Impossível cisma


O carro vem descendo a rua. Não quero olhar e olho.
Ainda hei de desvendar o que há por trás da movimentação das coisas. Será um mecanismo? Devo acrescentar que não se trata de nada religioso. (O religioso é horrível.)
Tampouco é algo nietzscheano, embora Nietzsche, aquinhoado pelo deus que ele mesmo enterrou com a sorte de ter existido no século 19, tenha compreendido e explicado todos os mecanismos. Nietzsche e seus contemporâneos foram o estertor.
Vivi inebriado pela busca de saciar meu corpo. Agora que sei que não tenho mais onde buscar, devo aceitar como minha esta verdade. Enojado, vejo que, como qualquer outro exemplar da espécie, também me deixei ludibriar pelo encanto da espiritualidade. Aquele vulcão de dores foi à toa. Não quero mais cultivar cada uma delas.
O carro passa e desaparece e tudo parece normal.

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