Ainda não estou neste universo, sorry

Criança, tinha um primo chamado Antonio Carlos.
(Me deixem usar a tecnologia para arruaçar minha vida apenas esta vez. Quem sabe o Google me ajude a trazer esse primo de volta ao meu horizonte desfeito de ruas e casas.)
Naquela época tratávamos todos esse primo por Carlinhos e por Carlinhos o fui tratando até um dia descobrir que ele já não atendia mais quando chamávamos Carlinhos, apenas quando o tratávamos Antonio Carlos.

Bem, são incontáveis os traumas que trago da infância.
Tudo bem, ninguém é tolo o bastante (nem hoje nem nunca) para proclamar que são incontáveis os traumas que traz da infância.

(Um dia alguém que estava bem por baixo na vida me perguntou se achava que ela, esse alguém, era retardada.

Tive um choque. Esse alguém para mim sempre fora modelo de criatividade, inteligência e, acima de tudo, generosidade.

Passei meses chocado. Me martirizava me martelando a pergunta, por que alguém que prima por ser generoso duvida da própria humanidade? (Pois não é isso de que trata a pergunta? Ou você por acaso nunca duvidou se não era gente o bastante?))

Amava o Carlinhos pelas razões que eram minhas e pelas razões que um dia foram dele.

Se minha memória não me trai, passava metade do ano mal vendo a hora de partir para Araraquara, terra de Carlinhos.

A memória me trai, naturalmente.

Tive algo em minha vida que não tivesse me traído?

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