Ela, do Sumarezinho,
ele, da Aclimação.
Ela, doce Mariazinha,
Ele, crédulo João.
Era tarde, tardezinha,
Tarde quente de verão,
Ele, triste, tão
sozinho,
ela, só empolgação.
Ela era miudinha,
Ele, baita cavalão.
A garota, uma gracinha,
ele, puta beberrão,
até rude e mesquinho,
sem nenhuma inspiração.
Ela ria de mansinho,
Ele tinha vozeirão.
Ela, rosa sem espinho,
ele, vida sem razão.
Ela, pura, um anjinho,
ele, puro brincalhão,
ela, meiga peruazinha,
ele, tímido pavão.
Ela abria as asinhas
e voava sem noção.
Ele, sempre saidinho,
dava mais pra gavião.
Belo dia, um dos
vizinhos
lhe falou de supetão:
“Que te falta é
campainha,
já tá quase quarentão!”
Contristado, o
pobrezinho
sopesou a situação.
Já não era rapazinho,
encarecia de afeição,
de meiguice, de carinho,
cafuné e diversão.
Noutro dia, de tardinha,
pesaroso, caidão,
foi até o Belenzinho,
Sacomã, Vila Carrão,
Vila Nova Cachoeirinha,
e parou num bandejão,
pediu logo caipirinha,
muito gelo com limão,
depois uma cavalinho
pra ajudar na digestão,
e uma pinga com farinha,
e salada de agrião,
“Manda outra geladinha,
pra esquecer a recessão!
Bota uma tatuzinho
pra encarar o barracão!”
Tropicando um bocadinho,
fez sinal pra lotação
e sentou encolhidinho,
bruta dor no coração.
Nisso viu a Mariazinha,
Na Ipiranga/São João.
Ficou logo caidinho
E desceu todo alegrão.
Se achegou e,
apressadinho,
logo foi tascando a mão.
Ao que a doce jovenzinha
mumunhou um palavrão.
Ele, cara de santinho,
Implorou-lhe seu perdão.
Ao que ela fez beicinho:
“Cê merece um bofetão!”
Mas, olhando o
coitadinho,
‘té que dava um
programão.
Com discreta tossezinha
ele fez uma inspeção:
“Que garota, que
gatinha,
bom, de rosto é um
canhão,
mas o resto, que
corpinho,
meu, é um baita dum
avião!
Deixa ver, eu adivinho,
Cê nasceu escorpião!”
Ela disse, “seu bobinho,
Eu não caio nessa não!”
E assim, de bocadinho,
foi crescendo a afeição.
Ela, tórrida andorinha,
ele, lúbrico falcão.
Ofertou o seu dedinho,
ele deu logo um chupão.
Ela riu toda galinha,
Ele riu feito um pagão,
ela, qual uma santinha,
ele, zonzo de paixão:
“Você vai ser a rainha
deste humilde bobalhão.
Vai mandar lá na
cozinha,
enquanto eu luto pelo
pão.
Vai ser a fada-madrinha,
pilotando o meu fogão.
E à noite, coladinhos,
vamos ver televisão
e fazer logo um sobrinho
pro Edmilson, meu
irmão”.
“Ah meu fofo, meu
fofinho,
chega dessa embromação!
Vamo lá pro meu cantinho
começar a malhação!
Já tô toda molhadinha,
mais não agüento de
tesão!
Vou-lhe dar tudo,
tudinho,
Vou te pôr muito
doidão!”
Então os dois,
abraçadinhos,
Se aboletaram no busão,
indo pro Sumarezinho,
via a Consolação.
Ansiosos, os pombinhos
Mal chegaram no portão
se lamberam tesudinhos,
se entregaram à
esfregação,
depois foram pro
quartinho
se atiraram no colchão.
Sem lembrar da
camisinha,
encetaram a pegação,
ele, dando risadinha,
era só depravação,
ela rindo safadinha,
muda de antecipação.
Ele, “minha Mariazinha!”
Ela, “ai meu furacão!”
Explodiram em mil
carinhos,
permutando beliscão.
Ela, quase peladinha,
só de blusa de algodão.
E minúscula calcinha
que se foi dum só puxão.
Ele: “vem, minha
rolinha!”
“Estraçalha, cachorrão!
Me mordisca, me
espezinha,
me devora, comilão!”
Ele então, afiadinho,
Encetou a beijação.
De repente, um gritinho:
que era aquilo na sua
mão?
Pomba nada, nem rolinha!
Porra, que enganação!
