Os sonhos que os não sonhadores sonham

Estou escrevendo.
Olho de lado.
Uma aranha despenca de sua teia no canto entre a parede e o teto.
Um despencar quase vagaroso, meio câmara-lenta, provavelmente amortecido por um fio que a aranha veio tecendo enquanto despencava.
Me aflijo aguardando o baque da queda.
Ela termina de cair e me dou conta de que aranhas não produzem baques quando caem.
Ela está morta.
Morta sem um baque nem qualquer outro anúncio de sua morte.
Me penalizo.
Todo ser vivo merece pelo menos um anúncio de seu fim.
Afinal é um fim, porra.
Quero chorar.
A carranca de meu pai se descortina instantaneamente feito a bandeira do Brasil.
Não chore à toa, ele ralha.
Sei que ele choraria se visse a aranha despencar e morrer sem um baque.

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