Twenty-Third of the Year

Sabe que tem dia tenho vergonha do que escrevo neste blog? Não na hora. Mas depois deito ou vou ler ou simplesmente ficar lá sentado na minha cadeira, fico pensando, não devia ter dito isso, não devia ter mencionado aquilo, pra quê? essa sanha intimista, cê tá querendo o que, afinal, neste palco vazio dum homem só diante de oito bilhões de espantalhos de palha? Rio da verdade subindo assim tão crua através do meu próprio teclado. Não, agora preciso dar o braço a torcer, me abstrair dos meus princípios narcísicos.  Reticências. Comecei a escrever aos treze anos, mais precisamente em 1967. Para os fãs dos Beatles, ano de hello goodbye, all you need, pennylane (sim, é all you need is love, fiquei com preguiça de escrever o título inteiro mas não com preguiça de pegar no pulo os indefectíveis guardiões das falhas alheias). Me vejo direitinho lá naquele meu quartinho atrás da loja de papai catando milho na minha Lettera 32, depois apagando os erros e reescrevendo, esperando que ninguém notasse. Ninguém quem? Ninguém ninguém. O que escrevi dos meus 13 aos meus 15 ou 16 continua inédito até hoje.  Eis o público com quem me dou bem. Meu pai um dia pegou meu caderno, perguntou que é que é isso? Que é que eu ia responder? Ele sabia, eu sabia. Não sabemos todos a verdadeira verdade da vida, porra? No domingo seguinte a mana chique veio almoçar em casa, mamã comentou minhas escrituras, a mana me olhou solene, que é que você escreve afinal? Não tem nada a ver. Me perdi. Minha perdição não estava no roteiro.  

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