Celular. AFONSO. É hoje.
Fala, Af.
Eu escuto.
Me ligou pra dizer isso?
Escuto.
O Afonso diz que inventamos Deus para preencher o grande vazio que ocupa nossas cabeças. Tell me something I don't know. Me diz isso todo dia. Agora deu de ligar para me dizer isso de manhã, à tarde e de noite.
Me acho meio obsessivo, mas o Afonso, putz. Dedica a existência a querer comprovar a inexistência de Deus.
É impossível não pensarmos em nada, certo?
É, concordo. Não dá pra não pensar em nada. Salvo quando lemos Heidegger. (Digo, Wittgenstein e Derrida)
Aí está. Como temos Deus, logo pensamos n'Ele. Portanto, Deus é o Antipensamento.
Ontem comecei a reler Porque não sou cristão, o porque na ortografia de Portugal. Minha ex-mulher Sílvia me chamava de herege, eu ria da palavra demodê. Não é possível ser herege hoje. Eu não acredito em nada e quase todos que conheço não acreditam em nada, uns com patético orgulho. Tudo perdeu a graça.
Russell é racional demais para a macacada deslumbrada que dá importância excessiva à vida. De lambuja -- o que, para mim, vale mais a pena --, desmascara uns golpes que os poderosos vivem dando nos caboclos em eterno estado de hipnose. Quem não usa o cérebro não pode compreender os poucos que usam.
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