Finalmente um advérbio no título

Sou um sujeito cismado. O que dá no mesmo que supersticioso. Minhas definições sofrem de imprecisão. Definir, que quer que seja, não é comigo. No Aurélio, no Houaiss me admira a exatidão nanométrica com que os caras estabelecem o sem-fim de significados que usamos para nos situar neste mundinho volátil em que somos precários inquilinos trocando impressões sobre o tempo e o céu e a nuvens e contando vantagem como se fôssemos proprietários. (Você pode dizer que não se usa indistintamente precisão e exatidão; diga.) Fico num estado de êxtase com os vocábulos domadinhos, disciplinadamente organizados em lista infindável, cada qual guardando, apenas para os olhos do leitor atento, um manancial de acepções insuspeitas formando um gigantesco poema em ordem alfabética. Definições precisas e/ou exatas são um bálsamo para a confusão mental em que vivo. Quase um antítodo. Angustia ser confuso. Tem hora o caos dentro da minha cabeça me põe assoberbado, minando toda minha energia. Por isso vivo cansado. Por isso engulo um copo atrás do outro, sôfrego qual um ralo sedento dum licor que o lave da própria podridão. (Ralos não sorvem Balla 12.) Por isso fumo três maços todo santo dia desde meus doze anos, Free box, ocasionalmente Marlboro. (Dolorosas, amargas lembranças me evoca o Marlboro.) Por isso escrevo, não tão bem quanto gostaria, mas com a mesma voracidade com que faço todo o resto. (Escrevo principalmente para impressionar mulheres. Já impressionei algumas, mas não favoravelmente como era meu intuito inicial.) O que tem faltado entre essas minhas dimensões de intensidade vital é um pouco de sexo. Ultimamente ando meio devagar nesse quesito. Para dizer a verdade, faz anos que não como uma mulher. Estou completamente abstêmio qual um explorador do Ártico. E tampouco tenho compensado o jejum na base da masturbação. Para falar a verdade mais uma vez, devo anunciar que sou onanista. Não dos mais fervorosos. No primário (bom, agora você já pode computar mais ou menos minha idade), no primário tinha um colega, Geraldo ou Ivã, não me lembro, que quebrava todos os recordes: dez diárias e subindo. Hiperlibido. A esta altura Geraldo ou Ivã deve ter despirocado. Ou ficado manco. Provavelmente ainda é virgem, poor guy. Em geral bato uma de manhã, outra após o almoço, uma terceira à noitinha e a derradeira já na cama, antes de pregar o olho. Bem, não sei se “bater” é o termo apropriado. Como já disse, sou brocha. Tento bater três por dia, mas a gozada jamais se consuma. E onanista é meio pesado, acho. Não me considero sequer viciado. No meu projeto, vou tocar punheta enquanto não chegar a hora de transar novamente com uma mulher. Digo, a minha mulher. Ou melhor: o meu projeto de mulher. Pois que tenho um. Não, não me peça para explicitar. Eu mesmo não sei direito.

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