Hanging it on the bathroom door

Plath me pega no colo, me emascula, seu sonho mais primevo e não exteriorizado. Tudo é literatura, nada é culpa da cultura e da sociedade.

Plath me alfabetiza. Me ensina minha língua doente dessa hiperatividade paralizante. Me guarda e acalenta minhas explicações. Me conduz pela desviagem. Me inverte em mim.

Não nasci para a caça. Longe de mim as estratégias e os planos e os sistemas. Plath me engravida de mim. Plath me aborta. Plath me dá à luz e cuida de mim como seu filho único e predileto e seus olhos prometem que ela estará ao meu lado por séculos, mesmo depois que ambos morrermos.

Plath tira um seio angelical do sutiã azul e me abastece em plenitude como se eu estivesse prestes a partir para Júpiter. Plath me poupa da injunção dos relacionamentos e da inevitabilidade das pessoas, me assegura que não há necessidade de lutar com minhas emoções.

Plath empobrece meu vocabulário a uma palavra. Sou único e uno. Plath me isola do mundo exterior.

Plath aniquila meus instintos. Sou o que quero ser. Não tenho predecessores. Minha raça começa comigo. No meu Gênesis, eu sou Adão, Plath é Eva. No meu Gênesis, não deixaremos prole. Sou/somos um raio que estala inusitado e inimitável no céu escuro, para nunca mais.

Sou um para Plath, Plath é um para mim. A noção de multiplicidade morreu e não posso mais compreendê-la. Não há sentido no plural. Sou um só ser, amo um só ser. Meu mundo está pintado duma só cor, cuja cor não conheço, cujo nome não me ocorre.

Plath me cura da minha saúde. É minha sombra, sou sua sombra. Aceno quando acena, acena quando aceno. Estou mudo como sua sombra.

Plath me ensina como só o tempo pode ensinar e me desensina o que tempo me ensinou. Em breve (quando?) não haverá mais começo e não haverá mais fim.

Plath me despoja dos meus sentidos. Me livra da química. Me imuniza da física. Me lava da fome dos desejos.

Então Plath-agulha vai me injetando coragem, sou o ser-furo por que ingressa e ingresso, até o ponto em que a falta de coragem deixa de figurar em meu horizonte mental.

Plath não me recompensa. Não me alimenta. Apenas volta sua cabeça loira para lá neste mundo sem alegria nem tristeza nem razões para medo e me conta a mais bela história do mundo em sua voz que não posso escutar.

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