Um hippie cangaceiro

Ele tem a voz cristalina dos cantores do folk americano
Entoando suas baladas lamentando que tudo tenha dado tão errado
Ao ouvi-las, nossos corações se paralisam duma ambígua surpresa
Como pode esse trovador juvenil denunciar as mazelas do mundo
Com tamanha propriedade?

Ele tem o olhar translúcido das raças do Norte da Europa
Que pousa em cada um de nós displicente, insondável, quase apático
Um brilho enigmático que por si nos dá a dimensão da nossa culpa
E então ficamos silenciosos, matutando, como pode esse ser tão
inocente conhecer tão bem nossos pecados?

E para nos intrigar ainda mais, ele nunca escondeu — e sabemos
Muito bem que ele nunca escondeu mas nem por isso temos ânimo
Para julgá-lo inocente — que leva a vida que todos levaríamos se
Fôssemos suficientemente corajosos para ser felizes.

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