Teoria do anonimato

Forjei meu mistério
Contando ser amado
Contando mi'as mentiras
Invento mi'a certeza
Que não ser amado
É o único mistério
Verdadeiro



Recomeço

Desejas que te ame e não te deseje
E queres que te adore e não te queira
E exiges que te idolatre e não te reclame
E pedes que te enfeitice de palavras e decretas que devo manter quietas minhas mãos
E ordenas que cante tua beleza e te farte de parcimônia e te sacie da esmola de gratidão
E clamas e clamas e clamas que a poesia te enlace e te levite e te embriague em louco manancial que nunca chegue ao fim
E declaras que tudo que me cabe é perseguir teu sonho, abraçar teu halo, acariciar tua sombra
Sem que me permitas almejar teus olhos?
Então me pretendes um amante eunuco
Então me esperas um poeta mudo



The end of the end

A musiquinha que toquei pra você
sentado na beirada do sofá da sala
já era tarde
da noite e da vida
notas atropeladas no violão desafinado
estes meus dedos sempre tão irresolutos
pra quem não aprendeu sequer a amarrar os sapatos
até que me dei bem, você não acha?
eu queria ter tocado antes
mas vivia tão ocupado tentando acertar
se estivesse ao meu lado, você tamparia os ouvidos
bufando esse teu enfado que paralisa o mundo
as notas estridentes continuam ecoando nas paredes
teimando em esperar um significado
que só nós dois sabemos não haver



Ode triunfal da dívida eterna

Quero morrer antes, amor, e
Se deixares
Esperar morto que as
Asas desabrochem, as unhas
Parem de crescer e os pensamentos
Se purifiquem e então se possa ressuscitar
Sombra e pairar atrás de ti, te
Guardando anjo do anjo, até a
Hora da tua partida para que venhas
Te juntar a si e a si libertar

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