha, chama seus judeus manda cavarem na terra uma sepultura, ele nos ordena ponham-se a tocar agora para a dança

Pavese:
Virá a morte e terá os teus olhos, esta morte que nos acompanha da manhã à noite, insone, surda, como um velho remorso ou um vício absurdo.

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