Na infância, meu barato era abrir presentes.
Começava do instante em que segurava o barbante até a caixa se abrir.
Era nesse ínterim que o tempo deixava de existir. E, deixando de existir, deixava de me escravizar.
Não, porra. Não quero ser escravo do tempo. Nunca quis.
Quero é abrir o presente, segurar o barbante, puxar, arrancar as folhas de papel de seda, meter meus dedinhos na aba da caixa, prender a respiração.
Daqui até lá serei feliz e serei uno e serei eu e nada me ameaçará e nada me importará e não mais serei o ser eternamente a almejar o que não lhe cabe.
Seremos tão-somente eu (eu, porra!) e o que me cabe.
O que me resta.
Não há depois. Quero que o depois se foda. Aboli o tempo, estraçalhei meu algoz.
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