Consciência incivilizada


Estou bem aqui entre 9 e 10 desta manhã de 2a.-feira, bem aqui entre janeiro e março, feito uma telefonista de 1950 tentando conectar os pinos machos das respostas às tomadas fêmeas das perguntas.
Meu manual recomenda não tentar poesia assim tão cedo.
Pois ainda durmo e quando durmo tenho gana de confessar.
E, você sabe, confessar é uma imprudência.
Imprudente, queria te fazer um navio a afundar no porto sobrecarregado de confissões.
Queria te gritar um gemido deslumbrado de grasnos e ganidos, uivos e murmúrios.
Numa língua tão pessoal, que te deixasse identificar uma manada de unicórnios, grifos e mil bestas surreais dispostas a me acolher.
Sei que existe em algum lugar aí dentro. Sei que está em um dos teus pensamentos.
Quando o encontrares, farei finalmente parte. Por ora, vou tentando seguir em meu bando de um.
Mas, como disse, ainda durmo.
E quando durmo, sonho.
Sonho em fugir desta prisão dos homens desesperados. (Merda, isso não são horas para sonhos tão triviais.)
Quando acordares, um bilhão de grilos mudos sairão de suas tocas diurnas para salpicar a seda da minha noite.

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