Dia-diamante, vem,
vou te polir,
formar teu retrato,
tua luz esculpir,
de novo buscar algo belo na tua solidão.
Foram décadas atrás da noite,
espiando a vida que é minha,
eis-me aqui de corpo e alma presente
por fim
atrevido a anunciar que hoje
sou um homem de atitude.
Em meu adolescente diário
salvado das cinzas
atualizarei nossos
momentos de felicidade.
(Em meu diário te releio, diamante morto, vazio,
sepultando desta velha vida a sólida beleza
das minhas diabruras de menino sem sonhos nem vontades,
alheio ao dia-diagrama que em cada uma das tuas páginas
estampa as instruções sobre a minha mecânica em
dialeto que me maravilha incompreensivelmente.)
Ex-demolidor de tantos templos, hoje zelador
dedicado a varrê-los de vítreos olhos, separo do
lixo carbonizado meus ex-ícones sacros, alheio autor
de incêndios de que restaram
senão a luz.
Que brasas frias são estas que apalpam minhas mãos?
E se as colhesse, uma a uma, guardando-as com a
esperança de que voltem a incandescer sob a inesperada,
bendita força duma gélida ventania?
Ergo dos arredores os olhos,
procuro no céu aconchego,
moradia ou contentamento,
me dá a dádiva de
esquecer este momento.
Percebo lá encima em forma de fumaça a vagar
meu dia que preservei com tamanho
cuidado, carimbando-o com fileiras de palavras
que hoje se mostram tão estéreis
sob o descolorido da minha tranquilidade e
a contração das minhas acabrunhadas pálpebras.
Cálido, pálido dia
restaura minha ousadia
restitui meu apelido.
Se decidir estancar minha vida nas tuas alturas
roubar-me o sabor da manhã
despertar deste auto-idílio
(pois sei que um dia ele existiu
e neste dia o espero novamente
para enfim me ausentar)
meu ardil terá valido a lida.
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