Se há uma verdadeira loucura

Nos abraçamos, me soldo a Soninha. Sem revolta ou repugnância. Quero apenas prolongar este instante até que tudo acabe.

Solto os braços, me afasto. Olho a parede. Espero que Soninha tenha sumido do universo quando meus olhos  voltarem para ela.

Não dou a mínima para mim mesmo. Não dou a mínima para os meus pensamentos. Sou meu único inimigo, preciso desenvolver armas eficazes para me combater.

Cala a boca, voz interna. Suspende teus ataques. Me desescraviza do Grande Sentido. Se posso andar e então parar, morder o lábio até tirar sangue e então cuspir, por que não me foi concedido o dom de reprimir a incessante operação do meu cérebro?

Encho os pulmões de ar, prendo a respiração, deixo de existir por um segundo. Que delícia seria ter uma existência que funcionasse como o nosso sistema nervoso simpático, entrando em ação nos bons momentos, dormindo nos maus.

Sim, é um caso para ioga. Talvez um simples laxante.

Você é um irracionalista, me acuso.

Mas não é esta uma das grandes questões humanas? me defendo.

Esqueça. Você é apenas um mutante feito milhões de outros, sem utilidade para nada, rumando para lugar nenhum.

Me abraça, suave Soninha. Não quero estar tão perto.

Não quero estar tão certo.

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