A ardente passarinha
Era um camaleão
Ela, do Sumarezinho,
ele, da Aclimação.
Ela, doce Mariazinha,
Ele, crédulo João.
Era tarde, tardezinha,
Tarde quente de verão,
Ele, triste, tão
sozinho,
ela, só empolgação.
Ela era miudinha,
Ele, baita cavalão.
A garota, uma gracinha,
ele, puta beberrão,
até rude e mesquinho,
sem nenhuma inspiração.
Ela ria de mansinho,
Ele tinha vozeirão.
Ela, rosa sem espinho,
ele, vida sem razão.
Ela, pura, um anjinho,
ele, puro brincalhão,
ela, meiga peruazinha,
ele, tímido pavão.
Ela abria as asinhas
e voava sem noção.
Ele, sempre saidinho,
dava mais pra gavião.
Belo dia, um dos
vizinhos
lhe falou de supetão:
“Que te falta é
campainha,
já tá quase quarentão!”
Contristado, o
pobrezinho
sopesou a situação.
Já não era rapazinho,
encarecia de afeição,
de meiguice, de carinho,
cafuné e diversão.
Noutro dia, de tardinha,
pesaroso, caidão,
foi até o Belenzinho,
Sacomã, Vila Carrão,
Vila Nova Cachoeirinha,
e parou num bandejão,
pediu logo caipirinha,
muito gelo com limão,
depois uma cavalinho
pra ajudar na digestão,
e uma pinga com farinha,
e salada de agrião,
“Manda outra geladinha,
pra esquecer a recessão!
Bota uma tatuzinho
pra encarar o barracão!”
Tropicando um bocadinho,
fez sinal pra lotação
e sentou encolhidinho,
bruta dor no coração.
Nisso viu a Mariazinha,
Na Ipiranga/São João.
Ficou logo caidinho
E desceu todo alegrão.
Se achegou e,
apressadinho,
logo foi tascando a mão.
Ao que a doce jovenzinha
mumunhou um palavrão.
Ele, cara de santinho,
Implorou-lhe seu perdão.
Ao que ela fez beicinho:
“Cê merece um bofetão!”
Mas, olhando o
coitadinho,
‘té que dava um
programão.
Com discreta tossezinha
ele fez uma inspeção:
“Que garota, que
gatinha,
bom, de rosto é um
canhão,
mas o resto, que
corpinho,
meu, é um baita dum
avião!
Deixa ver, eu adivinho,
Cê nasceu escorpião!”
Ela disse, “seu bobinho,
Eu não caio nessa não!”
E assim, de bocadinho,
foi crescendo a afeição.
Ela, tórrida andorinha,
ele, lúbrico falcão.
Ofertou o seu dedinho,
ele deu logo um chupão.
Ela riu toda galinha,
Ele riu feito um pagão,
ela, qual uma santinha,
ele, zonzo de paixão:
“Você vai ser a rainha
deste humilde bobalhão.
Vai mandar lá na
cozinha,
enquanto eu luto pelo
pão.
Vai ser a fada-madrinha,
pilotando o meu fogão.
E à noite, coladinhos,
vamos ver televisão
e fazer logo um sobrinho
pro Edmilson, meu
irmão”.
“Ah meu fofo, meu
fofinho,
chega dessa embromação!
Vamo lá pro meu cantinho
começar a malhação!
Já tô toda molhadinha,
mais não agüento de
tesão!
Vou-lhe dar tudo,
tudinho,
Vou te pôr muito
doidão!”
Então os dois,
abraçadinhos,
Se aboletaram no busão,
indo pro Sumarezinho,
via a Consolação.
Ansiosos, os pombinhos
Mal chegaram no portão
se lamberam tesudinhos,
se entregaram à
esfregação,
depois foram pro
quartinho
se atiraram no colchão.
Sem lembrar da
camisinha,
encetaram a pegação,
ele, dando risadinha,
era só depravação,
ela rindo safadinha,
muda de antecipação.
Ele, “minha Mariazinha!”
Ela, “ai meu furacão!”
Explodiram em mil
carinhos,
permutando beliscão.
Ela, quase peladinha,
só de blusa de algodão.
E minúscula calcinha
que se foi dum só puxão.
Ele: “vem, minha
rolinha!”
“Estraçalha, cachorrão!
Me mordisca, me
espezinha,
me devora, comilão!”
Ele então, afiadinho,
Encetou a beijação.
De repente, um gritinho:
que era aquilo na sua
mão?
Pomba nada, nem rolinha!
Porra, que enganação!
A ardente passarinha
Era um camaleão