Vale morrer, cabe viver

Quer dizer então que ela era carente?


Sim, senhor.

"Sim senhor" e mais nada? Podia elaborar um pouco mais?

Elaborar? Como assim, senhor?

Se estender, dar detalhes, dizer o que realmente acha que houve. Aliás, que é que acha realmente que houve?

Bom... Eu... Ãhn...

Pode falar. Tudo ficará entre nós. Além de ser carente, que outros problemas a moça tinha, em sua opinião?

Bom... Ãhn... Bem, além de carente, acho que ela era muito insegura.

Huhum. Que mais?

Calada. Sim! Muito calada. Quase não abria a boca.

Sei. Prossiga.

E solitária. Não tinha amigos. E estava sempre com a cabeça baixa. E nunca olhava a gente nos olhos. Quem puxasse conversa só recebia um hã, sim, não. O senhor sabe, essas pessoas monossilábicas. E sempre mirando o chão, como se procurasse uma moeda perdida. E parecia não ter vontade própria. Topava tudo que a gente inventava. E nunca tinha voz pra nada. Tudo sempre bom. E triste. Parecia desamparada. Nas vezes raras em que mostrava o olhar, víamos que estava assim meio aflita, sabe? Inquieta, como se não pudesse baixar a guarda.

E você acha que foi por isso?

Bom, sei que vai parecer estranho. O senhor pode até não acreditar. Mas não, não acho.

Então o que é que foi?

Foi o destino. Sei que o senhor vai rir. Mas foi o destino.

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