Hienas
atacam em bando. Quando sozinhas, fogem com os rabos entre as pernas.
Hienas
são criaturas covardes por natureza.
Hienas
são assustadiças. Vêm, dão uma
mordidinha e saem correndo para debaixo do seu low profile. Em sua tibieza, não
usam sequer as próprias palavras. Preferem recorrer a citações. Ou então a
reticências. Como todos sabemos, reticências são o refúgio silencioso dos
covardes.
Hienas
mantêm um low profile pois assim nunca se expõem, naturalmente. São tão corajosas,
que até se aproveitam da carniça deixada por predadores terceiros.
Hienas
só abrem a boca para devorar (três pontinhos) o que foi enjeitado por outros. Se
amarram em pegar carona na vida alheia. Assim fica bem mais fácil de atacar sem
o perigo do contra-ataque. Quem mandou ser tonho a ponto de abrir a boca sem
ser chamado? O lema das hienas é: Não me comprometa. Deixa que os outros metam as
caras. Esses são bobinhos. O mundo é feito de bobinhos. O mundo não é dos bobinhos.
Isso
tudo soa tão familiar, não soa? Vejo hienas. Vejo hienas em todo lugar. Vejo hienas
em todo lugar a que vou. Hienas constituem a maioria esmagada da humanidade.
São bilhões delas, são bilhões de hienas espertalhonas que, muito espertamente,
optam por ficar o tempo todo na tocaia, aguardando os idiotas que ousam erguer
a cabeça acima do rebanho.
Só
não vejo mesmo hienas é na grande literatura. Qual grande escritor você poderia
qualificar de hiena? A mim não me ocorre nenhum. Pois o que faz dum grande
escritor exatamente o oposto duma hiena? Isso mesmo – a consciência da própria
solidão. A certeza da própria individualidade. Por isso ele, o escritor digno
do nome, se faz um combatente de moinhos. Um demolidor das fachadas mambembes
ao seu redor, que o sufocam. Um estridente, irritante desafinado bem no meio do
coro dos contentes.
Hienas
não quebram o protocolo. Hienas não infringem a etiqueta do comportamento
típico do brasileiro. Hienas não fodem com o ritual do beija-mão. Hienas não saem
do compasso na eterna dança do puxassaquismo mútuo que impera em antros como a
Academia Makakita de Letras. O que importa para as hienas e seus congêneres é
exibir o fardão para a foto. Mamãe, olha eu aqui fazendo literatice! Hienas se
nutrem de muito compadrio – se deparam com literatura, enfiam o rabo entre as
pernas. Chafurdam no imorredouro teatro das aparências. Hienas espelham o circo
do Congresso Nacional em que os calhordas se tratam de Va. Exa. (Enquanto a plateia
que chia sempre acaba votando nos safados. Também rings a bell, doesn't it?)
Peço
às hienas que não tomem zanga de mim por ser um humilde arranjador de
garranchos. Reconheço, admito, confesso: as hienas são minhas mestras.
Meia
culpa, Hies. Podem continuar a imperar neste mundo. Em meu mundo. Já me
acostumei. Quem dá bola? O que interessa é que vocês guincham e todos lá fora
pensam – ou fingem pensar – que escutam rouxinóis. Tudo aquilo por que lutamos, sofremos e lutamos é absolutamente secundário.