Estou lendo uma biografia sobre Chopin e os dezoito anos que viveu em Paris.
Fico sabendo que Frederico era tido pelos
sofisticadérrimos parisienses como a personificação do charme. A elegância em
pessoa. Um oportunista. Um esnobe. Um sujeito inescrupuloso que usava as pessoas para seus
propósitos pessoais. E Chopin mudava de humor sem mais nem menos, subindo pelas
paredes sem dar aos que estavam em volta qualquer indício sobre a mudança
repentina. E tinha o pavio perigosamente curto. E sua arrogância e seu egoísmo pareciam não conhecer limites.
Wilhelm von Lenz, um dos mais talentosos
pupilos do pianista e compositor polaco, dizia que ele se portava qual um “soberano”.
O compositor Berlioz escreveu que “Chopin sempre fica alheio. Uma vez por ano
desce das nuvens para permitir que o escutem nos salões da Casa de Pleyel. O resto
do ano, salvo se for um príncipe, ministro ou embaixador, não se pode sequer
sonhar com a alegria de escutá-lo”.
Chopin quase não dava concertos por
detestar quer a crítica jornalística, quer qualquer outro tipo de crítica. Se
dedicava compulsivamente a competir com outros pianistas e compositores e não
fazia questão de dissimular a inveja que nutria de Liszt, seu fã. Quanto a Berlioz,
que sequer era pianista mas era crítico musical, conseguia manter algo de
amizade, embora considerasse sua música “estranha”. Certa vez, quando jantou
com Mme. Juste Olivier em companhia de sua amada George Sanders, a senhora
notou que Chopin era “um homem de inteligência e talento, charmoso... mas
coração, isso ele não tem”.
Bem, se Frederico já figurava como um dos
grandes no meu panteão particular, saber que socialmente era esse monstrinho de
antipatia e não tinha complacência com seus puxa-sacos só me fez admirá-lo
ainda mais.
Estou tão farto de gente que vive para fazer marketing pessoal e nunca se vexa de pendurar um sorrisinho bajulatório no canto da bocarra
escancarada e fazer deste mundo um interminável desfile de mediocridade e
insipidez.
Os homens e as mulheres de verdade parece
que morreram em algum ponto do século passado.
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