Quanto vale a
literatura?
Digo, digamos
que alguém chegasse pra você e oferecesse a literatura mundial por um precinho
módico.
Vai aí doutor?
Quanto tá
pedindo?
Ah doutô, assim
o senhor me encabula. Sou apenas um leigo.
Me diga. Que é
que um leigo faz vendendo a literatura mundial? Por que não trabalha com bagúio
do Paraguai como todo camelô com vergonha na cara?
Ah doutô, e se
eu deixasse por diletante?
Militante?
Diletante, doutô. Di-le-tan-te. Vai
um saundibaite aí? Chegou hoje da China.
Vem cá no
cantinho, preciso lhe fazer uma pergunta.
Qualé, doutô.
Num trabaio cum farinha num sinhô.
Nada de
farinha. Só quero uma resposta.
Quanto levo
nessa?
Dez perna.
Tudo isso? Tô
dentro. Manda.
Vamos supor que
você tá escutando um roquinho...
Já é a
pergunta?
Calma, caralho!
Preciso fazer uma introdução primeiro.
Peraí doutô.
Toda introdução é primeira.
Tá. Fecha a
matraca e escuta. Suponhamos que você tá ouvindo um roquinho...
Hmmm.
...e de
repente, tchã!
Tchã? Como
assim?
A porra não
desce, entende?
Se entendo. Uma
porrada de coisa não tem descido na minha vida.
E...?
Bem, doutô, tô
entendendo sua situação, saca? Ainda hoje de manhã tive um caso parecido com o
seu.
Eu sabia. Como
foi que resolveu?
Olha, doutô,
casos como esse, a gente num resolve não, num sabe?
Sei, claro. Não
estaria aqui torrando sua paciência, caso contrário. Mas deve ter dito alguma
coisa pro sujeito. Que foi que disse?
Não era um
sujeito, lamento dizer.
Não me diga
quê...?
Infelizmente
sim.
Tudo bem, tudo
bem. Que foi que disse a ela então.
Ora doutô, que
é que se pode dizer a uma mulher?
Seguramente,
você está dizendo?
Te amo.
Que mais
poderia ser?