O mundo a oitenta dias da volta

Quanto vale a literatura?
Digo, digamos que alguém chegasse pra você e oferecesse a literatura mundial por um precinho módico.
Vai aí doutor?
Quanto tá pedindo?
Ah doutô, assim o senhor me encabula. Sou apenas um leigo.
Me diga. Que é que um leigo faz vendendo a literatura mundial? Por que não trabalha com bagúio do Paraguai como todo camelô com vergonha na cara?
Ah doutô, e se eu deixasse por diletante?
Militante?
Diletante, doutô. Di-le-tan-te. Vai um saundibaite aí? Chegou hoje da China.
Vem cá no cantinho, preciso lhe fazer uma pergunta.
Qualé, doutô. Num trabaio cum farinha num sinhô.
Nada de farinha. Só quero uma resposta.
Quanto levo nessa?
Dez perna.
Tudo isso? Tô dentro. Manda.
Vamos supor que você tá escutando um roquinho...
Já é a pergunta?
Calma, caralho! Preciso fazer uma introdução primeiro.
Peraí doutô. Toda introdução é primeira.
Tá. Fecha a matraca e escuta. Suponhamos que você tá ouvindo um roquinho...
Hmmm.
...e de repente, tchã!
Tchã? Como assim?
A porra não desce, entende?
Se entendo. Uma porrada de coisa não tem descido na minha vida.
E...?
Bem, doutô, tô entendendo sua situação, saca? Ainda hoje de manhã tive um caso parecido com o seu.
Eu sabia. Como foi que resolveu?
Olha, doutô, casos como esse, a gente num resolve não, num sabe?
Sei, claro. Não estaria aqui torrando sua paciência, caso contrário. Mas deve ter dito alguma coisa pro sujeito. Que foi que disse?
Não era um sujeito, lamento dizer.
Não me diga quê...?
Infelizmente sim.
Tudo bem, tudo bem. Que foi que disse a ela então.
Ora doutô, que é que se pode dizer a uma mulher?
Seguramente, você está dizendo?
Te amo.
Que mais poderia ser?