Me dá o prazer desta dança?

Poetas formam um bando de autistas desesperadamente ávidos por se tocar, trocar afagos e risos, lambidas e mordidas
E cada um deles fica lá no seu cantinho, esperando que um outro
Lhe estenda a mão
Lhe declare sua paixão
Isso nunca acontece pois
Poetas são uma chusma de paraplégicos manetas
Da vida doentes
Do mundo descrentes
Se põem a aspargir seu spray metafísico
Espalhando seus versinhos pelo ar
Na anti-esperança de que virem kafkianos insetos
Abortados do coito da
Hedionda noite sequestrada ao espaço
E a infinda aurora que, sem cabaço,
É virgem nascida
Parindo o dia de talidomida
Então esses loucos
De peitos moucos
Ouvidos roucos
Esses poetas que
São, ó, tão, tão, tão poucos
Rendidos
Recorrem aos galos para que
Estes sim
Lhes teçam a manhã
Esgarçada que seja
E palavra inalcançável lhes ofertem de
Troféu numa bandeja