Odeio metafísica

Estava há uns anos sentado numa mesa imunda desses botecos imundos que existem em cada esquina do meu Brasil varonil, a bebericar quietinho minha cerva sem gelo e meu copo contendo reconfortante abundância de Teacher's aguado. Diante de mim estava uma sirigaita dessas a que todos estamos condenados na juventude ou na meia-idade, falando pelos cotovelos e outras partes do corpo.
A fulana queria me convencer de que deus existe, que astrologia tem fundamento, todos devemos buscar o autoconhecimento, o asneirol clássico.
De repente, vendo que eu desligara meu receptor mental, a dona saracoteia:
— Me responde, então: que é que tamos fazendo no mundo afinau au au?
Sim. A fulana queria discutir metafísica.
— De onde viemos? Aonde vamos? — tasca a título de emenda.
— Que horas são? — pergunto ao dono do boteco que assiste gordamente tevê atrás do balcão.
A sirigaita me fuzila cum olhar fuzilante, exigindo uma resposta.
Não existia a facebook. Não existiam uma porrada de outras coisas. Eu nem imaginava que um dia criaria uma postagem sobre aquele episódio. Ou que viria a ser o satisfeito proprietário dum blog. Não imaginava uma porrada de outras coisas