Sob o poema da primeira página

O espelho nem sempre a mira
Está encabulado
Ante uma das raras clientes que de um pouco sabem
Desconfiando-se incapaz de refletir uma das faces
Que nunca é a mesma

Ela tem ciência de sua imagem
O espelho, também ciente de que não a enganaria facilmente
Só lhe resta conformar-se:
"É assim desde os tempos em que assim não é"

Ela, que poderia fazer do espelho o que quisesse,
Faria -- mas só tomada de coragem súbita

Poderia arrastá-lo para outras paredes
Outros cômodos e outras casas
Por isso vive ele em estado de prontidão
Mortalmente pálido, de alto a baixo

Não será o espelho que haverá
De impedir que ela seja uma realista
Autossubmissa

Tarde da noite naquele sábado
Ela resolveu se fitar e disse:

"No fim por tudo por pedaços mesmo a vida
A bondade ou a carência tocarão em mim
Não mudarei nada
Não renascerei outra
Nem reagirei ao que me leve
Longe do meu olhar"

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