Limites do inacontecido nada

Neste momento sou um poeta que já escreveu todos os poemas
O borracheiro que já reparou todos os pneus
O cozinheiro que já cozeu todas as iguarias
O pinguço que já bebeu todas as cachaças
O engenheiro que já projetou todos os esquemas
A mina que já saciou todas as sedes
O ansioso que já aguardou todas as esperas
O velho que já atingiu todas as velhices
O morto que já morreu todas as mortes
O ônibus que já transportou todos os passageiros
O coveiro que já enterrou todos os defuntos
O coveiro que já andou em todos os ônibus
O passageiro que já morreu em todos os desastres
A morte que já levou todos os velhos
A espera que já aguardou todas as carnes
A sede que já atormentou todos os engenheiros
O esquema que já espantou todos os pinguços
A cachaça que já embebedou todos os cozinheiros
A iguaria que já tentou todos os borracheiros
O pneu que já inspirou todos os poetas
O Beethoven, já surdo, que escreveu todos os abstratos quartetos
Esquecido do que é ser a prostituta que já sofreu todas as humilhações

Nenhum comentário:

Postar um comentário