Não sei.
Devia saber?
Não ser covarde.
Pueril. Não ser cada um dos atributos que esperam que eu seja.
Nasci ferido de morte.
E o ferimento só faz dilacerar com o tempo.
Como é cheio de homens
desassombrados, maduros e descomplicados este mundo.
Num piscar d'olhos
transformam-se em presidentes, chefes de repartições, astros do cinema e
paulos-coelhos.
Serão eles que fazem
do mundo este inferno em que vivemos? Ou será que sequer vivemos?
Também não sei.
Mas sei que têm
coragem e amadurecimento para exercer, com simplicidade, cordura até, o papel
de predadores que a loteria viciada do Big Bang lhes reservou.
Talvez os suicidas
sejam desassombrados, maduros e descomplicados. Talvez por isso se matem.
Talvez essa gente que
exerce mecanicamente o papel que lhe coube sonhe inconfessamente com suicidas.
Talvez sejam eles os sensíveis que imaginam saber compreender a poesia.
Fosse eu
desassombrado, maduro e descomplicado, teria um livro publicado e as wilsetes
me fariam homenagens e, comovidas, me citariam em seus blogs.
Talvez certos suicidas
cheguem ao estrelato pelo suicídio. Como Plath. Ou os que se matam de beber,
como Pessoa, Dylan e Leminski.
Talvez sejam
idolatrados por terem tido coragem de se matar.
Matar-se talvez não
requeira coragem.
Talvez não requeira
porra nenhuma.
Não posso ser tudo
isso de que me acusam (justamente, diga-se).
Não sei ter certezas.
Todos precisamos de
certezas para viver nossas vidinhas de baratas. Mesmo que sejam as certezas
erradas.
Será certo que tudo e
todos estarão aqui de novo amanhã?
Não sei. Mas dizem que
precisamos ter fé.
Talvez eu precise de
ler poesia à la carte, dessas feitas por um mario-quintana. Sim, quero amar os
quintanas. São fofos. Dizem tudo que quero ouvir.
Talvez eu abdique do
que sinto. Assim, num estalar de dedos. É o que faria qualquer homem
descomplicado, adulto e bravo.
Deus fez homens e
mulheres a partir dum só molde. E dentro deles enfiou almas de robôs. E em suas
cabeças estampou um cardápio. Dessa alma e desse cardápio brotou a coragem.
Para meu azar, escapei
da linha de montagem divina. Queria tanto não me angustiar com essa angústia
que me angustia.
Ontem recebi a visita
dum velho conhecido. Acho que meu velho conhecido me veio conferir. Então vi
que meu velho conhecido crê. Abençoado seja, velho conhecido. Será teu e dos
teus o reino de Deus.
Eu também queria crer.
Invejo os que têm a coragem de crer.
Talvez encontre quem
queira me ensinar.
Talvez não possa
aprender. Talvez não queira.
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