Prêmio de melhor dissertação da classe


Arrastei-me no meio da lama desde o fundo do quintal
Esfiapou a roupa no arame, os braços no cimento
Limpei-me o rosto do orvalho da grama, ironizei como se fosse a última vez
Ergueu-me os braços nos ramos da árvore, esfreguei até sangrar as mãos no muro seco
Joguei-me através do corredor estreito e, para agarrar-se ao degrau, tudo caiu na terra úmida
A cabeça chiou n'água qual fogo, o nada categórico deserto sob o inferno mental
Delirou com pernas musculosas, bíceps ostensivos
(Mas) Poupei-me o sacrifício literal
(Por todo o caminho cinjo-me ao natural, ao primitivo, ao estrutural)
Estiquei o braço como se borracha fosse até a tranca da porta -- feito favela --, desencadeando o turbilhão de visões imóveis, interiores
E rolei para trás desde o topo da escada destemida
(Todo o caminho)
Dei o tiro sobre o jogo com palavras, ódios perecíveis
Lembrou-se do que de só para lembrar-se
Falseou-me resolutamente o pé no assoalho liso, derrapante; voluntário, devia rachar-me o crânio
Voltei-me de costas, vezes, voltas religiosas e nunca existi
Libertei-me da debilidade para sentir-me em união à vulgar força de vontade
Arrepiou-se inteiro e por toda (su)a volta da mesa minha onipresença
Olhos tiraram-me a visão, o dia morreu
Encheu-se o estômago de saliva e de qualquer modo
O medo revolveu minha autocoerção e nunca foi tanta a paralisia indigesta
Esfreguei-me à parede com a roupa embarreada, incômoda à paz momentânea
Seriamente, atravessei o umbral, vulgarmente vendo-me
Passei sobre o tapete, individualizei o lustre
Todo o tempo jogou-se(me) a neblina de encontro à estante, às cadeiras
Voei, bestial (voei bestial), e caí na calçada, atingi a calçada, levantei-me para cair na sarjeta, consegui o veículo
Todo o caminho
Fui capaz de sonhar, ostentar exibicionismo parcial
E o veículo partiu, muito mais que veloz
E descobri o medo substancial
Não há frivolidade -- do medo veio-me tudo; apenas Ele existe

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