Blogando algo, okay, confesso

Numa tarde saí c'um amigo pra beber, quando olhei vi que era o Leminski.

Lem e eu não nos perguntávamos. Deixávamos perguntas para a poesia. E que.

Descemos a avenida, olhei de lado e vi Lem fazendo um poema com o nome dela.

Não quero fazer poema nenhum da minha parte, respondi telepaticamente.

Fomos prosseguindo sem parar nas esquinas e a avenida era infindável como as avenidas aquelas.

Me ocorreu querer saber que música pipocava na cabeça dele, não é a mesma respondeu c'um trejeito do pé esquerdo, o dedão da mão direita enganchado no cinturão tipo caubói dos tempos da jovem guarda.

Tenho de colocar na mesa que estou escutando Bridge over troubled waters e ele, com o olhar de raposa aflita, não me pede confirmação para o que sente.

Finalmente entramos no buteco, eu de frente pra rua, ele de costas, peço uma brama, bem gelada ele emenda como nunca emendou porra nenhuma nem nesta nem em nenhuma outra vida que nunca vivemos em  nenhum outro canto em nenhum outro cometa desta imensa merda de universo.

They asked me how I knew my true love was true. Esse bolinho de bacalhau tá quente?

A úlcera tá me matando, preciso comer uma tranqueira pelo menos a cada três horas.

Lem morreu na minha frente, o dono do buteco queria chamar um'ambulância, não deixei. 

O gole da brama dura eternamente nos meus lábios, coço uma coceirinha na nuca, é tão cedo ainda, que é que vou fazer das quinze horas que me restam pela frente?

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