O condenado

O olhar de marfim sem eclipses ou raios.
Nas linhas da boca nenhuma lembrança.
Na testa de louça nenhuma esperança.
O rosto é todo esquecimento.
Quando foi seu último sentimento?

Terá sido na tarde imensa de domingo em que perdeu definitivamente a infância?
Ou na voragem instantânea de adolescente a devorar tanto o mundo
Que não lhe restou onde estar?

Estátua do primeiro momento
De que lhe sobraram as mãos.
Se a quem as tivesse estendido
Deixasse em seu peito a paixão.

Trancafiado no corpo
dum boneco de pano
espera o destino
de todos os homens