A lenda não diz coisa nenhuma

Tem gente que passa na casa dos outros só pra fazer faxina. Donde será que vem esse costume? Ainda se fosse back in Minas.

Uma vez (nem parece que fui eu) passei três dias no sertão de Minas.

(Não deu pra explicar Rosa. E nem Rosa nem ninguém explica o sertão de Minas.)

Não lembro mais que foi que fui fazer naquele cafundó. Só que me deu essa falta de ar que me dá todo dia, seja em Minas ou em Frankfurt.

Amigos tinham me dito que eu ia me esbaldar com as mineiras e sua proverbial generosidade. Bastava fechar os olhos e deixar que me levassem. Como disse, fiquei com falta de ar e só me recobrei retornando à civilização. No quartinho onde me enfiaram tinha umas lagartixas do tamanho de crocodilos. Não preguei o olho de pavor. Às 6 da matina me arrancavam da cama para uma ronda pela vizinhança e até as 11 me entuchavam de qualhada, queijo com goiabada e ovo de pato, ganso ou sei lá que bicho era aquilo.

Inacreditavelmente tinha esquecido de levar um livro. Diante da cama, à guisa de tapete, havia uma folha de jornal que li e reli até decorar qual o homem da letra efe de Malba Tahan. (Lembro ainda hoje os nomes dos quase três vereadores da aldeia.)

Tentei depois regurgitar a estadia no inferno como mais uma experiência, em vão. Não aprendi nada sobre mim. Aprendi que é impossível entender os mineiros. Os cronistas mineiros, esses pude então compreender. Quanto a Rosa, nunca mais li. Não sei se foi coincidência. Rosa só pode ser lido até os 22 anos.

Sílvia foi embora. Quero uma mulher que passe em casa e me ponha na cama. Banho, facultativo. Sexo também. Uma mulher bonita, atenta e discreta. Que, mais que rir, saiba sorrir. Uma mulher que vigie meu sono e, segurando com firmeza minhas mãos sobre meu peito, afugente meus pesadelos. De manhã, quando eu acordar, ela já terá tomado banho e ido, deixando no chão do box uns fios de cabelos loiros e curtos, castanhos e compridos. E seu odor de fêmea nas proximidades da privada.

Hoje desci, como ontem, como anteontem, matutando o que escrever. Não adianta matutar. Qual a mulher da minha noite sem mulher, escrever tem vida própria.

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