Fugitivo aprisionado


A manhã se partiu ao meio.
Exatamente ao meio?
Ainda não se sabe.
Podem ser várias as causas de tal quebra.
Um ganido de cachorro lá longe. Um roncar de avião lá em cima. Um requerimento inalienável de satisfação ou expiação aqui dentro.
Uma vez bipartida a manhã, várias situações podem ocorrer.
A ruptura é categórica e não se ousa contestá-la e nesse caso também abrem-se várias alternativas.
Ela, manhã, entra para o respectivo Escaninho Histórico das Experiências, diluindo-se às demais e alimentando a voracidade de todas as rupturas.
Ou cada uma de suas metades pode também fender-se em duas e deflagrar um efeito geométrico de infinitos fragmentos.
Ou não.
Ou, santa mãe, as duas metades originais voltam a unir-se por uma emenda suave, quase imperceptível.
Ou um remendão. 
Ou, simplesmente, a xícara do café despenca de repente, espatifando-se em incontáveis caquinhos no chão da cozinha no meio da manhã.


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