Preguiça


Os parágrafos a seguir são postagens que há uns anos coletei duma comunidade da orkut pensando um dia desenvolver num texto poético ou mesmo ensaiozinho (p.m., minha escrita vai ficando mais inglesa a cada dia que passa, não tem mais jeito).
Engraçado como tantas coisas que a gente vê na internet podem parecer geniais ou mero lixo dependendo do estado de espírito. Ou da hora do dia, sei lá. Ou do grau etílico do momento. Achei essas postagens duca quando as colhi, hoje não estou tão certo. Me soaram sinceras e autênticas então, agora me parecem, algumas, meio fabricadas.
Bem, acho que tudo que fazemos na internet acaba desaguando num angu, dada a incomensurável profusão do que “experimentamos” a cada dia. São experiências como quaisquer outras, obviamente, e podem nos assoberbar, embotar nossos sentidos.
Tenho uma relação deveras ambivalente com minhas próprias postagens. Ora me soam esclarecidas e esclarecedoras, ao menos para mim mesmo, ora doloridamente supérfluas ou prolixas ou ingênuas ou, ó mãe, decididamente pueris, me deixando na boca ocasionalmente aquele gostinho azedo de que muito do que faço é dispensável.
Mexer nesse assunto, não tem jeito, me conduz irrecorrivelmente a falar da exposição da minha intimidade aos olhos ávidos – e, no mais das vezes, sonolentos – do mundo. Essa questão também desperta aqui dentro um movimento pendular: ora me vejo desnecessária, e perigosamente, desnudado, ora frustrado, achando que não disse tudo que devia. Bem de novo, achar que não se disse tudo é uma das razões que nos levam nós escritores a escrever.
Escrever num blog diariamente – às vezes várias postagens num só dia – pode ser perigoso. Mas, se é escritor – e, para complicar ainda mais, poeta –, você sabe que o risco is part of the job. Mais hora, menos hora vai sair uma revelação patética, você se aproxima inapelavelmente do ridículo, ou o excede, cai no sentimentalismo. Minha primeira reação a esse risco sempre é, ou procura ser: fôdasse. Meu norte constante é o conselho que Rilke deu ao jovem poeta Kappus: "Leia o menos possível trabalhos de crítica. Obras de arte são de infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica".
É um exercício que você tem de fazer dia e noite, sábados, domingos e feriados, enquanto estão todos lá fora se entregando às regras que terceiros exigem que sigam. A leitura da crítica traz frutos bons e maus. Dependendo do freguês, pode ser fatal. O crítico sempre vai impor condições ao autor. Quem cai na arapuca pode ou deixar de escrever duma vez por todas ou começar a dançar miudinho, sem saber direito onde pisar, ao som duma música que não é sua e não sabe dançar.
É uma questão de opção.
Uma das condenações mais frequentes que vejo grandes críticos assacarem, sobretudo contra poetas, é a de que estes vira e mexe resvalam para confissões constrangedoras. A lei máxima da poética é o rigor. Que implica distanciamento. A menos que você seja um poeta metafisicamente rigoroso. O que é uma contradição em termos. Até entendo. Os grandes poetas o são.
Mas raríssimos são os grandes entre os que escrevem. Eu, pelo que me cabe, bem que queria. Quem não?
Uma das forças deste meu modesto blog é a autenticidade. Pelo menos imagino que. Sou isto aqui. Luto com tudo que tenho para conquistar a sinceridade em primeiro lugar.
Não é grande arte, talvez nem arte seja, mas tampouco se resume a choradeira ou desabafo catártico que me permita economizar com meu psicanalista. (E olha que os preços dele estão os olhos da cara.)
Estou e sempre estarei atrás de mim mesmo, o único sujeito que de fato me interessa. E o único que me exaspera e me enternece. O único que deveras amo e odeio.
Quanto aos parágrafos que há uns anos coletei duma comunidade da orkut pensando um dia desenvolver, outro dia, talvez. Uma das coisas boas de você ter seu próprio blog é essa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário