Estar louco e ainda assim enlouquecer

Andante sostenuto
Ó virgem, como estou cansado de ser escravo da sensatez. É prisão cuja chave você avista delirante em toda parte, vendo teu tempo passar enquanto caça vultos. Ó virgem, que alívio sentiria se fosse capaz da simplicidade e, isento desta compulsão mórbida à grandiloqüência, me contentar bovino com versinhos pueris:

De repente, ela não está aqui
Reluto em proclamar seu status de desaparecida
Reluto e sei que é desaparecimento final
Pois tudo que acontece de repente em minha
vida é irrecorrivelmente final


Veja, se escondeu atrás daquela estrela sem brilho
Então desisto ─ ela não quer mais ser encontrada

Ó virgem, como é cruel que sejamos obrigados a ser nossos próprios juízes. Pare um segundo e pense: não é de outro fantasma que dedicamos nosso tempo infindável e nossas parcas forças a fugir. Temos horror à sentença com que somos capazes de nos condenar. Somos impiedosos e impiedosos nos condenamos às nossas dores.

Estou sendo patético e vou ficando louco. Tirano sensato desta frágil lucidez. Não senhor ─ não troco estes três gramas de bem-estar por três versinhos inócuos.

Atrás da estrela sem brilho ela geme ensandecida
Pernas tremendo, medo que eu a encontre
Tendo me percebido prestes ao adeus para sempre
Forjou o enigma da estrela
E assim vai me distraindo
por mais um dia


Ó virgem, como estou cansado de brincar. Preciso dizer chega. Nunca vou dizer. Mas preciso.

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