Fórmula poética

Me reparo.
Me separo.
Me preparo.

Uma pitada.
Um caco.
Meia asa.
Um exímio golpe de faca.
Se não houver uma caneca pra recolher o sangue que pinga do talho no dedo,
Um fértil copo translúcido.
Adicionar meia dose.

Um olhar janela afora.
Meio gosto entre a boca e a virilha.
Meio fevereiro.
Outro olhar janela adentro.

Um homem.
Multidão dentro da cabeça.
Um cheiro que inebrie.
Uma mosca de ontem pousada no açúcar à minha frente iniciando sua peculiar faina de arregaçar
As mangas e, como se quisesse me chamar a atenção,
Voa ao som de trombetas, voa para a tigela
Vazia, de tão lisa,
Limpa
Plana superfície.

Se o relógio da sala soar,
Um mergulho redentor.
Um afogamento.

Três passos de lado.
Um azáfama.
Um elogio. E
Milhões de vermes correndo para colocar-se sob as solas dos meus sapatos
Em suicídio coletivo.

Não, nem um estrondo.
Meio azar!
Um vulcão a implodir,
Erodindo a paisagem pelo ralo
Apocalíptico a engolir o mundo.

Jogar tudo no meu liquidificador.

Bater por um segundo
Ou mil anos
Tanto faz.
Só preciso tomar cuidado
Para não adicionar a fatal, hipertrófica sílaba do
Verso extra.

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